DESILUSÃO

Sabe, já estou com 34 anos.

Fiz minha primeira boca de urna para o PT, para o Lula aos 10 anos, com meu pai. Com camiseta comprada por meu pai, adesivos no carro comprados por meu pai, bandeira idem...Meu pai tinha uma Kombi e estava emprestada para o sindicato a semana inteira, no final de semana ele próprio a utilizava para as campanhas, com gasolina do dinheiro dele.

Ele até comprou um amplificador e uma corneta pra campanha.

Éramos idealistas.

Filiei-me aos 17 anos, assim que a lei me permitiu, 1989, ano de um nº de festas sem fim!

Trabalhava em uma eletrônica durante o dia e à noite terminava o 1º grau em um colégio da cidade. Saia do colégio quase 23:00, corria para o diretório municipal para ajudar da forma que me permitissem. Fechando mala direta, fazendo silk em camisetas... Por volta das 2 horas ou algum dos amigos do meu pai me levavam pra casa ou meu pai me buscava no diretório.

E claro, continuei comprando as camisetas de meus candidatos, adesivos, estrelinhas, etc...Acreditava mesmo que ajudava gente que iria nos ajudar.

Foi um ano exaustivo! E chorei como nunca quando o Lula perdeu, briguei com vários vereadores, achava que eles estavam preocupados demais com os próprios umbigos e achava que podiam ter feito mais pela campanha do Lula!

Fiquei até muito tarde da noite do dia daquela eleição na garagem municipal, fiscalizando contagem de votos. Todo o cansaço, todo o esforço daquele período desabaram em meus ombros aquele dia.

Fiz inúmeras outras campanhas, adorava isso, acreditava que iria colocar gente no poder que só veria o lado da gente! E me divertia muito também com gente que eu admirava demais!

Nunca pedi favor nenhum pra ninguém e claro que assim também me achava no direito de discordar ou concordar com a tendência que eu quisesse, quando eu bem quisesse... Meu pai sempre foi bem radical, acreditava que a bandeira tinha que ser tingida de sangue pra que algo bom acontecesse e ele estava dispoto a qualquer coisa, mesmo uma guerrilha.

Isto me fazia sonhar em ir pra Cuba pra estudar lá, pra treinar guerrilha, pra estudar o socialismo. Meu pai nunca deixou eu ir!

Passaram-se os anos, cada dia menos eu estava presente no diretório, e ainda assim defendia o PT e acreditava que eram os melhores...

Até que o Celso morreu, fiquei chocada... Não tive sequer coragem de ligar pra ninguém pra perguntar nada! Nem sobre o que sabiam, nem sobre o que pensavam.

Continuei votando no PT. E cada hora uma sujeira maior era causa de sofrimento, quem me conhece há muito tempo é testemunha de minha tristeza.

Eu, na última eleição para presidente anulei meus votos. Com uma dor enorme no coração. Nunca havia sequer sonhado com tal situação, não ter ninguém pra votar , ninguém em que eu acreditasse.

Também acredito que ainda tenha gente honesta e séria no PT. Talvez a prova disso seja a existência do nosso Suplicy. Mas antigamente eu brigava com qualquer um que falasse o contrário, hoje não posso!

Meu e-mail mais antigo é patipetista porque foi criado em uma época que além de romântica eu era idealista. Criei outro e-mail e numa ocasião liguei pra uns amigos antigos e surpresa minha, o pai deles não se lembrou da Patrícia, mas quando eu disse, a Pati do Campestre, ainda nada, então eu arrisquei a pati que era petista, aí sim ele exclamou:

-Claro pati, desculpas, é que aqui no nosso Solar, só falamos de você como Patipetista!!!

e deu uma sonora risada .

Desisti ficar testando a memória do povo, adotei de vez Patipetista, assim ao menos nunca esquecerei tudo que vivi!