CAUSOS DE FAMILIA: UM FRAGMENTO DA MINHA HISTÓRIA
Atualmente ensino sobre o Antigo Testamento - livros históricos, cujo conteúdo se dá a partir de quem, quando, como e onde foram escritos os livros que o compõe, quais as razões para isso. Além da abordagem das tradições que escreveram os a Tanah, que contém o Pentateuco (a Toráh), os livros dos profetas anteriores, os livros dos profetas posteriores e os livros externos, que compõe o Antigo Testamento judaico; o Antigo Testamento Cristão Protestante, que é dividido em (Pentateuco, Livros Históricos, Livros Poéticos, Livros Profetas Maiores, Livro dos Profetas Menores); o Antigo Testamento Cristão Católico que além desses, estão inclusos os livros de Tobias, Judite, Eclesiásticos, Sabedorias, I e II Macabeus), também conhecidos como Apócrifos. Trabalhamos os conteúdos sobre as quatro tradições que são responsáveis pelo o que hoje conhecemos como Antigo Testamento.
Sabemos que a tradição oral foi um dos meios fundamentais para história de Israel fosse contada, principalmente quando se fala do princípio que se instalou em Abrão e que depois passou a chamar-se de Abraão por determinação de Deus. Estabelecemos as datas o mais próximo possível dos acontecimentos, a fim de, compararmos relatos descritos no AT e a cronologia. É algo apaixonante.
O que isso tem haver com a minha história? Durante anos ouvi relatos das histórias experenciadas pelos meus antepassados, como eles viveram, o que fizeram, como ganhavam à vida, curiosidades interessantíssimas. Hábitos e costumes que foram sendo passados de uma geração para outra. Algumas coisas eu não compreendia, como por exemplo; por que eles casavam entre si, e a resposta era para que não se misturassem com outras famílias, etc., e, isso aconteceu até recentemente com meus bisavos que eram primos legítimos. Descobri finalmente que era descendente de judeus tanto por parte de pai como por parte de mãe. E isso era notório entre os judeus, pois era-lhes proibido casar com pessoas de outras nações. A evidência histórica aponta para uma ordem de Deus, pois os povos circunvizinhos eram politeístas e, portanto, considerados idolatras.
Pois bem, esclarecido esse ponto, o fato mais curioso era que a minha bisavó Maria Amélia não tinha nada da Amélia cantada por Ataulfo Alves. Era alguém destemida, lutadora, uma leoa capaz devorar qualquer um que tentasse invadir seu espaço, e atentar contra a vida e os interesses dos seus.
Sua história tem altos e baixos, mas uma delas é tragicômica e a data de um dos episódios que contarei a seguir de sua vida, se dá em torno de 1905.
Certo dia, casada há pouco tempo, com apenas uma filha e grávida do meu avó, seu marido chegou em casa, próximo ao meio-dia, e estava bêbado. Ela estava tratando da carne que comeriam no almoço com uma faca que ela chamava de “o americano”, e não lembro a razão disso. Daniel (nome do marido), sem que ela percebesse, deu-lhe um murro nas costas. Ele era um homem alto, forte, bonito, (louro e de olhos azuis), e Maria Amélia era o inverso, (baixa estatura, morena clara, cabelos escuros). O que Maria Amélia fez no momento seguinte com “o americano” é de arrepiar. Quando ele novamente tentou agredi-la novamente com o punho, o murro foi direto no gume do americano. Contava ela que a força do ato e o local onde cortou (nas artérias do pulso), o sangue respingou na parede. Foi um horror!
Houve gritos, e em fim, a vizinhança invadiu a casa, e acudiram Daniel, amarraram seu braço com corda até que o médico chegasse para pontear. Quando Daniel se viu provisoriamente atendido, novamente tentou agredi-la. Dizia Maria Amélia, que olhou atrás da porta e viu um pedaço pau, e não teve dúvidas, largou na cabeça dele; só então, percebeu que tratava de um cano de ferro. Diante da cena, ela largou tudo o que estava fazendo, pegou a minha tia de pouco mais de um ano, e foi embora para a casa dos pais.
Mais curioso, ainda, foi que ao bater a porta da casa da sua mãe, estavam todos esperando a hora do almoço quando ela entrou. Um dos seus irmãos quando a viu, sua pergunta: “se está desfeiteada não entre, só depois que for vingada”, ao que ela respondeu: “não precisa, basta mandar um médico”. Nessa época, uma senhora de respeito jamais sairia de casa a essa hora, e todos sabiam que se tal acontecesse, seria por um motivo muito sério.
Maria Amélia quis abandonar o marido, mas a turma do “deixa disso”, ou seja, a família insistiu para que ela voltasse, e como uma mulher casada não era respeitada, e ainda ficava “mal falada”, ela voltou para Daniel ainda que contra a sua vontade. Outro fato curioso dizia respeito aos hábitos alimentares deles, que tomavam o desjejum às 6.00 horas da manhã, o café às 09.00 horas, o almoço entre as 14 e 16 horas, e jantar às 20 horas.
Maria Amélia casada com Daniel viveram juntos por longos por longos e amargos anos, dos quais nasceram 11 filhos, dos quais 7 morreram no primeiro de vida, e dos 4 que conseguiram sobreviver, um deles era o meu avó Gumercindo. O resto da história fica para outra vez. Mas, mesmo em meio de tantas dores, há uma boa história que vale a pena ser contada, e que servem de exemplo para que futuros descendentes não a repitam. Então, a máxima, “conheça seu passado, para não repeti-la no futuro” ainda é válida.