CASIMIRO DE ABREU, O ANJO ROMÂNTICO

José Marques Casimiro de Abreu poeta e dramaturgo fluminense (Barra de São João 1839 - Idem 1860), era filho de um rico comerciante e dono de terras no Estado do Rio de Janeiro. Estudou humanidades em Nova Friburgo, mas não chegou a concluir o curso, pois foi obrigado a se dedicar ao comércio. Esse episódio o deprimiu muito. Entre 1853 e 1857 viveu em Lisboa onde encenou sua peça “Camões e o Jaú” que, inclusive, obteve certo êxito, embora Casimiro fosse eminentemente poeta. De volta ao Brasil, novamente foi trabalhar no comércio da família. Em 1859, publica o volume de poesias “As Primaveras” com o apoio financeiro do pai. O poeta, depois que voltou ao Brasil, começou a levar uma vida desregrada. Diante disso, o poeta contraiu tuberculose e veio a falecer com apenas 22 anos de idade. O amor expresso em seus poemas é sempre impossível, platônico e idealizado. A saudade é um sentimento bastante cultivado nos versos do poeta, acentuada pela distância da pátria e da família, assim como o lamento da infância perdida. A grande maioria dos críticos torce o nariz para o trabalho de Casimiro, entretanto, no meu entender, a literatura brasileira deve muito a este poeta terno, delicado e inspirado que deixou seus poemas em apenas um livro. O poeta pertence à segunda geração do Romantismo, denominada Byroniana ou Mal do Século. Fiquemos, portanto, com três raríssimas jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Casimiro.

Três Cantos

Quando se brinca contente

Ao despontar da existência

Nos folguedos de inocência,

Nos delírios de criança;

A alma, que desabrocha

Alegre, cândida e pura —

Nesta contínua ventura

É toda um hino: — esperança!

Depois... na quadra ditosa,

Nos dias da juventude,

Quando o peito é um alaúde,

E que a fronte tem calor:

A alma que então se expande

Ardente, fogosa e bela —

Idolatrando a donzela

Soletra em trovas: — amor!

Mas quando a crença se esgota

Na taça dos desenganos,

E o lento correr dos anos

Envenena a mocidade;

Então a alma cansada

Dos belos sonhos despida,

Chorando a passada vida —

Só tem um canto: — saudade!

QUE É - SIMPATIA

Simpatia - é o sentimento

Que nasce num só momento,

Sincero, no coração;

São dois olhares acesos

Bem juntos, unidos, presos

Numa mágica atração.

Simpatia - são dois galhos

Banhados de bons orvalhos

Nas mangueiras do jardim;

Bem longe às vezes nascidos,

Mas que se juntam crescidos

E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas

Que riem no mesmo riso,

Que choram nos mesmos ais;

São vozes de dois amantes,

Duas liras semelhantes,

Ou dois poemas iguais.

Simpatia - meu anjinho,

É o canto de passarinho,

É o doce aroma da flor;

São nuvens dum céu d'agosto

É o que m'inspira teu rosto...

- Simpatia - é quase amor!

MEUS OITO ANOS

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida

Da minha infância querida

Que os anos não trazem, mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

—Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado,

A vida — um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberto o peito,

— Pés descalços, braços nus —

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

....

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

— Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Enzo Carlo Barrocco
Enviado por Enzo Carlo Barrocco em 08/08/2005
Reeditado em 19/04/2007
Código do texto: T41269
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