A ESCOLHA PROFISSIONAL
 
  • PROFESSORA, OU ENFERMEIRA, OU PATOLOGIA.
 
 
“A profissão de mulher tem que ser professora, pois pode trabalhar um turno e o outro cuidar da família!”.  E foi com esta decisão, que minha mãe, aos treze anos me matriculou no INSTITUTO DE EDUCAÇÃO GASTÃO GUIMARÃES, onde cursei o magistério, mas “minha vontade na época”, era fazer enfermagem  ou patologia. Graças a DEUS e minha mãe, não fui para área de saúde, visto que, hoje reconheço que não suportaria acompanhar o sofrimento das pessoas. Mas, percebo  que mainha,  queria me dizer nas entrelinhas, que embora ela trabalhasse tanto, e não tivesse o tempo necessário  para o filho,  eu e minha irmã, não queria que acontecesse a mesma coisa com a geração seguinte, em especial comigo, pois a decisão em relação a minha escolha profissional, foi dela, e não minha, naquele instante em que a influência na decisão, era muito mais de cunho afetivo, para está perto das amigas, que fariam outro curso e em outra escola, do que certeza em relação ao que de fato eu queria, mainha foi sábia, quando decidiu, iluminada por Deus, pois hoje amo tudo o que faço, apesar das dificuldades encontradas pelo caminho.  Mainha era a pessoa mais cheia de esperança, que eu já conheci na minha vida, ela vislumbrava, sonhava, com uma família perfeita. No fundo, creio, queria muito ter mantido o casamento, ter sido feliz ao lado do meu pai, ter dado mais atenção a gente, porém, a ocupação para garantia do sustento, não permitiu o aconchego do colo materno em momentos que muito precisamos dela, mas o trabalho a ocupava demais.
 
Nada é por acaso.
Hoje, revivendo o passado, lá da minha infância e fase criança, e mais ainda na adolescência, me vejo desde cedo na atuação docente. Na minha casa, sempre teve muitos livros, e eu lia muitos deles, recordo-me mais das histórias e fábulas infantis ( MONTEIRO LOBATO); das poesias de CECÍLIA MEIRELES (coletânea OU ISTO OU AQUILO), GONÇALVES DIAS e  CASTRO ALVES. Enquanto faxinava a casa, minha mania desde cedo,  organizava o acervo literário da minha mãe, selecionava os meus interesses e sempre lia antes de dormir, bem como, aproveitava esta seleção durante o diurno,   brincando de escolinha junto aos amigos de infância, ou junto aos amigos imaginários. Eu gostava  dos poemas que minha mãe  lia  e escrevia no quadro de giz  para os alunos de banca ( Colar de Carolina, Tanta tinta, Bolhas, Leilão de jardim, A bailarina, As meninas, A língua de nhem, A avó do menino,  A flor amarela, enfim, tantas poesias que me falham a memória.  Apesar de gostar tanto de brincar de escolinha,  no espaço onde minha mãe dava banca , por vezes me questionava pela minha casa, eu via as cenas das vizinhas faxinando uma casa, não uma escola. Sempre falava quando ficava nervosa: “Eu saio da escola que estudo e entro em outra escola, não tenho casa!   Mas, no fundo eu gostava de reunir  amigos em volta das mesas baixinhas, cadeiras pequenas, declamar os textos, solicitar que escrevessem o que  compreenderam e explicar o que compreendi, só não tinha que ser ali, no meu lar.
 
A escola banca acabou

Aos nove anos tive uma infecção na raiz de um dente, enquanto um entre vários “dentistas” que minha mãe me levou não descobria, eu sofri muito, a infecção foi generalizando, tomou garganta, estômago, vias urinárias, o que culminou em uma anemia que  debilitou muito minha estrutura física, eu não conseguia mastigar os alimentos e não me alimentava direito por causa da sensibilidade dos dentes. De tanto mainha pedi a DEUS, foi diagnosticado o foco, e fui tratada da forma correta, porém, enquanto doente eu pedia com dor na alma, que não queria ninguém fazendo barulho, que eu queria uma casa de verdade. Minha mãe acabou as aulas de banca, e DEUS foi iluminando a nossa vida de tal forma, que tudo foi se organizando, sem que ela precisasse outra vez abrir mão da nossa sala de visita. Assim, aprendi que tudo tem um preço, ou isto ou aquilo, ou fazia enfermagem, ou patologia, ou magistério; ou minha mãe abria mão da escolinha ou o meu psicológico continuaria questionando pela casa. Aprendi que muitas vezes avaliamos as escolhas pelo que vale a pena, minha mãe ficou ao meu lado, o dentista profissional também, pois percebeu que não tinha como manter o dente naquela situação, resolveu extrair apesar dos riscos que eu corria, precisava aliviar ador sentida, mas não abriu mão de continuar tratando de minha saúde bucal . Aprendi, que nunca devemos abrir mão das nossas convicções, pois foi no caminhar extensivo e intensivo, que encontramos Doutor Julinho, e este ciente do que sabia, investigou e apresentou um diagnóstico preciso e rápido.  Uma mãe quando luta pela vida de um filho, não desanima, e mesmo que se desespere, vai atrás até que dentre várias possibilidades encontre o melhor caminho. Os outros “dentistas”, infelizmente eram charlatões, a solução que achavam era extração, perdi dentes sem que a cárie fosse visualizada, pois eu apontava para o dente que  recebia as irradiações do dente com foco, e eles retiravam, sem responsabilidade alguma, não tiveram ética humana, preferiram ganhar o dinheiro de várias  extrações do que encaminhar o caso para um especialista. Então, com as lutas diárias, aprendemos que o viver é uma tarefa difícil, mas não é impossível trilhar sua rota, e hoje estou aqui, viva para contar a história. Eu que pedia a minha mãe que não rezasse para eu ficar boa, que rezasse para eu descansar em , pois não suportava mais tanta dor. DEUS só realiza os pedidos, quando eles são sonhos de esperança e de fé, DEUS ouviu quem tinha fé, a minha mãe. Mesmo sem o espaço para me sentir incentivada a ser professora, o estímulo de minha mãe e as raízes plantadas na infância afloraram dia a dia, concursada, sou hoje coordenadora de uma escola da rede pública municipal, prestes a aposentadoria
 
 
 
 
 
Cada um tem uma  missão.  
 
 
A minha eu creio, pelo que venho analisando ao longo destes escritos, é manter viva a alegria de viver por meio do contato com as pessoas, do diálogo aberto que eu sempre concedi a todos que se aproximaram e se aproximam de mim, por meio da escuta sensível, que identifica as carências humanas, do olhar generoso, que acolhe, que busca compreender as causas, mesmo que não encontre soluções, e isto causa desolação, pois para tudo deveria ter um jeito, até para morte.  As questões sociais e econômicas mexem com meu fazer infinito, isto me leva a uma direção de indignação que aflora sentimentos dolorosos, que preciso trabalhar em mim. Não aceito tantas mazelas socialmente construídas, não aceito a fome, a falta de condição da população com a qual convivo em meio ao meu trabalho. Não aceito a falta de luta de muitos pais em relação a decisão dos filhos e filhas, muitos se perdem no caminho por falta de amor, por falta de uma família que cuide, ou melhor de uma mãe ou de um pai que assuma as responsabilidades frente as crianças e adolescentes vulneráveis.
 
Leah Ribeiro Pinheiro
Enviado por Leah Ribeiro Pinheiro em 04/01/2013
Reeditado em 03/01/2018
Código do texto: T4067623
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.