Diários de um atormentado [Parte 2]

11 / 12 de Abril de 2013

Estou centrado. Sei que não cumpri a proposta de escrever este diário dia sim dia não, mas tenho objetivos cada vez mais claros. Dormi bem nas últimas noites. Terça tive aulas e aproveitei para sondar a minha possível banca de exame. Fiquei muito contente ao saber que a professora convidada deve ser uma socióloga que é membro do projeto de investigação do qual faço parte na Faculdade de Educação. Isto me colocou numa zona de conforto bastante ambígua. Por um lado, terei uma pessoa com a qual já estabeleci uma relação de confiança e que parece gostar do meu trabalho. Por outro, sinto-me impelido a trabalhar ainda mais para ter certeza que vou estar à altura do que se espera do meu trabalho de mestrado.

O prazo ainda é algo que me incomoda mas a tormenta tem concedido lugar à serenidade. Não é exatamente esperança. Esperança beira impossíveis, metas distantes ou muito sacrificantes. Estou ciente de que não se trata aqui de sacrifícios, impossibilidades ou distâncias (não mais ou novos). É uma questão que se criva mais à disciplina, que me falta e cuja ausência eu sinto em toda parte.

Terminei a leitura que considero fundamental para o trabalho. A relação escolar em Charlot está dada. Agora é esmiuçar o que ele disse no vasto campo da minha mente e digerir o material que tenho face às demais leituras. Percebes? É um projeto executável, possível. A meta de dormir, ou melhor, de acordar mais cedo só se concretizou hoje. Foi ato falho nos dois dias anteriores a hoje.

Encerrei meus trabalhos de campo, enfim. Dá-me um certo alívio isto, também. Houve aqui qualquer frustração temporal. A aluna tinha pressa, pouco tempo, precisava retornar às aulas. Tenho certeza que poderia ter recolhido mais dados, as falas dela poderiam se exprimir com mais profundidade, mas não houve chance. Esperava há muito para encerrar este trabalho, não podia correr mais riscos de adiá-lo. Há conteúdo, está latente e ardente. Incomoda-me e isto ameniza a dor da perda. Perda daquilo que eu poderia ter ouvido a mais para posteriormente dar sentido.

Depois de altos e baixos na relação de orientação, o que se assume natural no processo, sinto agora minha orientadora cada vez mais próxima – nunca esteve de verdade longe, meio que o contrário - e essencialmente cúmplice. Está mais descontraída, por mais exigente que seja (e o é), o que corrobora meu novo estado de espírito.

Tenho tempo para pensar outras questões que não a tese - no banho, ao menos! A quantidade de sonhos ainda não se está diminuta. Na noite passada foram outros quatro ou cinco numa espécie de sessão de curtas. Sinto vontade de escrevê-los, acredito no potencial deles enquanto roteiro, mas meu Alzheimer não me permite concretizar este projeto. Interrompi as atividades mais cedo ontem para assistir uma aula espetáculo de Suassuna. Valeu a pena. Fez-me rir, senti-me descontraído e aprendi sobre um ufanismo até então desconhecido.

Metas seguintes? Manter esta serenidade pelo menos até a próxima sessão de escrita. Continuar a executar as tarefas, ao invés de roer as unhas fazendo contas e somando datas. Gastrite não deve ser uma boa forma de se perceber vivo!

A trilha da noite é O Teatro Mágico, outro elemento de coerência da serenidade, corroborando a emergência desse sentido no meu ser. Só enquanto eu respirar, eu vou escrever. Próxima sessão deve considerar a data de hoje (comecei a escrever num dia, terminei no outro – das 23 e tantas até a madrugada), 12 de Abril. É preciso readequar, mudar, adaptar. Vemo-nos dia 14, pleno domingo – Será?!

Metatitudes.

Estou sereno – gostava de o ser.

Às 00:13