Pontuando sobre morte e vida
Jamais entendi o temor ante a morte tampouco o da velhice. Vivi e vivo o presente com tamanha intensidade que não me resta tempo para tais considerações.
Quando ante a morte estive o fiz com entrega total em plena tranqüilidade, talvez porque sempre fui muito ativa , uma criança curiosa, inquieta e destemida o que me levou a realizar meus sonhos e para tal havia aprendido a perdoar-me porque para realizar-se enquanto pessoa é preciso fazer escolhas difíceis, muitas dela sem aprovação dos que nos cercam por se tratarem de escolhas pessoais e assim sendo algumas singulares tais como nossa natureza.
No meu entender maturidade não é uma questão de idade e sim de compreensão e aceitação dos limites e das diferenças individuais.
Passei bastante tempo acamada sem ter energia para ler ou assistir à filmes, mas felizmente aprendi desde a infância a apreciar música, sem a qual é difícil existir quiçá dizer estar viva! Sendo a audição um sentido que não descansa e dela me servi inclusive em coma pois ao ouvir os médicos e enfermeiros ao meu redor conversando, mentalmente acompanhei os assuntos e construí estória em torno deles. A mente ágil creio, não necessita de membros fortes, portanto ainda mais serena me coloco diante a fragilidade ou como preferem alguns; decadências, entropia inevitável...
Atualmente meu corpo denso possui algumas restrições; visuais e de locomoção. Tendo que preservar a visão para tarefas cruciais assim como energia física escolho passar algumas horas quieta de olhos fechados ( inclusive nado de olhos cerrados ) ouvindo música e ou em silencio meditando e ou acessando meu banco de dados.
O corpo e a mente são ricos em imagens do vivido e as imagens nos remetem às sensações e releituras destas. Entre os afetos ( percepções) escolho para onde viajar.
Acomodo-me e meu corpo inteiro revive e assim desperta detalhes antes supridos enriquecendo de cor e sensações nas quais todos meu ser envolve-se . É sabido que músculos dos menores aos maiores recebem a tonificação e efeito do que se passa na mente.
Alguns ao me verem apesar do uso do apoio para andar , perguntam se pratiquei dança. Ou seja o passado me denuncia, a postura mantém-se e ao bom observador nada escapa.
Impossível um corpo saber de passos não dados, de águas não navegadas, de experiências não vividas, os músculos possuem memória. É possível nadar, pular, amar, pintar, tecer, escrever ,etc , a partir da experiência e somente assim.
A natureza é sábia. Os alicerces da mente e suas colunas são o corpo. Quando jovens importa que assim o sejam; ossos fortes músculos firmes e flexíveis, órgãos eficientes para que possamos construir o corpo sutil ( mental) saudável.
Sim, com propriedade afirmo que quem não ousou viver teme demasiadamente a morte.
Deixará ela, a morte espaço para vírgulas, reticências, ou os fabulosos pontos de exclamação?