Benedita Azevedo - Um caminho de vida
Benedita Azevedo (Benedita Silva de Azevedo) nasceu no dia 10 de maio de 1944, em Itapecuru Mirim, cidade localizada ao norte do Maranhão. É educadora, poeta, escritora, haicaísta e ativista cultural. Formou-se em Letras, é especialista em Educação e pós-graduada em Linguística.
Da infância, guarda as belas imagens das manhãs e de seus pais, seu Eusébio e dona Rosenda, época em que brincava de casinha embaixo da mesa com suas bonecas de pano, subia nas árvores para comer frutas fresquinhas, nadava no rio Itapecuru. Tempo também das brincadeiras com os irmãos, das cantorias para a mãe enquanto se embalava na rede. Benedita sempre foi muito inquieta, persistente, vivia imaginando histórias. Um dia imaginou que o reflexo da luz da máquina de costura fosse o olho de uma alma a observá-la.
Na década de 60, após completar o primário, partiu para a capital, São Luís, determinada a realizar o sonho do pai: ser advogada. Trabalhava de dia e estudava à noite. Casou-se, vieram os filhos. Mudou-se para São Paulo, depois para Blumenau e em seguida para Itajaí, onde se estabeleceu com uma loja de confecções e armarinhos.
No começo dos anos 70, a loja estava indo bem, porém, por conta de um derrame no marido, Benedita viu-se obrigada a abandonar o comércio. A essa altura, o desejo paterno de ver a filha militar na área jurídica diluía-se na mão do destino. No entanto, ela pegou os livros e apostilas nos “Cursos Dr. Blumenau” e estudou sozinha. Prestou vestibular para Letras e Direito, como segunda opção. Classificou-se em ambos, mas por precisar trabalhar urgentemente, optou pelo primeiro. Terminou o Curso de Letras na então FEPEVI, em 1976. Durante a graduação, lecionou em escolas públicas e particulares. Ao mesmo tempo, fazia todos os cursos de extensão promovidos pela faculdade. Foi nessa época que surgiram os primeiros “versos”. Alguns deles apareceram nos jornais O Povo e O Sol. Em 1977, por insistência do marido, resolveu voltar para a terra natal. Depois de dar aula em várias escolas, foi requisitada em tempo integral pelo Marista. Trabalhava aproximadamente 18 horas por dia, conseguindo assim reconstruir o nível de vida perdido com a doença do companheiro.
Em maio de 1980, depois de dez anos de sofrimento, ele faleceu. Nessa época, os filhos estavam com 16 e 17 anos. No ano seguinte, dando sequência à sua trilha acadêmica, Benedita fez especialização em Educação. Dois anos depois, já estava se especializando em Linguística. Seu trabalho nas escolas foi intenso, tinha como marca registrada as oficinas de redações, com as quais estimulava muito seus alunos. Ela sempre usava a escrita como meio de transformação.
Depois que os filhos se casaram, ele, em janeiro, e ela, em dezembro de 1986, a vida moldava um novo rumo para Benedita. Em 1987, mudou-se para o Rio de Janeiro. E em janeiro de 1990, passou a morar definitivamente na Praia de Anil, Magé. No ano seguinte, após cinco anos de afastamento, retornou às salas de aula. Lecionou na Faculdades Renato Cozzolino, na Escola Nossa Senhora da Guia, no Centro Educacional Turma da Mônica e no Colégio Estadual Mauá. Em maio de 1996, sofreu um descolamento de retina em plena sala de aula, fato que comprometeu totalmente a visão do olho direito, mesmo assim, Benedita seguiu trilhando o caminho da licenciatura até julho de 2005, quando se aposentou depois de mais de 45 anos de trabalho.
Em novembro de 2002 foi eleita para membro efetivo da Academia Mageense de Letras. Em 2003, recebeu o título de cidadã mageense, por outorga da Câmara Municipal de Magé, pelos serviços prestados à educação e cultura daquela cidade, tornando-se mageense por direito. Ainda no mesmo ano, ela foi indicada para assumir a tesouraria da Academia Mageense de Letras, no biênio 2003/2004. Em 2005, foi eleita vice-presidente da mesma academia, agora para o biênio 2005/2006. No mesmo ano, fundou o GAALA (Grêmio Aluisio Azevedo de Letras e Artes), com o objetivo de continuar atendendo os alunos após a aposentadoria, e também passou a participar do Portal Cá Estamos Nós (CEN), no qual tem vários livros eletrônicos publicados, participação em antologias e revistas eletrônicas.
