AS MEIZINHAS E AS FELIZES MEMÓRIAS
Morando em sítios, longe dos centros urbanos, não dispomos facilmente de atendimento médico ou remédios. Portanto, nossos ancestrais ensinaram-nos que valendo-nos dos recursos naturais disponíveis nos arredores das suas moradas poderíamos encontrar tratamento para os filhos e netos, através de chás, curas e rezas.
Quando os bebes tinham uma diarreia esverdeada - “vento caído”, nossas mães e/ou avós faziam a cura dos passos. O bebê era posto na soleira da porta e o pai, o tio ou o avô - o homem da casa ao chegar, antes de entrar, passava três vezes por cima do bebê. Ao final da cura enrolava-o com a camisa até todo o calor da camisa evaporar-se ou esfriar. Nessa cura era transferido para o bebe toda a energia solar, a energia dos ares, dos matos e do próprio corpo do homem absolvida na sua caminhada e trazida nessa camisa.
O leite ferrado era também outro remédio que servia para tratar nossos casos de gripe. Colocava-se uma pedra bem limpa no fogão à lenha. Quando estava bem quente colocava-se no leite previamente fervido e temperado com o pó da papaconha. Deixava esfriar. Esse leite era tomado - uma xícara a qualquer hora do dia.
Para diarreia nossa avó utilizava-se da água de bolacha adoçada. A bolacha de padaria ficava de molho até a água incorporar o gosto do sal. Coava-se a água e adoçava com mel, rapadura ou açúcar. Gostávamos muito desse remédio porque nossa avó fritava as bolachas molhadas para nós que estávamos sãs comer com café, leite ou chá. Acreditamos que a água da bolacha seja o precursor do soro caseiro. Quando tínhamos qualquer indigestão tomávamos o chá de baú feito com uma infusão com raspas da madeira do baú, água fervida e uma pitada de sal. O baú de cedro foi feito em 1919 por Tio Benedito Paulino para compor o enxoval do nosso avô materno José Paulino de Melo. O cedro é uma árvore encontrada na Serra Grande do município de Jucurutu/RN.
O baú era um tipo de mala utilizada pelos nossos antepassados para guardar objetos de valores, comidas, roupas finas e os bordados dos enxovais das noivas e dos noivos. Hoje os baús fazem parte da nossa história para enfeitar quartos. O baú serve principalmente para guardar as memórias – faz um resgate das memórias familiares.
Estando doentes devemos manter uma ingestão de alimentos leves para não comprometer a digestão. Por isso, muitas vezes desejávamos ficar doentes para tomarmos Guaraná Antártica ou Soda Limonada com bolacha Maria ou Maisena. Era a alimentação leve e de fácil digestão que nossas mães nos ofereciam para o tratamento dos nossos achaques infantis.
Os remédios populares - chamados de meizinhas na região Nordeste do Brasil e, que fazem parte nosso folclore - feitos pelas nossas mães e nossos pais, pelos nossos avôs e avós, trazem um pouco da ciência, um pouco das crendices, um pouco de carinho.
O chá de baú e a água da bolacha tem propriedades medicinais. A cura dos passos traz um pouco dos conhecimentos místicos dos ancestrais. O refrigerante e as bolachas traziam-nos a sensação de aconchego e alento para os incômodos que momentaneamente nos afligiam.
Esses cuidados caseiros até os dias atuais povoam nosso imaginário. Porque as meizinhas ainda nos traz um pouco de aconchego e um pouco de magia para o nosso imaginário infantil, propagando e compartilhando, portanto, o cuidado com a VIDA.