Pina e Paulo

Esta a história se passa em meados da década de 1970. Onde dois jovens com pouco mais de 20 anos de idade, se conhecem em uma lanchonete localizada na Avenida Alvaro Botelho Maia, em Manaus-AM.

A lanchonete pertencia ao pai de Pina, e Paulo era frequentador assíduo. Grande figura notívago na noite Manauara, responsável por entreter a elite da boêmia, onde se reuniãm para dançar e ouvir músicas de qualidade.

Paulo foi bancário, trabalhou também como teleoperador na extinta TV Baré por um longo período, e então foi parar no ICBEU. Instituto Cultural Brasíl EUA. Onde trabalhou por muitos anos em diversas funções, chegando a se aperfeiçoar na língua inglesa onde domina com clareza.

Paulo apresentava o visual de época. Cabelo comprido, barba longa e era motoqueiro e um grande boêmio. Sempre depois de cumprir o horário de trabalho se deslocava para a extinta casa noturna que se chamava Sígnos, onde exercia a função de discotecário. Nome dado aos DJs daquela época.

Pína era um jovem bancário concursado pelo banco da Amazonia, BASA. E possuía uma extensa coleção de discos de vinil e era aficionado por musica, e sempre sonhou em ter sua própria rádio. Graduou-se em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo e Biblioteconomia. Mas atuou maior parte de sua vida como bancário, e sempre tendo a música e rádio como segundo plano. Onde também, exerceu por mais de dez anos a função de Radialista.

Pina e Paulo então começaram a trocar várias ideias, e ambos possuíam em suas residências estúdios de som com vastas aparelhagens onde reproduziam cópias de vinil para fitas k7, organizavam seus discos, coletâneas a ser tocadas em seus respectivos hobbys.

Pina então conheceu um americano chamado David Jacksson, cujo pai era missionário de uma igreja carismática situada próximo a lanchonete de seu pai.

Jacksson então, já amigo de pina e também admirava toda a história que envolvia esses jovens e a música, lhes apresentou uma forma de como conseguir discos de vinil antes de ser vendido em lojas aqui no Brasíl.

Criaram então a Radio ABC Manaus. Era uma radio fictícia onde só existia na mente desses jovens apaixonados pela música.

Mandavam cartas para diversas gravadoras nos EUA, informando dados na rádio. Consequentemente , para a felicidade de ambos a ideia deu certo. E mensalmente chegava ao endereço fictício da radio ABC, os famosos discos singles. Eram discos promocionais que as rádios americanas distribuíam gratuitamente para as rádios de diversos países com o intuito de mostrar, apresentar novas bandas ou cantor, e todos os discos recebiam uma identificação. Carimbo correspondente a rádio ABC, enfim... E Paulo fazia muito sucesso ao tocar músicas que eram desconhecidas por muitos onde se apresentava.

E por alguns anos receberam milhares de singles de diversos artistas, até que um belo dia essa brincadeira foi longe demais. Já investigados pela falta de existência desta rádio e onde o regime militar imperava no Brasil. Foram descobertos e tiveram que esclarecer perante a policia federal.

Pina o principal mentor, soube como articular essa história. Informou que era um sonho deles ter uma rádio e que tudo isso era apenas uma brincadeira.

Por sorte a policia federal acabou relevando os jovens, liberando-os, e determinou que parassem de continuar com isso, pois era crime e uma nova tentativa poderiam ser presos.

A amizade desses jovens, hoje já com mais de 60 anos de idade e vidas diferentes. Permanecem ainda a paixão pela música e discos, Pina com uma coleção de mais de doze mil discos e Paulo com uma com aproximadamente cinco mil discos. Sempre que se encontram o assunto é sempre o mesmo. E os dois trocam e ganham discos um do outro.

Paulo acabou virando comerciante e todas as madrugadas ao fechar o comercio, coloca suas músicas e toma sua cerveja como terapia.

E em agosto de 2013, Pina, aposentado. Toma uma atitude radical. Deixando mulher, parentes e os filhos crescidos e já formados para viver um grande sonho.

Viver no império do radialismo. Com o conhecimento e contatos que conheceu pela internet. Mudou-se sozinho para o Rio Grande do Sul, onde segundo ele próprio, afirma que além de inúmeras oportunidades, as rádios são levadas com seriedade. Tendo o intuito de crescer ainda mais, com o objetivo e foco total de sua vida ao grande amor pela boa música e seu sonho de ser um grande produtor de uma rádio.

Em homenagem ao meu Pai Francisco Paulo e seu grande amigo Carlos Pina.

Paulo Henrique Oliveira, Brasília DF. 26 agosto de 2013.