Tempo...frgmt. de um capítulo
Toda verdadeira amizade é fruto da "investigação da estrela sem fim" plena de atenção e abertura ao outro, estabelecendo conexões ...
*Para a física atômica, “a natureza essencial da matéria não está nos objetos, mas nas conexões”, como na harmonia musical, que para acontecer reúne em si as notas, que, ouvidas isoladamente, são freqüências de som, vibrando em determinada amplitude de onda. Desta harmonia surge a possibilidade de contemplar a beleza de uma composição musical.*
As uvas e o vento - Pablo Neruda
...Tu perguntas o que a lagosta tece -
Lá embaixo...
Com seus pés dourados.
Respondo que o oceano sabe.
E por quem a medusa espera,
em sua veste transparente?
Está esperando pelo
tempo, como tu.
Quem as algas apertam
Em seu abraço... perguntas...
Mais firme que uma hora e
Um mar certos? Eu sei.
Perguntas sobre a mesa
Branca do narval...
E eu respondo cantando como
Unicórnio do mar, arpoado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei
Pescador...
Que vibrou nas puras
Primaveras dos mares do sul.
Quero te contar que o oceano
Sabe isto: que a vida...
Em seus estojos de jóias,
É infinita como areia,
Incontável, pura; e o tempo,
Entre as uvas cor-de-sangue...
Tornou a pedra dura e lisa,
Encheu a água-viva de luz...
Desfez o seu nó, soltou
Seus fios musicais...
De uma cornucópia feia
De infinita madrepérola.
Sou só a rede vazia diante dos
Olhos humanos na escuridão...
E de dedos habituados à longitude
Do tímido globo de uma laranja.
Caminho, como tu, investigando
A estrela sem fim...
E em minha rede, durante
A noite, acordo nu.
A única coisa capturada
É um peixe...
Preso dentro do vento
Investigando a estrela sem fim...
E foi assim...
Conversando com o amigo cineasta Juan Delpino que me hospedava na Urca e uma recém conhecida ali mesmo no Garota da Urca que o conheci...
Enfadei-me com o rumo do colóquio pois, havia saído do tema pensamento e cinema. Desta forma distraí-me olhando os peixes no aquário e meu pensamento emudeceu como estes, eis que além do aquário meus olhos viram no fundo do bar, sentado escrevendo, um rapaz vestido com uma camiseta branca, despojado, cabelos negros. Nossos olhares se cruzaram, retornei aos peixes e novamente percebi que o rapaz ergue os olhos em minha direção; pensei é um poeta!
Retornei ao estado de esvaziamento da mente...
Quando dei por mim o rapaz estava ao meu lado e disse, -“ Não sei como tive coragem de vir falar contigo.” . Respondi com uma pergunta – és poeta, escrevias versos? ? Ao que respondeu-me- “ não sou físico cosmólogo, estava fazendo cálculos de física.”
Disse-lhe, então com a seriedade das crianças- “ a Física e os cálculos , para mim também são Poesia!
E, foi assim que em abril de 1986 conheci o que veio a ser o amigo mais íntimo no sentido de proximidade anímica.
Bem saímos do Garota da Urca( bar) e conversando como se nos conhecêssemos por toda existência, caminhamos pelas ruas deste bairro belíssimo, sentamo-nos na pracinha, nos envolvemos num abraço em que os dois corpos de tão enroscados pareciam um, respiramos junto não era sexual o prazer mas sensual no sentido literal, inteiro tântrico.
Madrugada madura ele deixou-me no apartamento de Delpino dizendo que seria um grande prazer se eu mudasse para seu apartamento visto termos tantas afinidades e tamanha vontade nossas memórias atualizar .
“A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente.” - Albert Camus
Na manhã seguinte, cedo fui à praia vermelha, mas antes passei na rua Almirante Gomes Pereira para dar um alô ao Luiz, meu amigo físico. Ele sonolento não hesitou em receber um abraço e confirmar seu convite. E foi assim que mudei-me para a mística rua com perfume de jasmim e na qual era possível ouvir um piano executado com grande maestria nas madrugas ...
Luiz tinha uma biblioteca impressionante em quantidade e qualidade , estavam ali alguns de meus autores prediletos além das obras completas de Nietzsche, Jung, Freud, Espinosa, C. J. Jung, obras de Física e novas publicações foi então que adentrei na física quântica e atômica ( li em seu apartamento a obra recém publicada , *O Ponto de Mutação de F. Capra ) e sua relação com o pensamento oriental que havia estudado desde a puberdade e dedicado-me a ele na escola de filosofia .
Perguntei-lhe se já havia lido todos ele respondeu-me sim passei dois anos em uma cama de hospital e só podia ler...
