O ESPELHO CÔNCAVO OU CONVEXO

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Aquela manhã de dezesseis de junho de um mil, novecentos e cinqüenta e um, que tinha cor de inverno, puxando para azul celeste, Sebastião resolveu acordar mais cedo, já tinha sonhado tudo que tinha direito na noite anterior. Era um verdadeiro festival de sonhos. Terminava um e começava outro, já dentro de outros sonhos. Era o dia do casamento, um sonho para ele. Queria casar com Maria do Carmo para averiguar onde os sonhos desembocavam.

Não tinha como evadir-se, queria casar e ser feliz. O casamento para ele era um sonho que uma vez traduzido se transformava em uma verdadeira seqüência racional e lógica, igual a um corolário matematicamente e formalmente capaz de qualquer dedução.

Sebastião sabia que os sonhos estavam lhe orientado para o caminho de uma realidade certa e que sua capacidade de pensar sozinho iria continuar ao lado da companheira escolhida como uma agulha no palheiro. De modo que já tinha com quem pensar antes de tomar qualquer decisão, quer no trabalho na agricultura, na criação do gado e na educação dos cinco filhos já arranjados antes de casar-se formalmente com outra mulher. Não queria dormir, tendo em vista o Cosmo em termo planetário que tem sua própria rotação e translação, e que jamais a vontade humana poderá detê-lo e/ou modificá-lo, o que deve servir de exemplo para todo e qualquer ser humano racionalmente inteligente, enquanto ser pensante.

O agricultor Sebastião tinha especial compreensão com seus sonhos diante da vida e do espelho côncavo e convexo. Sabia o que era capaz de fazer ou de deixar de fazer. Agia com a mesma responsabilidade que age uma cadela quando está amamentando seus filhotes, na hora certa de amamentá-los sempre os procura. E essa conduta retilínea trabalhava-lhe a imaginação, que não se afasta dos fatos envolvendo sua vida e sua responsabilidade familiar.

Os sonhos, com o casamento com Maria do Carmo vão criando uma outra história, outro enredo, ou nenhum.

E de repente iam tecendo Sebastião, independente dele sonhá-los. Como se as vias de comunicação fossem apenas os trabalhos do roçado, o relacionamento com os seus empregados, a compra e venda de gado, algodão e mandioca, além da educação dos filhos.

De modo que os sonhos estivessem engendrados com o pensamento de Sebastião, que mesmo não sendo portador de diploma de curso universitário, procurou escrever ao seu modo outra história do seu mundo, sem sair dos ditames da lei e dos conceitos sociais, onde ele não seria nascido, mas sonhado, através da realização pessoal e educacional dos seus filhos.

A história universal ou do mundo é uma e outra é a de Sebastião e sua prole. Aí está o sonho se transformando realidade.

Sebastião se levantou aquela manhã, tomou banho, vestiu seu uniforme especial para o casamento e chegando ao meio-dia, já estava casado com Maria do Carmo, e muita festa no Sitio no Engenho Conceição, na zona rural do Sapé.

Era como se tivesse envelhecido para dentro, a fama de namorador que lhe era peculiar, exigia de que o mesmo assumisse integralmente a responsabilidade da vida de casado, evitando assim, que a família da esposa tivesse o falar contra depois e até porque o casamento não tinha recebido a aprovação da família Gomes de Melo.

O casamento o transformou de modo que parecia que tinha havido uma transição molecular periódica, na maneira de falar e de agir em todos os seus atos, é claro sem o abalo gradativo da matéria.

Levantou-se e os sonhos foram se transformando em realidades como um espelho côncavo ou convexo.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 12/03/2013
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