Já em 13 de fevereiro de 2006, participou da fundação do ImBrasCI (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais), do qual passou a ser membro fundador. No mês seguinte, teve a honra de ser empossada como membro efetivo da APALA (Academia Pan-Americana de Letras e Artes), assumindo a cadeira de número 12, tendo como patrono Augusto dos Anjos. Tornou-se, então, Diretora Adjunta do Departamento Cultural – Setor Literário. Mais tarde, para atender ao desejo de um amigo, apaixonado pela obra e o autor Augusto dos Anjos, trocou pela cadeira Nº 40 patronímica de Afrânio Peixoto, o introdutor do haicai no Brasil. Participou da Comissão Organizadora do II Encontro do Portal Cá Estamos Nós de escritores luso-brasileiros, evento realizado no Forte de Copacabana em junho de 2006.
Sua relação com o haicai – poema de origem japonesa composto em três versos – começou em 2000 e intensificou-se através dos anos. Ainda em 2006, fundou o Grêmio Haicai Sabiá, instituição dedicada aos estudos, composição e divulgação do haicai. No dia 16 de fevereiro de 2008, fundou o Grêmio Haicai Águas de Março nas dependências da Fundação Roberto Marinho. O ano de 2009 foi marcado pela posse como Presidente da Academia Pan-Americana de Letras e Artes, triênio 2010-2012.
No dia 24 de setembro de 2011, sob a coordenação de Benedita, o então GAALA transformou-se em Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé – ACLAM. Também criou o PROJETO HAICAI NA ESCOLA, através do qual vem fazendo oficinas nas escolas públicas e academias desde outubro de 2004 e já premiou vários alunos no Encontro Brasileiro de Haicai, categoria infantojuvenil, e até no Japão.
BENEDITA AZEVEDO – NA TRILHA DO HAICAI
A relação de Benedita Azevedo e o haicai começou em 2000, quando, a convite de Luís Antônio Pimentel, que completa seu centenário de vida no dia 29 de março de 2012, foi ao lançamento do livro de haicai “Na trança do tempo”, de Lena Pontes, cujo Posfácio trata de “Uma poesia imigrante”. Na ocasião, Benedita ganhou de Pimentel o livro de autoria de Vinicius Sauerbronn, Poesia Budismo Haicai, no qual há um artigo, Gênese do haicai, escrito pelo haicaísta centenário. Com a leitura veio o interesse pela poesia japonesa. Nessa época ela frequentava o Grupo Mônaco, reunindo-se todo sábado, das 10 às 14 horas, na Papelaria Ideal.
Em seguida, leu os livros de Pimentel. Ele então deu algumas dicas sobre conteúdo e forma do haicai, além de indicar o Jornal NippoBrasil, para o qual Benedita passou a enviar seus poemas a partir de 2004, ano em que, entusiasmada, passou a escrever muitos tercetos e publicou seu primeiro livro, distribuindo aos amigos.
À medida que o tempo passava, seu interesse fez com que se tornasse leitora assídua da coluna Pétalas ao vento, de Edson Kenji Yura, e dessa forma, Benedita iniciava o seu aprendizado sobre o haicai clássico. A leitura dos dez artigos escritos por Yura foi fundamental para sua formação haicaística. Só então, passou a escrever seus haicais, sempre usando como tema o kigo – termo que indica um fenômeno da estação. Depois teve a oportunidade de participar do Festival do Japão. Nesse evento, conheceu aquele que a incentivara através da coluna Pétalas ao vento, o Edson Yura, e também Hazel de São Francisco, Douglas Eden e Alberto Murata, os quais a convidaram para as reuniões do Grêmio Haicai Ipê, primeiro e mais tradicional grupo de estudos fundado no Brasil, em 1987, a escola de haicai clássico de Benedita.
Por quase três anos, entre 2005 e 2007, ela frequentou assiduamente as reuniões mensais do grupo. Com a orientação de Teruko Oda, o estudo da obra do Mestre Goga, o rigor formal de Murata, os questionamentos de Douglas, os artigos do Prof. Paulo Franchetti e a disciplina do Edson, Benedita formou uma ampla visão haicaística.
