O Vigia da Torre de Babel
No cume de uma torre, um vigia observa o vai e vem da vida e dos passos finos que pisam e passam, pisam e passam em ovos de cristais. Uma miséria triste está perturbando sua alma. Um ciúme que martela o prego da angústia de desejar conhecer algo, como conhecem todos aqueles lá de baixo . Pensa que o maior dos conhecimentos que para eles é possível tocar, é a insensatez humana de achar que um dia poderão conhecer genuinamente alguma coisa. Mas mesmo assim os inveja. Sente um profundo desejo de escrever sobre algo, mas na mente lhe falta algo tão digno. O real saber não está na mente dos que pensam, pois os que pensam só estão fadados a pensar infinitamente. Assim como os que compõe poesias estão fadados a compor eternamente, uma vez que jamais encontraram as exatas palavras que os expressem.
Conduto, pensa consigo, mesmo os que caminham pelo símbolo do infinito, que é infinito, pois não há fim nem começo, talvez com sorte, haja um meio; caminham com algum sentido. Devotam sua busca infinita à alguma coisa. Só pode ser assim, pois todavia, os pensadores pensam, e por isso - diz a ciência - se desigualam dos que caminham com quatro patas. Não haveria razão de pensarem e caminharem à passos lentos para a eternidade se não fosse dessa forma.
Talvez a grande fornalha que os move esteja fundamentada não na razão - de racional -, mas sim no simples curso espontâneo que a mãe natureza determinou ao nascermos, chamado de Pulsão de Vida pelo Freud, o instinto de simplesmente viver, cogita em seu íntimo.
Mas, mesmo assim seu instinto é condenado à derrota, pois há de chegar a hora em que o símbolo do infinito, do nada, deixará de existir, e então a morte os abraçará.
Agora as coisas mudaram, o mérito da escrita já surgiu. Minha pequena maquineta pensante dá tímidas golfadas de ar. Quem sabe, quando meu senhorio, o tempo, me permitir descer desta torre e desistir de tocar os céus, eu possa abandonar esta estadia segura e miserável aqui em cima, e me dar a honra de pisar e passar em ovos de cristais, pensa consigo o vigia solitário.