Uma estrela que brilha- Minha Mãe                

 Minha mãe, sempre fervorosa, ajoelhava e orava, católica praticante, nunca perdeu a missa aos domingos, quando eu ainda era criança e adolescente ela ministrava aulas de catecismo, crisma, orientava a vocação matrimonial para casais, ministrava cursos de batismo e fazia parte do grupo de legionárias, prova da fé que sempre teve  em Nossa Senhora.
Professora, sempre batalhou para garantir o alimento na mesa, afinal, sustentar três filhos sozinha, nunca foi fácil para quem sempre desenvolveu  atividades que não tem o devido valor, assim, além de ministrar aulas numa escola da rede pública municipal, orientava estudantes em suas dificuldades cognitivas em casa, minha casa foi transformada em uma escola e isto mexeu muito com meu emocional,pois não conseguia identificar onde era meu lar, minha sala, minha cozinha, neu banheiro, e por muito tempo, qual era minha cama, já que dormíamos, na mesma cama, eu, mainha, minha irmã e meu irmão, até meus dez ou onze anos de idade.
Lembro-me de uma época em que o governo municipal atrasou o salário dos professores por seis  meses consecutivos, foi um momento horrível, aumentou e muito a jornada de trabalho de minha mãe,  ela  fazia bonecas de corda; jarros forrados com  pó de serra, numa base de papelão para colocar as  flores ,confeccionadas também por ela; costurava; fazia lanches para vender (bolos, pastéis, banana real, casadinho de queijo, pão de queijo, doces) ; enfim, o que fosse necessário para ir comprando alguma coisa até o salário sair, foram momentos terríveis, de muita luta e sofrimento, pois mesmo com tantos afazeres para suprir as necessidades,  ainda assim,  em alguns momentos faltava o básico, para manutenção da vida .Eu dormia altas madrugadas, ou boleando as pétalas  das  flores, ou montando algumas flores, e quando não tinha os arranjos,  antes  de ir à escola (pela manhã)  eu fritava  as peças de salgados,  sempre ali, companheira, eu  não  deixava  minha mãe sozinha. Deus abençoou e  mainha  conseguiu um contrato efetivo pelo estado, cuja carga horária quarenta horas, e posterior a isto foi promovida, ocupou o cargo de diretora escolar  por meio do  governo municipal, na época era possível unificar a carga horária  em uma única  escola, portanto, acumulou sessenta  horas (três turnos), unificando para tanto o trabalho pelo  estado e município. Período que ficamos , eu , meu irmão e minha irmã, praticamente a deriva, pois não tinha um adulto para nos orientar, eu não compreendia, apesar das dificuldades, achava que ela também estava abandonando a mim e aos meus irmãos, como fez meu pai, pois não abriu mão das atividades da igreja, assim, até os sábados e domingos (meio turno) ela dedicava o tempo nestas atividades religiosas, mas sempre existe um anjo para proteger  os pequeninos e  quem aparecia sempre carregada de novidades,  e passava dias e dias com a gente era voinha,  entretanto, ela não podia o tempo todo abandonar a própria  casa, e por perceber diversas situações que colocavam a minha irmã muito pequena,  em situação de risco, resolveu  levá-la para cuidar  melhor, afinal, ainda muito menina, eu  não tinha maturidade para zelar dela. Com o passar do tempo, eu fui compreendendo que minha mãe  batalhou  sem o companheiro, ela tentou com erros e acertos compensar a falta do laço paterno rompido quando  ainda  éramos muito vulneráveis, mas  não tinha como dar conta de tanta coisa só, ia fazendo o que podia e joelho no chão para que todos fossem protegidos, assim nos criou, pelo exemplo de trabalho e oração!
Percebe-se,  que em meio a necessidades financeiras, tudo mais vai ganhando um nó, um entrave, ver a filha sendo cuidada pela mãe , foi bom, mas não deixou de marcar  a alma de minha mãe e de minha irmã, sinto pelas consequências  desta relação interrompida na infância... O fato de ficar muito tempo sozinha enquanto minha mãe trabalhava, também não gerou em mim um sentimento amistoso, assim, a vida foi passando, e eu imaginava ter filhos, constituir família, o medo de não prover junto ao companheiro o cuidao devido, me impedia de gerar um filho.Foi com muito medo que eu trouxe ao mundo meu Vinícius e minha Nathália, e ainda hoje, peço perdão por ter submetido e ainda submeter a uma vida que eu julgo , poderia ser melhor.
Minha mãe, psicologicamente afetada, nunca conseguiu, por mais que desejasse estabelecer laços afetivos, não conseguia vivenciar a palavra justiça na relação com os filhos e entre os filhos, creio que a vida amarga que sempre teve , a fez perder a delicadeza da vida, sinto-me ferida por sua forma de viver junto a família, especialmente no que diz respeito as orientações para com os filhos, não soube ensinar a solidariedade, a divisão de tarefas,  o amor . E por mais que este entrave me ensine a lição, de lutar contra o machismo estrutural, não consegui de fato, colocar em prática com meu filho e filha.
Portnto, o que deveria ter aprendido de fato?Que lutar contra o sistema excludente que impõe direitos e deveres, nem sempre conseguimos romper.Que é difícil romper barreiras sobre a quem compete deveres numa sociedade de desiguais.
Desta relação entre eu e meu irmão e irmã,  a dor e o desafio de tentar não ser igual a mainha, no aspecto de proteger um em detrimento do outro. Muito triste, chorava e consolava minha dor na companhia da minha vó, durante as férias.Buscava aprender com minha vó valores em detrimento aos que na minha mãe eu não admirava. 

Aprendi que a falta de dinheiro e a decepção amorosa não tira o brilho de quem acredita em Deus  e em si mesmo.Apesar dos pesares, mainha é um exemplo de vida, pois a fé fez dela uma guerreira.
Na relação com o mundo, é necessário que cada pessoa  aprenda a lição do bem comum, da divisão de tarefas, do amor ao semelhante, de colocar-se no lugar do outro sempre. e isto deve começar na família, entre s pares, nas tarefas mais simples.

                                                                          Beijos!

                                                            Leah Ribeiro Pinheiro.

 

 
 


 

Leah Ribeiro Pinheiro
Enviado por Leah Ribeiro Pinheiro em 02/01/2013
Reeditado em 18/10/2021
Código do texto: T4063340
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