A prática do haicai a ensinou a estar sempre ligada ao ambiente. Em suas caminhadas diárias, sempre leva consigo um caderninho e uma caneta. Nenhum detalhe passa despercebido. Sua dedicação lhe trouxe grande aprimoramento e assim suas vivências logo se transformam em haicais, compostos às vezes de forma instantânea.
A publicação do primeiro livro, Nas trilhas do haicai, veio com a intenção de usá-lo nas oficinas de redação, prática iniciada por ela desde 1977 nas aulas de português, no Colégio Marista do Maranhão.
Ao planejar sua aposentadoria, criou o Projeto Haicai na escola com o objetivo de continuar com as oficinas nas escolas e assim estender o seu trabalho com a palavra.
Além do Nas trilhas do haicai, Benedita já publicou mais outros cinco livros: Canto do Sabiá, Praia de Anil, Gotas de Orvalho, Silêncio da Tarde e Rumor das Ondas. Todos editados pelo amigo haicaísta José Marins, através da editora Araucária Cultural, de Curitiba.
Além de trabalhar nas escolas, Benedita oferece oficinas em Academias de Letras. Dessa prática nasceram o Grêmio Haicai Sabiá, em Magé, no dia 17 de junho de 2006, e o Grêmio Haicai Águas de Março, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 16 de fevereiro de 2008. Diversas antologias já foram publicadas, fruto de reuniões e oficinas promovidas por esses grêmios.
O Projeto Haicai na Escola foi embrião dos grêmios e continua sendo executado, no segundo trimestre de cada ano, mais em função do Concurso Brasileiro de Haicai Infantojuvenil.
Há mais de dez anos, o amor e a dedicação que Benedita Azevedo desenvolveu pelo ensino através das Letras continuam através das trilhas do haicai.
LIVROS PUBLICADOS:
• Marista, 60 anos a serviço da comunidade maranhense (1985);
• Voltando a viver (2000);
• Trajetória (2001);
• Shena e Hércules (infantil, 2002);
• O dia-a-dia de uma professora (2004);
• Nas trilhas do haicai (poesia, 2004);
• Fatalidades da vida (2006);
• Canto do Sabiá (haicai, 2006);
• Praia de Anil (haicai, 2006);
• Gotas de Orvalho (haicai, 2007);
• Novo Desafio (impresso, 2008);
• Silêncio da Tarde (haicai, 2010);
• Rumor das Ondas (haicai, 2010);
• Maldições, Amores e Crenças (em parceria com Demétrio Sena, 2011).
Tem trabalhos publicados em revistas, jornais, sites e em mais de 50 antologias.
PRÊMIOS E HONRARIAS
Benedita Azevedo recebeu seu primeiro prêmio aos 16 anos, em um concurso de redações sobre o dia das mães. Foi classificada em segundo lugar. O texto se perdeu nas várias mudanças pelo Brasil afora. Sua dedicação mais efetiva, à escrita, após a aposentadoria, rendeu-lhe vários prêmios, entretanto, os mais significativos foram nos concursos de haicai:
• 1º lugar no 17º Encontro Brasileiro de haicai, Grêmio Haicai Ipê, São Paulo, novembro/2005:
Dentro do balaio
Enroscados uns nos outros
Filhotes de gato
• 4º lugar no Concurso de Haicai do 28º Festival das Estrelas (Tanabata Matsuri), São Paulo:
Manhã nebulosa –
Tanabatas coloridos
Dão o tom à festa.
• 4º e 9º lugares na 1ª edição do Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, Santos/SP, 2006.
4º lugar:
Dentro da bacia
Boa porção de água limpa –
Sereno da noite
9º lugar:
Caqui, promoção –
Duas freguesas disputam
A última caixa
• 4º lugar na 2ª edição do Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, Santos/SP, 2007:
Noite de inverno –
A tremer sob jornais
Um pobre na esquina
• Menção Honrosa no 27º Concurso Literário Yoshio Takemoto de haicai, São Paulo, 2008:
“Silêncio da tarde”, conjunto de 10 haicais
Silêncio da tarde –
Só o farfalhar das folhas
Na aragem que passa
Este haicai deu nome ao conjunto, continue lendo no link.
http://www.beneditaazevedo.com/blog.php?idb=20867
• Menção Honrosa no 1º Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato, PR, 2008:
Compondo haicai –
Pesquisa sobre Nempuku
Em noite alongada
• Diploma e a Medalha “Henrique Valadares”;
• Diploma e a Medalha Recompensa à Mulher na Maçonaria Fluminense, RJ, 2008;
• 4º lugar na 4ª edição do Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, Santos/SP, 2009:
O céu todo cinza
E o vento levando as folhas –
Ao longe um relâmpago.