“E você ?”perguntou-me ele, ao que respondi - vivi desde os dez anos de idade frequentando bibliotecas e adorava as Enciclopédias, fazia os trabalho de escola de meu irmão ( pesquisa) cinco anos mais velho que eu. Após cada texto havia as referencias e as seguia o que me levava a querer conhecer todos autores, ler seus livros e cada um trazia mais referencias. Abria aquelas mesas enormes e espalhava o maior número de obras possíveis e me perdia no tempo até que o bibliotecário, com óculos de fundo de garrafa, vinha avisar-me que ia fechar o estabelecimento. E assim prossegui lendo, lendo, muitas vezes não entendo os conceitos, buscando dicionários... O que favoreceu meu gosto pela leitura foi também ter vivido longe do dito mundo civilizado, por diversas ocasiões, onde havia silêncio, sem aparelhos de televisão e, nestes retiros da urbe levava malas cheias de livros além de encontrar amantes da leitura que possuíam ótimas bibliotecas nos mais inusitados vilarejos da terra do Pau Brasil.
Hospedando-me , quando ia ao RJ no apartamento do Luiz, tive acesso aos seus trabalhos e manuscritos de seus amigos que passava a ler nas madrugadas enquanto ele quieto como sempre, perdia-se em seus cálculos.
Foram os tempos mais lindos que vivi e, talvez ele tenha sido o único ser humano com o qual compartilhei espaço-tempo sem conflito algum, cada um fazia suas coisas sem conversas a interromper, deixávamos bilhetes um ao outro e por vezes sentávamos e tocávamos afeto.
Íamos às aulas do Prof. Claudio Ulpiano e raras vezes à bares. Eu saía para as aulas e trabalho ele lecionava e trabalhava no CNPQ com horários muito flexíveis. Nossa comunicação prosseguiu como fora desde o primeiro encontro, de forma límpida como cristal, nossos inconscientes travavam conhecimento mútuo além, muito além do que o consciente o poderia.
Passamos três anos sem nos vermos, pois eu entrei de cabeça no trabalho em minha cidade natal no RS, mais de dez horas diárias e em 1989 retornei a dividir o tempo entre o RS e o RJ. Novamente hospedada no apartamento do L. A. O.
Além dos estudos e do trabalho a Urca me proporcionou estar entre “ meus tesouros” amigos com afinidades culturais a orla, uma das mais belas do planeta , o oceano, este visto através do passeio da Urca um privilégio para poucos! Como tornei-me conhecida no bairro a guarda permitiam-me entrar no forte , então nas águas desertas de humanas presenças , nadava, ruminava as leituras, recarregava as baterias, meditava, fluía...
Estes prazeres perduraram até novembro de 1994 pois em abril de 1995 sofri o meu acidente que restringiu minha capacidade locomotora e exigiu-me priorizar e reorganizar minha vida em todas as áreas, familiar, profissional e social. Mesmo com perdas expressivas, lutos e lutas através de telefonemas e da internet com Luiz houve trocas mas nada comparado a presença física, pois que esta nos colocava na freqüência sem interferências.
Entretanto algo interessante continua acontecendo, além de fatos que ora não desejo comentar, coincidências impressionantes acontecem ainda, de alguma forma estamos conectados porque os mesmos autores a mesma busca pelo início de “tudo” nos aproximou, o afeto pelas orlas e por crermos que o sentir tem maior potência que o pensar...
Talvez algum dia continue retorne a detalhes significativos sobre os reconhecimentos, encontros que fazem a diferenças... A paciência é uma de minhas qualidades e seu lado escuro é a morosidade...
O que nos toca profundamente penso seja o mais difícil de colocar em palavras de forma objetiva.
Passados 26 anos ainda é difícil conter as emoções ao compartilhar fragmentos de um dos capítulos mais místicos, líricos que deram origem a outros encontros não menos surpreendentes. .
Nota - Atualmente L.A. Oliveira é curador do Museu do amanhã projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava , exemplo de construção sustentável e servirá como ponto de referência não apenas em arte, mas também em discussões sobre o futuro da humanidade e do planeta, vai tornar o Píer novo cartão-postal obrigatório do Rio será o maior museu de ciência do país localizado na cidade do Rio de Janeiro RJ.
Suas entrevistas podem ser assistidas no
youtube http://www.youtube.com/watch?v=cQ_bkBrKrAs
tx. Publicado no meu blog http://alemmarpeixevoador.blogspot.com.br/2012/12/investigando-estrela-sem-fim-amizade-e.html
em minha coluna no Portal VMD Coluna Considerações http://www.vaniadiniz.pro.br/virginia_fulber/index.htm