Dor
A seção de químio havia deixado mais sintomas que das últimas vezes, ela estava tonta, precisava de ajuda para caminhar. Fazia um calor exaustivo, o sol a pino durante o dia gerava um sufocante cansaço.
A algumas semanas a rotina de tirar fiapos de cabelo da cama e travesseiros a consumia assim como o novo hábito de trocar as roupas de cama todos os dias numa tentativa frustrada de não ver o inevitável.
_ Preciso de um banho. Sussurrou ela.
Peguei uma toalha, ajudei-a se despir, ao colocá-la de pé senti a fraqueza de suas pernas, passei a toalha ao redor de seu corpo e fomos ao banho.
Silêncio total.
A sensação de alívio por estar embaixo do chuveiro naquele calor escaldante colocou em seus lábios um sorriso tímido. Sorriso esse que deu lugar a um olhar profundo de espanto e angustia ao ver e sentir seus cabelos caindo todos ao mesmo tempo.Ela os pegava aos montes e me mostrava com as mãos trêmulas num tom de desespero e olhava pra mim como se pedindo socorro ou como se eu pudesse dar solução ao que estava acontecendo.
O sentimento de inutilidade tomou conta de mim. Os poucos fios que restaram eu os tirei, sua cabeça doía. Terminamos o banho, de volta pro quarto,lençóis limpos, sentou-se na cama e com delicadeza e calma passou as mãos na cabeça. Deitou-se e dormiu um sono pesado. Me reclinei, dei um beijo na sua cabeça agora sem seus cabelos brancos e falei baixinho no seu ouvido:
_ Dorme mãe, descansa.
Não houveram muitas palavras, apenas lágrimas.
Não sei explicar as dela mas as minhas eram de profunda tristeza por não poder estar em seu lugar.