• Prêmio Personalidade de Destaque na Literatura, no 8º Fórum Cultural da Baixada Fluminense, 2009;
• “X Prêmio Cultura Nacional” – Talento Literário 2010, Real Academia de Letras – Ordem da Confraria dos Poetas, Porto Alegre/RS – Dentre seus haicais publicados, numa seleção de Celso Pestana, 30 haicais foram inscritos e com eles ganhou o prêmio;
• Rumor das ondas, haicai: recebeu da Câmara do livro a classificação de “Livro medalha de ouro 2010”;
• Medalha de Mérito Cultura “Austregésilo de Athayde, outorgada pela Academia de Letras e Artes de Paranapuã – ALAP, 2011;
• Título de “Dama Grã-Cruz” da Real Academia de Letras – Prêmio Jucá Santos, Porto Alegre/RS, outubro/2011;
• XI Prêmio Cultura Nacional da Ordem da Confraria dos Poetas – Brasil, novembro/2011;
• 1º lugar no V Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, Santos/SP, 2011:
O avô distraído
Leva um banho de orvalho –
Tombo sobre a moita
INSTITUIÇÕES LITERÁRIAS ÀS QUAIS PERTENCE:
• Academia Pan-Americana de Letras e Artes – APALA (Presidente – 2010/2012);
• Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé – ACLAM (Presidente – 2011/2013);
• Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (Membro efetivo);
• Academia de Ciências, Letras e Artes Lusófonas – ACLAL (Membro efetivo);
• Academia Mageense de Letras (Membro efetivo);
• Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais (Diretora Cultural);
• União Brasileira de Trovadores – Sessão / RJ (Membro efetivo);
• Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias/RJ (Membro efetivo);
• Grêmio Haicai Ipê / SP (Membro efetivo);
• Grêmio Haicai Sabiá / Magé/RJ (Fundadora);
• Grêmio Haicai Águas de Março / RJ (Fundadora);
• Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores – Camboriú/SC (Patronesse);
• Poetas Del Mundo – Cônsul de Magé/RJ;
• Portal CEN, de escritores Luso-Brasileiros (Delegada);
• Associação de Poetas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro – APPERJ (Delegada);
• Clube dos Escritores de Piracicaba (Conselho);
• Sindicato de Escritores do Rio de Janeiro – SERJ (Sócia efetiva);
• Centro de Literatura do Museu do Exército e Forte de Copacabana (Membro efetivo);
• Academia de Letras e Artes de Castro/Acre (membro honorário).
Benedita Azevedo – o brilho da alma
Dizem que os olhos não mentem, que os gestos falam mais que mil palavras e que o silêncio vale mais do que uma explicação. Poderíamos usar o olhar, as mãos e a ausência de som para tentar expressar a obra, a vida e a pessoa de Benedita Azevedo. Poderíamos preencher folhas e mais folhas em branco como esta, a qual tenta reunir palavras para unirem-se em frases, parágrafos, textos e mais textos. Qual é a forma de traduzir aquilo que sentimos e desejamos compartilhar? Como resumir em palavras uma história de vida e uma vida de histórias?
Quem conhece pelo menos um pouco da vida de Benedita há de entender. Pessoa de grande inquietação, ela mesma construiu uma história da qual a sua personagem preferida sempre foi a coragem, a persistência e o amor. Na palma da mão, a linha que o tempo não apaga, pelo contrário, continua tecendo fios de luz ao redor dos que a cercam e dos que por ela são cercados.
Desse modo, palavras são mecanismos inúteis, dotados de engrenagens que não produzem sentido. Falar de Benedita é ir além de tal engenharia.
Gostaria que agora as palavras se transformassem e tivessem outra forma, que fossem uma essência, um perfume, e durante a decodificação desse texto se desprendessem e contagiassem o leitor, porque durante toda a sua vida, Benedita Azevedo usou a palavra para contagiar as pessoas e não há mais nenhuma que possa descrever ou contar sua história, pois sua vida já é uma história.
