JUÍZO FI LIAL

Sem raízes, sem chão ,

Sem afeto...

Sem família, sem filhos,

Sem netos...

Sem alegria, sem amor,

Só dor...

Nada pelo que viver

Ou lutar!

Não obstante, esta vida

É uma desdita constante,

Que me lembra, a cada instante,

Que é preciso continuar!

Que o tempo passe depressa,

É tudo o que posso almejar.

Parece-me longo, no entanto,

Esse meu tempo restante;

Vazia e angustiante

É a jornada deste nada

Que só veio a fracassar,

Apesar de tanto lutar...

Dos fracassados desejos,

Só um, comigo, resiste:

É o desejo de alcançar

Uma razão ou coerência,

Para a dura penitência

Desta ausência que persiste...

Sob o peso intolerante

Desta familiar balança,

Julgamento e condenação

É tudo que me alcança

Sem o necessário elo,

Entre castigo e flagelo,

Às vezes até me rebelo,

Mas vazia de esperança!...

Desprovida de alegria

Vou levando a vida a esmo;

Sem conseguir ser eu mesmo,

Sem dar tudo que eu queria...

Sob o peso do desprezo

Das pessoas mais queridas

Contra mim mesma, eu peco!

Sem auto-estima e guarida...

Sem rumo, sem prumo, sem eco,

Paraliso a minha vida!

Sob o peso desta lei,

Dura lei, devo dizer,

Sequer posso ser resultado

De tudo quanto passei...

Minha vida vale nada

E nada é o que a idade me traz...

Aliás,

Isso ninguém quer saber!

Eis a desdita, a desventura,

Desta mãe, avó, criatura,

De todas, a pior!

Sem espaço, sem lugar;

Sem sentido, sem vez, sem voz...

E quanto mais distante,

Melhor!

Desde um passado recente,

Em que me obrigaram a calar

Até o momento presente

Em que, nem me é dado falar,

Sou triste sobrevivente

De tudo quanto se tente,

Conivente ... e convenientemente,

Criticar... Condenar... Descartar!

Nos tempos de hoje em dia,

Quem diria!

Perdão, tem um só endereço,

Merecido e agradável.

Pra tocar a vida adiante

Mãe é melhor, bem distante;

Mãe virou ser descartável;

Mãe não precisa de apreço!

No tribunal dos meus erros,

Poucas vezes, por mim, permitidos,

Incluindo também os acertos,

Amordaçados

E há muito, esquecidos...

Eis o juízo filial:

CONIVENTE...CONVENIENTE... FATAL!

Do muito que quis...

Do tanto que fiz...

Do nada que sou..

Do pouco

Que ainda espero...

Amor e Tolerância:

Zero!

Eis tudo

O que me restou!...