III

Minha casa já era o prelúdio do que viria no porvir: vozes graves ressoavam a meu redor, como que montanhas estivessem se colidindo.

Começava a compreender o paradoxo ao qual gigantes despercebiam, habitando-me, à porta do templo, entre o alvo e o púmbleo.

Mitos, heróis e deuses foram-se morrendo com o mesmo vigor com que surgiram trazidos por outras mãos abnormais.

Era preciso não mais lhes crer os magníficos feitos espraiados aos ventos.

Era preciso que se os tornasse no verbo e no anseio inexequíveis, com as consequências das escolhas diante do espelho fausto.

Era preciso arrebentar os veios matizados pelos grandes atores, e se vestir apócrifo regozijador de imagens em abrigos de grandezas que não me eram de direito.

A imaginação se queimava em qualquer parte do desalinho e começava a me ver destroços na grande capacidade de forjar gêneses cromatizadas com minhas essências degeneradas.

Primeiro naquele pequeno canto próximo ao jardim, onde caçava borboletas e marimbondos. Posteriormente, viria a descobrir que caçaria egos sencientes; e das mulheres, em fome antropofágica, suas delicadezas e sinuosidades, com o poder de minhas palavras purgadas e de minha sensualidade corpórea.

Assumo que, secretamente, inaugurava vidas de lendas estranhas,
em dobras de caminhos onde dissimetrias continham algum vencedor que se naufragava em seu próprio poder.

Começava a perceber que toda vitória contém nada mais que a constatação da própria abnormidade egocêntrica.

Um autocanibalismo invisível começava a me consumir pouco após o início da jornada com fim imprevisível, e uma angústia incompreendida começava a me embrutecer os recônditos convulsivos.

A transformação continuava a se alastrar por toda parte, num enigma não desvendado: a terra se devastava em candidezes mascaradas, homens se açoitavam em reciprocidades verbais, candidezes esperançadas eram estupradas com cortejos alvos, alguns pássaros-negros nasciam e morriam sem provarem dos meles e dos feles das searas férteis, tudo idealizado para me servir, em glórias e inglórias silentes.

Assim, nos ainda incautos das construções ébrias em minha mente,
todas as possibilidades me pertenciam em espuriedades.

Os inefáveis devaneios acabavam tal qual principiavam, inesperadamente, entre as bipolaridades naturais que me colocavam entre céus e infernos: meus.

Assim surgia também a visão de que o mal me era intrínseco e inalienável e de que, no momento certo, deveria assumir que exteriorizações ursas eram insustentáveis.

E este foi o primeiro gole amargo do vinho, após o quê a embriaguez seria inevitável.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 02/10/2013
Reeditado em 11/12/2013
Código do texto: T4507810
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