Curitiba/PR, abril de 2012.
Da infância, guarda as belas imagens das manhãs e de seus pais, seu Eusébio e dona Rosenda, época em que brincava de casinha embaixo da mesa com suas bonecas de pano, subia nas árvores para comer frutas fresquinhas, nadava no rio Itapecuru. Tempo também das brincadeiras com os irmãos, das cantorias para a mãe enquanto se embalava na rede. Benedita sempre foi muito inquieta, persistente, vivia imaginando histórias. Um dia imaginou que o reflexo da luz da máquina de costura fosse o olho de uma alma a observá-la.
Na década de 60, após completar o primário, partiu para a capital, São Luís, determinada a realizar o sonho do pai: ser advogada. Trabalhava de dia e estudava à noite. Casou-se, vieram os filhos. Mudou-se para São Paulo, depois para Blumenau e em seguida para Itajaí, onde se estabeleceu com uma loja de confecções e armarinhos.
No começo dos anos 70, a loja estava indo bem, porém, por conta de um derrame no marido, Benedita viu-se obrigada a abandonar o comércio. A essa altura, o desejo paterno de ver a filha militar na área jurídica diluía-se na mão do destino. No entanto, ela pegou os livros e apostilas nos “Cursos Dr. Blumenau” e estudou sozinha. Prestou vestibular para Letras e Direito, como segunda opção. Classificou-se em ambos, mas por precisar trabalhar urgentemente, optou pelo primeiro. Terminou o Curso de Letras na então FEPEVI, em 1976. Durante a graduação, lecionou em escolas públicas e particulares. Ao mesmo tempo, fazia todos os cursos de extensão promovidos pela faculdade. Foi nessa época que surgiram os primeiros “versos”. Alguns deles apareceram nos jornais O Povo e O Sol. Em 1977, por insistência do marido, resolveu voltar para a terra natal. Depois de dar aula em várias escolas, foi requisitada em tempo integral pelo Marista. Trabalhava aproximadamente 18 horas por dia, conseguindo assim reconstruir o nível de vida perdido com a doença do companheiro.
Em maio de 1980, depois de dez anos de sofrimento, ele faleceu. Nessa época, os filhos estavam com 16 e 17 anos. No ano seguinte, dando sequência à sua trilha acadêmica, Benedita fez especialização em Educação. Dois anos depois, já estava se especializando em Linguística. Seu trabalho nas escolas foi intenso, tinha como marca registrada as oficinas de redações, com as quais estimulava muito seus alunos. Ela sempre usava a escrita como meio de transformação.
Depois que os filhos se casaram, ele, em janeiro, e ela, em dezembro de 1986, a vida moldava um novo rumo para Benedita. Em 1987, mudou-se para o Rio de Janeiro. E em janeiro de 1990, passou a morar definitivamente na Praia de Anil, Magé. No ano seguinte, após cinco anos de afastamento, retornou às salas de aula. Lecionou na Faculdades Renato Cozzolino, na Escola Nossa Senhora da Guia, no Centro Educacional Turma da Mônica e no Colégio Estadual Mauá. Em maio de 1996, sofreu um descolamento de retina em plena sala de aula, fato que comprometeu totalmente a visão do olho direito, mesmo assim, Benedita seguiu trilhando o caminho da licenciatura até julho de 2005, quando se aposentou depois de mais de 45 anos de trabalho.
Em novembro de 2002 foi eleita para membro efetivo da Academia Mageense de Letras. Em 2003, recebeu o título de cidadã mageense, por outorga da Câmara Municipal de Magé, pelos serviços prestados à educação e cultura daquela cidade, tornando-se mageense por direito. Ainda no mesmo ano, ela foi indicada para assumir a tesouraria da Academia Mageense de Letras, no biênio 2003/2004. Em 2005, foi eleita vice-presidente da mesma academia, agora para o biênio 2005/2006. No mesmo ano, fundou o GAALA (Grêmio Aluisio Azevedo de Letras e Artes), com o objetivo de continuar atendendo os alunos após a aposentadoria, e também passou a participar do Portal Cá Estamos Nós (CEN), no qual tem vários livros eletrônicos publicados, participação em antologias e revistas eletrônicas.
