30º Conto Real-
Enfim a separação
No ano que fiz a cirurgia do útero, no mês de Setembro, não me recordo exatamente o dia, mas foi em setembro de 1987. Então aconteceu que naquele dia , eu já andava um pouco dentro de casa, mas andava.Estava me restabelecendo.Já se haviam passados quatorze dias da cirurgia. Minha mãe ainda se encontrava em minha casa cuidando de mim.Aconteceu que um pouco antes do horário do almoço eu estava sentada num sofá pequeno, que ficava na sala. Lembro-me que estava folheando umas revistas. Mas ainda não estava boa. Meu marido tinha ido ao bar,próximo da minha casa e lógico ,havia bebido algo que contenha álcool , e quando entrou em casa e me viu com as revistas, avançou pra cima de mim , tomou as revistas me maldizendo, e as rasgou em vários pedaços. Eu praticamente não tive reação. Apenas fiquei olhando. Mas a minha mãe presenciou tudo. Após ter feito tudo isso ele saiu. Minha mãe me perguntou se eu queria sair daquela casa, naquele mesmo dia,naquela mesma hora. Respondi que sim. Então ela me pediu que eu pegasse algumas peças de roupa e algum objeto a mais que eu quisesse. Parece que peguei uma bolsa, coloquei algumas peças que eu mais precisaria, peguei os dois álbuns de casamento , pensando em meus filhos , talvez um dia eles quisessem ver. Não sei como a minha mãe ligou para um primo meu , que morava com os seus pais ,meus tios, a irmã da minha mãe, e o marido dela que era meu tio, e pediu que viessem em minha casa pra me pegar e rapidamente contou os fatos. Nesse dia a minha irmã mais nova estava conosco e foi ela quem nos ajudou também. Eu estava como que anestesiada. No momento eu pensava nos meus filhos, sabia que naquela hora eu não poderia levá-los comigo. E foi assim que aconteceu.O meu primo chegou com um carro de bagageiro grande, colocou a minha máquina de costura que era um presente de minha mãe, apanhou umas três bolsas minhas , e colocaram tudo junto no carro.Ao ver esta cena ele começou a esbravejar, tentou impedir a minha saída com toda sorte de impropérios e malediscências. A minha mãe o enfrentou frente a frente e, minha irmã ficava entre os dois. Ela já era uma moça bem forte e não teve medo. Os meus filhos os vi correndo no meio da casa e não podia fazer nada. Não havia reação. Eu estava sendo guiada e não sabia como protegê-los . Deixei-me levar pra casa dos meus tios, que era no bairro paralelo ao que eu morava. Do alto do morro da minha casa via-se o rio que passava em frente a casa dos meus tios. Tive que dar uma última olhada nos meus filhos. Os olhinhos suplicantes me cortavam o coração. Mas naquele momento eu não podia resgatá-los. Não tinha para onde levá-los nem como cuidar deles. Com muita tristeza no coração e na alma, ainda ouvi os gritos dele xingando de nomes feios a mim e a minha mãe. Entrei no carro com minha mãe e minha Irma.Rapidinho chegamos lá. Eu continuava inerte, vazia, triste humilhada , ferida, sem saber o que fazer. Fui recebida muito bem e hoje, apesar dos meus tios já serem falecidos, ainda agradeço a acolhida que eles me deram. Com a ajuda do meu tio, no dia seguinte, minha mãe conseguiu um advogado para nos orientarmos. No período de uma semana a mais eu já estava bem melhor. O que mais me fazia sofrer era ter deixado os meus filhos com o pai . Da casa dos meus tios, eu via os meus pequenos filhos m no alto do morro, pois a minha casa era construída num lugar mais alto, e justamente de lá tinha a visão de toda a parte mas baixa. E dava pra eles me verem , de longe , quando eu ia no quintal da casa da minha tia. Eles me viam, me gritavam. Houve um dia que os três vieram descendo o morro escorregando e atravessaram o rio. Ainda bem que estava bem baixo, mas aproveitei para dar um abraço neles.Mas o meu amor de mãe era muito grande , e eu me sentia transtornada. Pedi a eles que voltassem e não fizessem mais aquilo, que logo as coisas resolveriam e eles viriam morar comigo , em Itambacuri. Depois de seguir as orientações do advogado, de pegar um laudo com o médico que me operou eu voltei com minha mãe pra Itambacuri. Isto por que minha mãe havia ido pra lá por minha causa, mas a casa dela estava a me esperar.Vim então morar com minha mãe.Mas o sofrimento ainda não havia acabado. A minha luta estava apenas começando, pois o que veio a seguir foi muito sofrido. Continuo no próximo conto.
Autora: Margareth Rafael