23º Conto Real- 1977-19 anos
-De volta a Itinga –minha terra natal
Nas férias do ano 1977 , esteve em nossa casa para estudar no colégio a irmã da minha mãe por parte de pai, quer dizer, filha do meu avô Clemente Moreira ,do seu segundo casamento. Eleuda já era grande também, acho que da mesma idade minha, não tinha nem como chamá-la de tia. Na verdade sempre fomos amigas. Sua mãe não tinha culpa de nada. Os outros parentes não gostaram do casamento do meu avô com outra mulher, mas a minha mãe não nos ensinou a evitar nem a esposa nem os filhos dela. Ao contrário, eu pelo menos amava passear na casa dela.
O meu avô teve três filhos com ela, duas mulheres e um homem.Então eram os nossos tios.Nas férias de julho Eleuda esteve aqui, e resolvi passear na Itinga. Eu já tinha 19 anos, gostava de viajar e havia muito tempo que não voltava lá. Pegamos o ônibus em Teófilo-Otoni , e só paramos no lado de cá do rio jequitinhonha. Era o rio que cortava a cidade. Pra ir lá do outro lado tínhamos que pegar um barco tipo canoa. Naquela época era assim. Imaginem que hoje- 2013 tem a ponte que o ex-presidente Luíz Inácio da Silva fez, e eue ainda nãoa conheço. Mas pretendo ainda voltar par aconhecer a famosa ponte. Já de mochilas nas costas e bolsas nas mãos subíamos na canoa e sentávamos juntas para ssim apreciar melhor a travessia. Naquele tempo o rio ainda era muito caudaloso, e muito bonito. Olhando o remador com o remo nas mãos ficava observando o movimento da s águas ao longo da passagem do barco pelas mesmas. Naquele dia não tinha muitos no barco e podíamos conversar e sorrir a vontade. Enquanto o barco corria observava as casas que se mostravam do outro lado do rio. Encontrávamos com outros barcos e tudo aquilo me fascinava. Era tudo muito bonito, natural, paisagem linda e rústica ao mesmo tempo. Pescadores na beira do rio com seus anzóis tentavam tirar um pescado do rio. Mais distante, na prainha de água doce , podia ver os garotos jogando bola. Tudo era festa e alegria. Esse é um dos meus contos mais alegres que já escrevi. A viagem de barco durava uns vinte minutos, a distãncia não era muita e o barco avançava rapidamente.
Chegando na margem do outro lado do rio, descemos e fomos andando pelas ruas calçadas com pedras redondas. O sol sempre quente por aquelas bandas não deixava de sentir o calor na pele,e com a ajuda da evaporação da água o mormaço sempre nos deixava com a pele suada. Ao chegarmos foi uma festa. Eleuda tinha irmãos do segundo marido de sua mãe, pois o meu avo já era falecido há anos. Izalina, sua mãe, nos recebia muito bem. O tempero da Izalina era muito bom. O cafezinho com biscoito de goma frito na hora e seu bolo de fubá deixava saudades. Logo após o bano e o lanche deitamos um pouco para descansar. A Eleuda era muito divertida...me fazia sorrir o tempo inteiro com seu sotaque um pouco baiano, pois a itinga é perto da divisa de minas com bahia pelo lado norte de minas. Fiquei por lá uns dias passeando nas casas dos parentes, voltei na fábrica onde nasci, onde tenho as minhas primeiras lembranças , onde tudo começou na minha vida. Nessa época já estav tudo destruído. A antiga casa que eu nasci, junto com mais quatro irmãos , se encontrava abandonada. Penso que algum outro comprador se interessou apenas pelas terras pois a solidão e a devastação era muita. Nada mais restava naquela construção. Ainda pude ver os resquícios das grandes portas e janelas azuis. Não havia mais colorido, não havia mais flores, fumaça na chaminé, minha aia , os peões, o gado, as enormes árvores, o cheiro das comidas , principalmente não havia mais meus pais e meu avê naquele cenário. Parecia que eu tinha vivido um sonho, era como se eu fosse uma fantasia da minha cabeça. Não podia ser....tantas lembranças e agora eu estava diante do nada....até a estradinha que nos levou até lá parecia irreal. Era apenas um caminhozinho estreito que íamos passando e olhando as antigas árvores que embelezavam a entrada da fazenda. Ainda tirei uma foto assim mesmo. Não tive coragem de ir nem onde era o rio que acontecera o episódio da pulseira lilás com a minha irmã Síglia. Da penúltima vez que fui a Itinga , antes dessa vez, o meu irmão Cleiltom tinha ido comigo. Ele era dois anos mais novo que eu, e nessa época ele era bem novo ainda. Tenho a foto da casa até hoje no meu álbum e escaneada aqui no computador. Mas essa vez foi antes dessa ida lá. Já tinha passado uns oito anos quando ele fora comigo. Dessa vez eu fui sozinha com a Eleuda. Então voltamos pra cidade. Neste passeio ainda fomos no sítio da minha tia Júlia , que até hoje mora lá. É a última filha viva do meu avô com a minha avó. Mas há muitos anos que não a vejo. Ela já está com noventa e poucos anos e mora com os seus filhos, meus primos, na cidade e no campo também. Desse passeio me lembro que fomos a uma discoteca, a noite e estava muito bom. Inclusive encontrei e fiz várias amizades. Conheci o irmão da minha ex concunhada salete que se chamava Raimundo e era muito atraente. Houve até uma pequena atração física entre nós mas nada de sério. O problema é que o ex namorado , o do caminhão, e toda a sua família ficou sabendo e foi um problemão na minha vida. Mas como não era nada sério logo eles esqueceram e me deixaram em paz. Bom ...depois de alguns dias voltamos. Esqueci de falar que a minha tia estava estudando na minha cidade, e por isso fomos e voltamos as duas. Voltamos de carona, mas foi tudo bem a viagem . Naquele tempo as caronas ainda tinham seu lugar. Havia mais respeito pelas pessoas. Aquelas férias foram muito boas. Revi a minha cidade natal e pra confessar foi a última vez que fui a Itinga. Pretendo ir lá antes de terminar este livro de contos reais.
foto da ponte feita em Itinga -mg pelo presidente Lula
Autora: Margareth Rafael