Já em 13 de fevereiro de 2006, participou da fundação do ImBrasCI (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais), do qual passou a ser membro fundador. No mês seguinte, teve a honra de ser empossada como membro efetivo da APALA (Academia Pan-Americana de Letras e Artes), assumindo a cadeira de número 12, tendo como patrono Augusto dos Anjos. Tornou-se, então, Diretora Adjunta do Departamento Cultural – Setor Literário. Mais tarde, para atender ao desejo de um amigo, apaixonado pela obra e o autor Augusto dos Anjos, trocou pela cadeira Nº 40 patronímica de Afrânio Peixoto, o introdutor do haicai no Brasil. Participou da Comissão Organizadora do II Encontro do Portal Cá Estamos Nós de escritores luso-brasileiros, evento realizado no Forte de Copacabana em junho de 2006.
Sua relação com o haicai – poema de origem japonesa composto em três versos – começou em 2000 e intensificou-se através dos anos. Ainda em 2006, fundou o Grêmio Haicai Sabiá, instituição dedicada aos estudos, composição e divulgação do haicai. No dia 16 de fevereiro de 2008, fundou o Grêmio Haicai Águas de Março nas dependências da Fundação Roberto Marinho. O ano de 2009 foi marcado pela posse como Presidente da Academia Pan-Americana de Letras e Artes, triênio 2010-2012.
No dia 24 de setembro de 2011, sob a coordenação de Benedita, o então GAALA transformou-se em Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé – ACLAM. Também criou o PROJETO HAICAI NA ESCOLA, através do qual vem fazendo oficinas nas escolas públicas e academias desde outubro de 2004 e já premiou vários alunos no Encontro Brasileiro de Haicai, categoria infantojuvenil, e até no Japão.
BENEDITA AZEVEDO – NA TRILHA DO HAICAI
A relação de Benedita Azevedo e o haicai começou em 2000, quando, a convite de Luís Antônio Pimentel, que completa seu centenário de vida no dia 29 de março de 2012, foi ao lançamento do livro de haicai “Na trança do tempo”, de Lena Pontes, cujo Posfácio trata de “Uma poesia imigrante”. Na ocasião, Benedita ganhou de Pimentel o livro de autoria de Vinicius Sauerbronn, Poesia Budismo Haicai, no qual há um artigo, Gênese do haicai, escrito pelo haicaísta centenário. Com a leitura veio o interesse pela poesia japonesa. Nessa época ela frequentava o Grupo Mônaco, reunindo-se todo sábado, das 10 às 14 horas, na Papelaria Ideal.
Em seguida, leu os livros de Pimentel. Ele então deu algumas dicas sobre conteúdo e forma do haicai, além de indicar o Jornal NippoBrasil, para o qual Benedita passou a enviar seus poemas a partir de 2004, ano em que, entusiasmada, passou a escrever muitos tercetos e publicou seu primeiro livro, distribuindo aos amigos.
À medida que o tempo passava, seu interesse fez com que se tornasse leitora assídua da coluna Pétalas ao vento, de Edson Kenji Yura, e dessa forma, Benedita iniciava o seu aprendizado sobre o haicai clássico. A leitura dos dez artigos escritos por Yura foi fundamental para sua formação haicaística. Só então, passou a escrever seus haicais, sempre usando como tema o kigo – termo que indica um fenômeno da estação. Depois teve a oportunidade de participar do Festival do Japão. Nesse evento, conheceu aquele que a incentivara através da coluna Pétalas ao vento, o Edson Yura, e também Hazel de São Francisco, Douglas Eden e Alberto Murata, os quais a convidaram para as reuniões do Grêmio Haicai Ipê, primeiro e mais tradicional grupo de estudos fundado no Brasil, em 1987, a escola de haicai clássico de Benedita.
Por quase três anos, entre 2005 e 2007, ela frequentou assiduamente as reuniões mensais do grupo. Com a orientação de Teruko Oda, o estudo da obra do Mestre Goga, o rigor formal de Murata, os questionamentos de Douglas, os artigos do Prof. Paulo Franchetti e a disciplina do Edson, Benedita formou uma ampla visão haicaística.
A prática do haicai a ensinou a estar sempre ligada ao ambiente. Em suas caminhadas diárias, sempre leva consigo um caderninho e uma caneta. Nenhum detalhe passa despercebido. Sua dedicação lhe trouxe grande aprimoramento e assim suas vivências logo se transformam em haicais, compostos às vezes de forma instantânea.
