Alfabeto Indisposto
Comecei a escrever sobre o Mundo.
E esqueci de escrever sobre o que fui eu.
As palavras se apequenaram diante do que outrora já fui capaz.
Hoje sou a desconexão, e prisioneiro de mim.
Nesse embaralho alfabético, torno-me espaço nas entrelinhas.
Nenhum ponto é final, nenhuma virgula é pausa.
As reticências são constantes, e o pensamento consoantes sem vogais.
As páginas já não são sequenciais, mas não ligo.
Não ligo sobre a barba por fazer, o prato que comer, a rua para correr.
Não ligo. Os outdoors passam rápido demais.
Os jornais não me completam.
Sou apenas as linhas tortas e sabe-se lá, se Deus quer escrever.
Na história do Mundo, sou o analfabeto no universo onde todo mundo é muito letrado,
Alimentado demais pelos egos inflados da pseudo-intelectualidade.
Sou o morador de rua, rabiscando letras desligadas na folha velha de jornal.
Sou a utopia que acredita na interpretação.
No conteúdo e não na capa.
Na palavra e não na imagem.
Sou a frase incompleta que não sabe dizer sobre si
Sou o poeta mentiroso.
O jornalista fantasioso.
O escritor que morre antes de ser famoso.
O livro
O papel e a brochura
E quinhentas páginas de folha a ser escrita por qualquer um na folha em branco.