Pintura
Por todas as ruas as escuridão e a magoa se arrastam feito o cachorro leproso que ninguém quer mais. Há dor em seus olhos, mas ninguém consegue ver, eu pinto com sangue, lágrimas de sal que me cortam a retina, em carne viva. Há desertos em brasa para atravessar mas meu corpo não sente nada. é a alma que sofre e tenta se mutilar do ódio e da raiva, com as próprias mãos. eu sou frio e ando na escuridão; minhas vestes pretas e empobrecidas com o tempo saquei do armário para vestir minha alma tristonha; tudo que me vem tem seu lugar;as imperfeições dessa tarde nublada, e as marcas do meu rosto agora. o meu sorriso vencido , as mãos vazias que escrevem de solidão.
Não escrevo versos desenho apenas o que vejo no espelho dessa alma que se arrasta por dentro dessa noite de um outono pobre e desdenhado, quase esquecido se não fosse o corredor imundo dessa noite vazia que me traz atona os inimigos e a madrugada para atravessar desarmado e sem ninguém para sequer ouvir que seja a respiração.
A vida é o desenho mal feito com um pincel seco que esconde os detalhes, que desperdiça tempo, e no meio da escuridão me engole feito o vilão que simplesmente apaga os seus algoses de uma historia sem final feliz.