A publicação do primeiro livro, Nas trilhas do haicai, veio com a intenção de usá-lo nas oficinas de redação, prática iniciada por ela desde 1977 nas aulas de português, no Colégio Marista do Maranhão.
Ao planejar sua aposentadoria, criou o Projeto Haicai na escola com o objetivo de continuar com as oficinas nas escolas e assim estender o seu trabalho com a palavra.
Além do Nas trilhas do haicai, Benedita já publicou mais outros cinco livros: Canto do Sabiá, Praia de Anil, Gotas de Orvalho, Silêncio da Tarde e Rumor das Ondas. Todos editados pelo amigo haicaísta José Marins, através da editora Araucária Cultural, de Curitiba.
Além de trabalhar nas escolas, Benedita oferece oficinas em Academias de Letras. Dessa prática nasceram o Grêmio Haicai Sabiá, em Magé, no dia 17 de junho de 2006, e o Grêmio Haicai Águas de Março, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 16 de fevereiro de 2008. Diversas antologias já foram publicadas, fruto de reuniões e oficinas promovidas por esses grêmios.
O Projeto Haicai na Escola foi embrião dos grêmios e continua sendo executado, no segundo trimestre de cada ano, mais em função do Concurso Brasileiro de Haicai Infantojuvenil.
Há mais de dez anos, o amor e a dedicação que Benedita Azevedo desenvolveu pelo ensino através das Letras continuam através das trilhas do haicai.
LIVROS PUBLICADOS:
• Marista, 60 anos a serviço da comunidade maranhense (1985);
• Voltando a viver (2000);
• Trajetória (2001);
• Shena e Hércules (infantil, 2002);
• O dia-a-dia de uma professora (2004);
• Nas trilhas do haicai (poesia, 2004);
• Fatalidades da vida (2006);
• Canto do Sabiá (haicai, 2006);
• Praia de Anil (haicai, 2006);
• Gotas de Orvalho (haicai, 2007);
• Novo Desafio (impresso, 2008);
• Silêncio da Tarde (haicai, 2010);
• Rumor das Ondas (haicai, 2010);
• Maldições, Amores e Crenças (em parceria com Demétrio Sena, 2011).
Tem trabalhos publicados em revistas, jornais, sites e em mais de 50 antologias.
PRÊMIOS E HONRARIAS
Benedita Azevedo recebeu seu primeiro prêmio aos 16 anos, em um concurso de redações sobre o dia das mães. Foi classificada em segundo lugar. O texto se perdeu nas várias mudanças pelo Brasil afora. Sua dedicação mais efetiva, à escrita, após a aposentadoria, rendeu-lhe vários prêmios, entretanto, os mais significativos foram nos concursos de haicai:
• 1º lugar no 17º Encontro Brasileiro de haicai, Grêmio Haicai Ipê, São Paulo, novembro/2005:
Dentro do balaio
Enroscados uns nos outros
Filhotes de gato
• 4º lugar no Concurso de Haicai do 28º Festival das Estrelas (Tanabata Matsuri), São Paulo:
Manhã nebulosa –
Tanabatas coloridos
Dão o tom à festa.
• 4º e 9º lugares na 1ª edição do Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, Santos/SP, 2006.
4º lugar:
Dentro da bacia
Boa porção de água limpa –
Sereno da noite
9º lugar:
Caqui, promoção –
Duas freguesas disputam
A última caixa
• 4º lugar na 2ª edição do Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, Santos/SP, 2007:
Noite de inverno –
A tremer sob jornais
Um pobre na esquina
• Menção Honrosa no 27º Concurso Literário Yoshio Takemoto de haicai, São Paulo, 2008:
“Silêncio da tarde”, conjunto de 10 haicais
Silêncio da tarde –
Só o farfalhar das folhas
Na aragem que passa
Este haicai deu nome ao conjunto, continue lendo no link.
http://www.beneditaazevedo.com/blog.php?idb=20867
• Menção Honrosa no 1º Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato, PR, 2008:
Compondo haicai –
Pesquisa sobre Nempuku
Em noite alongada
• Diploma e a Medalha “Henrique Valadares”;
• Diploma e a Medalha Recompensa à Mulher na Maçonaria Fluminense, RJ, 2008;
• 4º lugar na 4ª edição do Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, Santos/SP, 2009:
O céu todo cinza
E o vento levando as folhas –
Ao longe um relâmpago.
