27º conto real-
Enchente em itambacuri-
Eu já estava com a barriga bem crescida no mês de fevereiro de 1979.o bebê logo iria nascer.faltava um mês. Já havia mais de um mês do falecimento do meu pai. Um dia ,no mês de fevereiro,o céu amanheceu bem nublado. Logo começou a chover muito forte. O vento balançava as árvores e os relâmpagos riscavam o céu. Trovões ecoavam sinistramente e eu estava sozinha em casa neste momento. O meu marido não sabia onde ele estava. A chuva caía torrencialmente sobre a nossa cidade. Mais a tarde, umas duas horas por aí, ouvia o povo gritando: a barragem pocou. È que havia duas barragens. Uma pra cima da caixa d’água e a segunda que era mais pra cima ainda. Realmente houve o estouro da segunda barragem. Sinceramente eu não fiquei com medo. Eu já estava acostumada dom tanta coisa ruim que nem pensei no desastre que seria uma enchente na cidade. E a chuva não parava. Ao ouvir os gritos peguei uma sombrinha e fui dar uma olhada na rua. Na minha rua não havia água...só da chuva. Mas na rua acima da minha, de nome vital salvino e toda a baixada estava tomada de água da enchente. Ela viera com tudo. Simplesmente fui até minha mãe .. Mas ela já estava atrás de mim. Ela já tinha mandado alguém levar os meus irmãos menores para abrigar na igreja que fica no morro mais alto da cidade. Então ela mandou que eu fosse logo pra lá também que logo ela iria. Nem lembro mais o que apanhei, só lembrava do meu bebê e comecei a andar em direção a igreja. E olha que é um pouco longe pra ir andando, ainda mais grávida. Mas corajosamente comecei a andar. Obedecia minha mãe cegamente e a respeitava muito. No meio do caminho alguém me deu uma carona. Era um taxista que passava pelo local ,e quis me socorrer. Já na igreja fiquei sem saber o que fazer. Só via pessoas chegando, trazidas por motoristas que levavam as pessoas que tinham entrado água na casa,e , e que foram tiradas com medo de se afogarem. Houve pessoas mais idosas que até subiram em árvores para se protegerem, mas não adiantava. O local mais seguro realmente era na igreja.já estava anoitecendo quando chegou um amigo da família me procurando, que trabalhava na emater, junto com a minha irmã síglia. Fui levada para o prédio da emater, onde foi servido lanche pra mim e meus irmãos. A água nãochegou a invadir a rua que eu morava. À noite mesmo, mais tarde já estav de volta pra minha casa. Meu marido nem soube pra onde eu tinha ido. Fiquei sabendo que ele estava ajudando socorrer as vítimas da enchente. Menos mal.dizem que ele nadava nas águas ajudando a carregar as pessoas. A inundação foi passando e no outro dia amanheceu só aquela lama nas ruas por onde passara as águas. Lamentavelmente a minha irmã mais velha, casada, morava justamente na rua que a enchente passara. A água subiu mais de um metro na sua casa. Todos os pertences dela foram levados de caminhão para casa da minha mãe . Ainda tinha a bomba de tirar água da cisterna ...não lembro se já tinha água encanada e tudo foi lavado com água de lá, da tirada de bomba. Depois foi secando aos poucos, mas recuperou bastante c objetos e móveis. Aos poucos as pessoas voltaram para suas casas e tudo voltou ao normal.tudo voltou a ser como sempre. A vida na casa da minha mãe, a falta que o meu pai fazia, a luta da minha mãe. Todo dia ia lá pra casa dela. Ainda tinha o fogão a lenha e eu gostava de ficar na cozinha olhando o fogo crepitar e a fumaça sair da chaminé. Era tudo tão pareceiido, tão igual, que eu sentia a presença dele na casa toda. Minha mãe arranjava capinadores para cuidar da limpeza do quintal,realmente houve alguns bem caprichosos, que limpavam tudo direitinho, só não havia mais plantações. De vez em quando era plantado um pé de mamão, era feito estaleiro para plantar chuchu , hortas ,pés de goiaba, laranja....minha mãe tentava levar avante o que o meu pai começara ....mas era muito difícil pra ela. Na minha casa eu gostava muito de fazer canjicão com amendoim, arroz doce com canela e sempre levava de tudo numa t tigela bem grande pra meus irmãos comerem. Eles adoravam. O que eu podia ajudar minha mãe eu ajudava. Tinha o maior prazer nisso.o tempo passou e chegou o mês de março. O meu primeiro bebê nasceria logo . Eu estava muito ansiosa...e com muito medo. Faltando uma semana pra nascer o médico falou que teria que ser cesariana pois o bebê não descia para nascer normal. Eu até gostei pois tinha muito medo de ter normal. Preparei todas as roupinhas, o quartinho do bebê, o bercinho com cortinado, a cestinha com produtos de cabelo e pele, estava tudo arrumadinho para quando chegasse o meu primeiro filho. Estava feliz pois eu iria ser mãe. Toda moça quer ser mãe. É uma emoção muito grande misturada com felicidade. Mas deixarei para o conto seguinte o relato do nascimento do bebê. Abraço a todos os leitores.
Autora: margareth rafael