Os Orixás adquirem seus poderes
Os Orixás adquirem seus poderes
Numerosos Òrìsà estavam vivendo na Terra recém-criada por Olórun, mas ainda sem terem todos os poderes pelos quais são conhecidos atualmente. Sempre que havia necessidade de o povo fazer coisas importantes e com segurança, rogavam a Olórun ou a Òrúnmìlà, E isso estava desagradando aos Òrìsà.
Certo dia, Òrìsà Oko, conversando com Òsóòsì, disse: "Aqui estamos morando entre os seres humanos. Somos distinguidos? Se o povo necessita de alguma coisa, vai pedir a Òrúnmìlá. Se tivéssemos o conhecimento de algum poder, o povo não iria importunar constantemente Òrúnmìlà." Dizendo isso, resolveu ir falar diretamente com Òrúnmìlà:
"Eu não tenho poderes que me fazem sobressair entre os seres humanos criados por Obàtálá. Você, Òrúnmìlà, que tem acesso direto a Olórun, poderia dotar-me de algum atributo especial. Assim, o povo da Terra viria a mim rogar por socorro em seus momentos de aflição." Òrúnmìlà ouviu atentamente o pedido feito e disse: "Sim, talvez tenha razão nisto. Vou analisar o assunto." Òrìsà Oko partiu e Òrúnmìlà seguiu seu caminho.
Mais adiante encontrou Ògún, que lhe perguntou: "Eu não sou um Òrìsà? Também devo ter poderes. Todas as vezes que alguma coisa importante é pedida pelo povo, este vem procurá-lo. É Òrúnmìlà isso, Òrúnmìlà aquilo. Dê-me um conhecimento especial, de modo que eu possa fazer algo para manter o mundo funcionando." Òrúnmìlà respondeu: "Sim, tenho estado pensando acerca disto. Verei o que posso fazer."
E, assim, seguiu seu caminho, encontrando outros Òrìsà. Èsù, que já tinha conhecimento da linguagem, foi até Òrúnmìlà buscar mais conhecimentos. Sàngó também o procurou; Òsányín foi até ele e, depois deles, outros mais também, todos perguntando e pedindo um poder especial.
Òrúnmìlà estava angustiado. Pensou: "Tenho por todos os Òrìsà a mesma afeição. Se eu der alguma coisa para um deles, os outros certamente irão queixar-se. Tenho muitos poderes para serem divididos. Para quem eu deveria dar este ou aquele poder?" Por causa do assunto surgido, Òrúnmìlà tornou-se arredio, não tocava em nenhum alimento e mal conseguia dormir à noite.
Os dias foram se seguindo e Òrúnmìlà tomava rumo pelos campos, pensativo e analisando a questão de como poderia dividir os poderes entre os Òrìsà sem criar problemas entre eles. E estava pensando nisso quando encontrou Agemo, o camaleão. "Você, Òrúnmìlà, o porta-voz de Olórun sobre a Terra, por que está tão deprimido?" Òrúnmìlà respondeu: "Um por um, os Òrìsà vêm até mim pedir para que eu lhes dê um poder especial, de modo que eu possa aliviar o meu trabalho neste sentido. De fato, estou sobrecarregado de atendimentos e isto seria para mim uma forma de suavizar o meu trabalho. Mas existem tantos poderes, alguns grandes, outros pequenos. Se eu der alguma coisa grande para um, os outros ficarão magoados. Quero tratar todos os Òrìsà com igualdade. Como posso fazer isso de maneira que haja harmonia em vez de discórdia?"
Ouvindo tudo, por algum momento, Agemo pensou e disse: "Talvez seja melhor deixar a distribuição dos poderes à sorte. Volte para o Òrun e depois envie uma mensagem para anunciar que, num determinado dia, você derramará os poderes sobre a Terra. Deixe cada Òrìsà agarrar o que puder. Qualquer poder que um Òrìsà pegar desta forma será dele, então." E concluiu: "Enviando a mensagem você terá dado a notícia, e nenhum Òrìsà poderá dizer que Òrúnmìlà o abandonou."
Diante do que ouviu, Òrúnmìlà relaxou da tensão a que estava sendo submetido, por perceber sabedoria naquelas palavras, assim como a solução para as suas dúvidas. Então, disse: "Agemo, embora você seja pequeno, seu nome será grande. Farei exatamente o que me diz." Em seguida, retornou ao Òrun a fim de preparar a distribuição dos poderes. E enviou a seguinte mensagem na direção da morada de cada Òrìsà: "No quinto dia após este, vocês deverão se dirigir ao campo livre de Ilé Ifè. Os poderes serão espalhados do alto e todos deverão agarrar o que puderem. Dessa forma, tudo irá depender de cada um." Todos os Òrìsà concordaram, agradecidos, enaltecendo a sabedoria de Òrúnmìlà na distribuição dos poderes.
No quinto dia os Òrìsà seguiram para o local determinado e aguardaram. Do alto começaram a surgir sons estranhos acompanhados pelo movimento agitado da brisa que pairava sobre todos. Foi nesse instante que os poderes começaram a cair do Òrun. E todos começaram a correr para aqui e acolá com as mãos estendidas. Enquanto um agarrava um poder, outro pegava o que podia. Alguns poderes escapavam de suas mãos e caíam na relva ou sobre as árvores.
A correria era grande, com os Òrìsà procurando em todas as direções. Uns eram mais rápidos que outros. Os mais ágeis e enérgicos conseguiram pegar maior número de poderes. Mas todos receberam alguma coisa.
Èsù foi dos mais persistentes, e não exitou em empurrar quem estivesse por perto; por causa disso pegou grande parte dos poderes, entre eles o de ser guardião do Àse de Olódùmarè e o transportador das oferendas votivas. Em face disso, os Òrìsà e os seres humanos, dali em diante, passaram a tratá-lo com respeito especial e procuraram evitar tornar-se seu inimigo.
Sàngó, através do que conseguiu apanhar, tornou-se o dono da pedra, do relâmpago, adquirindo o título de Jàkúta, o arremessador de pedras. Mais tarde, quando assumiu o reino de Òyó, veio a ser denominado Oba Jàkúta.
Sànpònná veio a ser o senhor das doenças, em especial a varíola; Òsányin adquiriu o conhecimento do uso litúrgico e medicinal das plantas; Òrìsà Oko tornou-se o senhor da fartura das colheitas; Ògún ficou com o poder do uso dos metais.
Assim, cada Òrìsà recebeu a sua parte dos poderes do Òrun, como forma de beneficiar os seres humanos através de pedidos e invocações.
CONCLUSÃO:
A busca de poderes pelos Òrìsà lembra que todos os seres são portadores de poderes e que todos esses poderes são dados pelo Ser Supremo. Não se admite a passividade com o intuito de aguardar que o sucesso e as coisas boas da vida caiam nas mãos sem esforço algum. É preciso operar nesse sentido, com ações que objetivem despertar todos os poderes existentes no ser humano.
NOTA:
Òrìsà Oko: divindade tutelar da agricultura e da fertilidade da terra.