A SAGA DO SENHOR JOAQUINZAO E DONA MIGUELINA
Nos idos dos anos 70, com as incertezas vivenciadas pela sociedade bonfinopolitana, minha memória traz à tona a saga da família de Joaquim Cardoso de Moura e dona Miguela Soares dos Santos (dona Miguelina).
Ele, um senhor negro de grande estatura, natural do município de Ubaí – MG, contador de piadas e que apreciava a danada da caninha alambicada, produzida de forma artesanal no alambique dos “Palmas,” na região conhecida por Boa Vista, no município de São Romão, atualmente de Riachinho – MG.
Ela, senhora muito humilde e prestativa, benzedeira afamada, nascida no povoado de Conceição das Vargens, antigo distrito de São Francisco - MG, região ribeirinha do grande rio São Francisco, atualmente se emancipou, tornando-se o município de Icaraí de Minas – MG.
Ambos se conhecem e constituem uma numerosa família composta por 11 filhos, que com muitas dificuldades, mas com a generosidade dos bonfinopolitanos, da Sociedade de São Vicente de Paula – SSVP, de alguns funcionários do antigo Banco CREDIREAL Banco de Crédito Real de Minas Gerais, única agência bancária da cidade naquela época, conseguem criá-los com muita dignidade.
Enquanto o tempo passava, moraram em diversos locais da cidade, tais como o antigo “Grupo Velho”, um local que funcionava como um “Paiol”, para guardar milho e outros mantimentos, da família do pioneiro comerciante, o saudoso Sr. Aristóteles Antonio Mota (Sr. Tote e dona Alvina) que tinham também uma máquina de beneficiamento de arroz e a primeira padaria da cidade, a famosa Padaria Americana, que até hoje funciona plenamente sob a gerência de uma de suas filhas.
Mas, a imagem que tenho em mente, foi o período em que Sr. Joaquinzão e dona Miguelina, residiram num pequeno casebre na entrada/saída da cidade, por onde eu e todas as pessoas que tivessem chegando ou saindo da cidade teriam que passar de frente; o ambiente era hostil, quase dentro de uma mata fechada que predominava na região e que dá acesso à estrada da ponte da Melancieira sob o ribeirão Santa Cruz, na divisa dos Municípios de Bonfinópolis de Minas - MG com Santa Fé de Minas - MG e da Fazenda Riacho da Raiz, onde vivi com minha família até os nove anos de idade.
Lembro-me com clareza de um fato que ocorreu neste cenário e que foi muito comentado na pequena cidade de Bonfinópolis de Minas, quando numa certa tarde os Bonfinopolitanos foram surpreendidos por uma forte tempestade, onde o vento não poupou nada, diversas árvores foram derrubadas e casas destelhadas, e o que ficou como mistério, e ao mesmo tempo creio ser a Graça de Deus, foi quando o Sr. Loschinha havia construído sua oficina mecânica, uma forte estrutura que não resistiu à impetuosidade do vento que arrancou as suas telhas, e o incrível aos olhos humanos, bem ao lado, a pouquíssimos metros de distância, permaneceu intacta a casinha extremamente humilde, coberta de plásticos, papelão e telhas cumbucas do Sr. Joaquinzão e dona Miguelina.
Torno público também outro fato inesquecível que eu próprio vivenciei, quando num jantar de Domingo na casa do meu sogro Aguimar Ribeiro o popular “Baixinho”, acabei engasgando com um mísero espinho de peixe matrinchâ que ele havia pescado no ribeirão Santo André, o que me deixou numa situação bastante desconfortável. De tudo eu fiz para me livrar desse embaraço e nada resolvia, passei o resto da noite e o dia de segunda-feira deveras acabrunhado, minha garganta doendo muito que mal podia tomar água, foi quando alguém na terça-feira me disse, “por que você não procura a dona Miguelina para te benzer que esse espinho sai na hora”, foi o que eu fiz. No momento em que fui almoçar passei na casa de dona Miguelina e pedi a ela se poderia me ajudar, estava lavando roupas nos fundos da sua casa localizada na Rua Augusto Lourenço, bairro Arrozal e com toda a tranqüilidade e boa vontade ela só me perguntou “de que lado está alojado o espinho meu filho?” ao informá-la, pediu-me que sentasse numa mureta nos fundos da sua casa e começou a benzer, passando a mão no meu pescoço como que se estive arrancando o espinho, mas suavemente, e ao terminar me disse tão somente “com a primeira coisa que você comer vai sair”, não me deu maiores detalhes de como seria.
Saí dalí com o forte desejo de que seria aquilo mesmo que iria acontecer. No trajeto até a minha casa, lembrei-me que teria que pagar um boleto bancário e a nossa agência do Banco do Brasil S.A. encerra o expediente às 13:00 horas, sendo assim tive que ir primeiro ao banco e como estava sem almoçar acabei comprando um salgado na Panificadora Social que fica próxima do banco, era um enroladinho frito com salsicha inteira como recheio, e ao mastigar aquele apetitoso salgado, logo no início, senti algo estranho que furou minha língua, fiquei desconcertado e fui no cesto de lixo cuspir e verificar o que era, e para a minha surpresa, já havia esquecido do que tinha ouvido, mas era exatamente, nada mais, nada menos que o mísero espinho de matrinchâ pregado no pedaço de salsicha.