• Prêmio Personalidade de Destaque na Literatura, no 8º Fórum Cultural da Baixada Fluminense, 2009;
• “X Prêmio Cultura Nacional” – Talento Literário 2010, Real Academia de Letras – Ordem da Confraria dos Poetas, Porto Alegre/RS – Dentre seus haicais publicados, numa seleção de Celso Pestana, 30 haicais foram inscritos e com eles ganhou o prêmio;
• Rumor das ondas, haicai: recebeu da Câmara do livro a classificação de “Livro medalha de ouro 2010”;
• Medalha de Mérito Cultura “Austregésilo de Athayde, outorgada pela Academia de Letras e Artes de Paranapuã – ALAP, 2011;
• Título de “Dama Grã-Cruz” da Real Academia de Letras – Prêmio Jucá Santos, Porto Alegre/RS, outubro/2011;
• XI Prêmio Cultura Nacional da Ordem da Confraria dos Poetas – Brasil, novembro/2011;
• 1º lugar no V Concurso Nacional de Haicai Caminho das Águas, Santos/SP, 2011:
O avô distraído
Leva um banho de orvalho –
Tombo sobre a moita
INSTITUIÇÕES LITERÁRIAS ÀS QUAIS PERTENCE:
• Academia Pan-Americana de Letras e Artes – APALA (Presidente – 2010/2012);
• Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé – ACLAM (Presidente – 2011/2013);
• Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (Membro efetivo);
• Academia de Ciências, Letras e Artes Lusófonas – ACLAL (Membro efetivo);
• Academia Mageense de Letras (Membro efetivo);
• Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais (Diretora Cultural);
• União Brasileira de Trovadores – Sessão / RJ (Membro efetivo);
• Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias/RJ (Membro efetivo);
• Grêmio Haicai Ipê / SP (Membro efetivo);
• Grêmio Haicai Sabiá / Magé/RJ (Fundadora);
• Grêmio Haicai Águas de Março / RJ (Fundadora);
• Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores – Camboriú/SC (Patronesse);
• Poetas Del Mundo – Cônsul de Magé/RJ;
• Portal CEN, de escritores Luso-Brasileiros (Delegada);
• Associação de Poetas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro – APPERJ (Delegada);
• Clube dos Escritores de Piracicaba (Conselho);
• Sindicato de Escritores do Rio de Janeiro – SERJ (Sócia efetiva);
• Centro de Literatura do Museu do Exército e Forte de Copacabana (Membro efetivo);
• Academia de Letras e Artes de Castro/Acre (membro honorário).
Benedita Azevedo – o brilho da alma
Dizem que os olhos não mentem, que os gestos falam mais que mil palavras e que o silêncio vale mais do que uma explicação. Poderíamos usar o olhar, as mãos e a ausência de som para tentar expressar a obra, a vida e a pessoa de Benedita Azevedo. Poderíamos preencher folhas e mais folhas em branco como esta, a qual tenta reunir palavras para unirem-se em frases, parágrafos, textos e mais textos. Qual é a forma de traduzir aquilo que sentimos e desejamos compartilhar? Como resumir em palavras uma história de vida e uma vida de histórias?
Quem conhece pelo menos um pouco da vida de Benedita há de entender. Pessoa de grande inquietação, ela mesma construiu uma história da qual a sua personagem preferida sempre foi a coragem, a persistência e o amor. Na palma da mão, a linha que o tempo não apaga, pelo contrário, continua tecendo fios de luz ao redor dos que a cercam e dos que por ela são cercados.
Desse modo, palavras são mecanismos inúteis, dotados de engrenagens que não produzem sentido. Falar de Benedita é ir além de tal engenharia.
Gostaria que agora as palavras se transformassem e tivessem outra forma, que fossem uma essência, um perfume, e durante a decodificação desse texto se desprendessem e contagiassem o leitor, porque durante toda a sua vida, Benedita Azevedo usou a palavra para contagiar as pessoas e não há mais nenhuma que possa descrever ou contar sua história, pois sua vida já é uma história.
Curitiba/PR, abril de 2012.
Alvaro Posselt
Enviado por Alvaro Posselt em 07/04/2012
Código do texto: T3599152
Classificação de conteúdo: seguro
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