EM BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA
Desde o ano de 1997, quando fui admitido como paciente no Hospital Sarah de São Luís, vinha buscando melhorar a minha qualidade de vida no aspecto físico.
Em maio de 2011, ao iniciar mais uma etapa do meu tratamento clínico, descobri durante as seções de fisioterapia, através da fisioterapeuta Camila, que eu poderia frequentar o Centro Comunitário do Hospital, o CCO, e lá encontrar o que vinha buscando para complementar minha qualidade de vida com atividades ocupacionais.
Apresentei-me ao CCO em um momento altamente favorável para os objetivos que eu buscava. Fui recebido pela coodenadora Lelia e pela professora Herika. Conversamos, elas me apresentaram os projetos do CCO, com o quais logo me identifiquei. De imediato fui integrado na elaboração de uma Oficina de Pipas para crianças da comunidade vizinha, que ia começar. Era tudo que eu estava almejando.
A Herika elaborou toda a programação, na qual fui incluído com a tarefa de pesquisar sobre o assunto.
Neste período, eu estava fazendo fisioterapia, buscando melhoras para minha lesão lombar. Diante de tão valorosa oportunidade, fiz uma programação pessoal que conciliasse as duas atividades. As terças, de 8h30 às 9h30 ia ao CCO me reunir com a Herika, lhe apresentar as pesquisas e receber dicas sobre a Oficina. Das 10h às 11h ia para a fisioterapia. Casamento perfeito.
Quando começou a Oficina de Pipas passei a ir ao CCO também às quintas feiras de 15h às 17h, participar dos trabalhos. Realizei-me, revivi a minha infância, reaprendi a fazer pipas de vários modelos. Convivi com as crianças, escutei suas historias e passei a conhecer melhor as propostas do CCO do Sarah. Tudo isto me motivou, me fez muito bem.
A conclusão da Oficina de Pipas foi linda. Teve um festival no jardim, com a participação da equipe do CCO, minha, das crianças da comunidade, alguns pais e crianças internadas no Hospital, acompanhadas dos seus terapeutas. Foi um momento único, uma experiência extraordinária.
Logo a seguir, mais uma vez motivado pela equipe do CCO, iniciei um novo trabalho desta vez com a bibliotecária Sônia. O trabalho escolhido foi escrever sobre as minhas memórias de vida. Iniciamos os trabalhos no mês de agosto, nos reunindo às quintas feiras de 9h30 as 11h para organizarmos os meus escritos, fazer correções, escolher temas e selecionar fotos.
Este trabalho mais uma vez me deu a oportunidade de fazer uma bela terapia ocupacional, viajar sobre minhas fases de vida. A Sônia esteve na casa onde nasci, conheceu minha mãe, hoje com 87 anos, fez várias fotos, as quais fizeram parte do trabalho que resultou nesse bolg(www.memoriasaguiar.blogspot.com.br) , construido com a ajuda da Sonia e da Lelia. Tudo muito bem planejado e organizado.
Em paralelo com o trabalho de memórias, vou ao CCO buscar livros e fazer leituras, enfim, mais uma terapia ocupacional. Neste item tenho tido o apoio e incentivo da professora Valdirene que também me ajudou a organizar um texto sobre a fábrica de sabão Carioca, que ficava no terreno onde hoje é o Hospital Sarah.
Tenho sido muitíssimo bem acolhido no CCO por toda a equipe. O CCO passou a fazer parte da minha rotina de vida.
Através dos trabalhos feitos no CCO, conheci outras pessoas que trabalham no Hospital Sarah. Uma delas foi a enfermeira Joelma que me convidou para participar de trabalhos voluntários em comunidades carentes, com Oficinas de Pipa em comemoração ao dia dos pais. Pude conhecer de perto as várias realidades sociais em que vivem crianças e pais. Cada uma dessas comunidades tem um centro comunitário. Um belo trabalho feito pela Joelma, seu esposo Jacob e outros membros participantes.
Todo este conjunto de trabalhos me abriu um horizonte muito grande. Hoje leio mais, passei a fazer algumas pesquisas e me integrei a um grupo de voluntários que ajudam o sr. Benedito (Bimba), morador aqui do bairro Monte Castelo e como eu, paciente do Hospital Sarah. Ele é portador da doença de Parkinson, mora só. Tem sido muito gratificante ajudar ao próximo.
Após seis meses frequentando o CCO não tenho dúvidas que encontrei o espaço que procurava assim como concluí que associar tratamento clínico com terapias ocupacionais faz muito bem. Aqui no Sarah temos tudo isso, precisamos valorizar e aproveitar esses serviços.
Está acontecendo tudo certo, no momento certo, no local certo e com as pessoas certas. Objetivos sendo alcançados. Pretendo fazer muito mais.
Hoje na minha casa criei um pequeno ambiente, um mini escritório, onde desenvolvo os meus trabalhos sempre procurando me manter ocupado com assuntos construtivos.
Registro outro momento importantes para minha qualidade de vida. Estive internado no Hospital Sarah de 05/10 a 06/10 e de 10/10 a 26/10/2011 na Enfermaria 3, para tratamento cirúrgico e alguns outros procedimentos, tendo transcorrido tudo muito bem. Lá, tive a oportunidade de conhecer grandes profissionais que trabalham em perfeita sintonia e grande senso humanitário, vi o tratamento igualitário que é dado a todos, vi muita solidariedade e um ambiente muito saudável incluindo as terapias ocupacionais que nos são oferecidas. Vi também uma grande organização com procedimentos perfeitos em todos os setores.
E as crianças deficientes? Para mim elas são especiais. Conheci várias. Como eles são realmente especiais!
Parece um paradoxo, sinto saudades do período de internação. Além do tratamento clinico vivi bons momentos, conheci pessoas e fiz algumas amizades. Teve um momento muito prazeroso, vários pacientes tomaram café juntos lá na área externa da enfermaria. Nos apresentamos, nos confraternizamos e alguns, como eu, combinaram fazer contato e sempre que possível nos encontrarmos.
Perdemos algumas capacidades físicas, mas ganhamos muitas outras capacitações. Entre elas: a fé, o desenvolvimento espiritual, cultural, social e outros. É lindo e grandioso ver pessoas sendo ajudadas, se ajudarem cada uma a seu modo, pessoas se superando. Esta é a grande chave que o hospital Sarah nos dá. Não importa o que perdemos, importa o que ficou e o que ainda podemos descobrir. Por isto saibamos aproveitar e reconstruir com bons pensamentos e boas ações as nossas vidas.
Agradeço a Deus, ao Hospital Sarah, ao CCO, minha esposa e filhos pelas contribuições que me oferecem neste novo momento da minha vida.
Meu grande foco passou a ser minha qualidade de vida, consequentemente da minha família e daqueles que fazem parte do meu convívio.
"Tudo que existe e vive precisa ser cuidado para continuar existindo. A essência da vida humana precisa continuamente ser alimentada. O cuidado vive do amor, da ternura, da caricia e da convivência" (Boff, 1999).
Este capítulo foi transcrito de um outro trabalho que fiz sobre as minhas memórias que se encontra no meu blog .