Campo Grande - Lisboa
Nasci num tempo, onde a vida
Não era feita nesta correria infernal
Nasci no tempo onde se podia
Brincar na rua, saltando à corda
Jogar à bola, ao berlinde, e até lançar o peão
Sou do tempo de ler o cavaleiro Andante
O mundo de Aventuras
Os heróis Bill the Kid, e o Bufalo Bill
No tempo onde se passeava pelos campos
E se conversava rodeado de doces cheiros
De tranquilidade, e dos lindos pavões
Que em liberdade passeavam pelo
Jardim do Campo Grande
Nasci num tempo onde a natureza
Em cada pequeno pedaço nos oferecia
O prazer de olhar as lindas flores
E onde pares de namorados nos bancos
Do jardim confessavam seu eterno amor
Na braseira da paixão, sem incomodo
Sou do tempo...
Onde não havia comida enlatada
Congelada, e sem sabor
E tenho quase a certeza
Que não havia crianças tão gordas
E de falsa abastança
Nasci antes da informática,
Tantos tinham trabalho
Nem que fosse a cultivar
Aqueles figos, e aquelas ameixas tão gulosas
Que nós miúdos tanto gostávamos
Que bom ser do tempo onde os pêssegos
Cheiravam tão bem
Que bom ser do tempo da fruta saborosa
Ser do tempo onde tudo era descoberta
E nós gostávamos tanto, tanto
Do tempo do nascimento dos Beatles
Do aparecimento das calças de ganga
e dos fatos de veludo
da verdade e da pureza das palavras.
Sei que nasci num tempo de fome
Mas será que hoje esse tempo não existe?
Será que hoje não haverá mais fome
A nova miséria não andará encoberta?
Nesse tempo estava tudo à vista
Tudo era claro, tudo era honesto
Onde a palavra dada valia ouro
Nasci naquele tempo...
Agora a lágrima cai só de nele pensar
Que aconteceu meu Deus!
Estarei tão velha que agora pergunto
Que é feito desse tempo?