Concluí então que no campo da espiritualidade acontecem casos inexplicáveis, como sendo uma prova testemunhal de uma graça, de um pedido ou de um desejo de quem pede e acredita.
Com a família constituída, o Sr. Joaquinzão não consegue se livrar do vício do alcoolismo, e por esse motivo acaba recebendo o pejorativo apelido de “Joaquim Lobo” o qual no início lhe deixava bastante bravo, principalmente com os adolescentes que ao encontrá-lo embriagado não tinha o menor pudor de gritar “ô Joaquim Lobo”. Sua saúde foi se definhando agravada pelo vício e pela idade já avançada, vindo a falecer em agosto de 1988. Hoje, seu nome está registrado na história do Conjunto Habitacional Frei Humberto Van Teijling (Padre holandês, da Ordem dos Carmelitas que viveu na cidade por 46 anos, vindo a falecer na cidade européia de Zenderen, na Holanda, no ano de 2004, sendo substituído pelo Pe. Luiz Araújo Ferreira, atual Prefeito de Bonfinópolis de Minas desde 2005 até 31 de dezembro de 2012), homenageado com a denominação de uma rua com seu nome Rua Joaquim Cardoso de Moura, requerimento do Vereador e Presidente da Câmara Municipal por dois mandatos e seu filho Adilson Cardoso dos Santos “Dilsinho de Miguelina”.
Dos 11 filhos do casal, é motivo de muitas saudades relembrar da sua filha Bethânia Cardoso dos Santos que veio a falecer ainda muito jovem, com apenas 19 anos de idade, vítima de uma cirurgia para implantação de uma ponte de safena no coração, mas Deus já havia lhe dado a chance de ser a mãe carinhosa de Abssanara Bethânia, que hoje também já é mãe da princesa Mírian Bethânia.
Como forma carinhosa de expressar a minha amizade pela família, lembro assim como seu Joaquim Cardoso de Moura carregou a alcunha de “Joaquim Lobo”, uma das suas filhas, Paschoalina Cardoso dos Santos (funcionária pública Municipal) é por todos conhecida por “Foca”. Um dos seus filhos, Dirceu Cardoso dos Santos, ele próprio se considera o “Pedreiro do Sertão” além do Vicentino, ex-funcionário público municipal e Vereador por dois mandatos, Adilson Cardoso dos Santos, o Dilsinho de Miguelina, que com seu jeito humilde, ainda que com um pouco de gagueira, gosta de usar uma espécie de chapéu dos “bambas” lá do Rio de Janeiro, tem uma coleção deles, um para cada ocasião e brinco sempre com ele, chamando-o de sambista “Jamelão”. Dilsinho é um exemplo de perseverança, no ano de 2002 ele percebe que está com problemas renais graves e começa a peregrinação até a cidade de Unaí – MG para as 03 sessões semanais de hemodiálise, chegando até por problemas funcionais da Nefroclínica de Unaí, se deslocar ao município de Valparaíso – Goiás para dar continuidade ao seu tratamento.
Por essas e outras razões, considero que o senhor Joaquinzão e dona Miguelina são figuras marcantes da história de Bonfinópolis de Minas – MG e espero não ter exposto a família, mas valorizado a firmeza, a perseverança, a humildade e a união de todos os familiares.
Autor: Poeta Nunes de Souza
“O Porta Voz da Emoção”
Bonfinópolis de Minas – MG, 26 de novembro de 2012.
Nos idos dos anos 70, com as incertezas vivenciadas pela sociedade bonfinopolitana, minha memória traz à tona a saga da família de Joaquim Cardoso de Moura e dona Miguela Soares dos Santos (dona Miguelina).
Ele, um senhor negro de grande estatura, natural do município de Ubaí – MG, contador de piadas e que apreciava a danada da caninha alambicada, produzida de forma artesanal no alambique dos “Palmas,” na região conhecida por Boa Vista, no município de São Romão, atualmente de Riachinho – MG.
Ela, senhora muito humilde e prestativa, benzedeira afamada, nascida no povoado de Conceição das Vargens, antigo distrito de São Francisco - MG, região ribeirinha do grande rio São Francisco, atualmente se emancipou, tornando-se o município de Icaraí de Minas – MG.
Ambos se conhecem e constituem uma numerosa família composta por 11 filhos, que com muitas dificuldades, mas com a generosidade dos bonfinopolitanos, da Sociedade de São Vicente de Paula – SSVP, de alguns funcionários do antigo Banco CREDIREAL Banco de Crédito Real de Minas Gerais, única agência bancária da cidade naquela época, conseguem criá-los com muita dignidade.
Enquanto o tempo passava, moraram em diversos locais da cidade, tais como o antigo “Grupo Velho”, um local que funcionava como um “Paiol”, para guardar milho e outros mantimentos, da família do pioneiro comerciante, o saudoso Sr. Aristóteles Antonio Mota (Sr. Tote e dona Alvina) que tinham também uma máquina de beneficiamento de arroz e a primeira padaria da cidade, a famosa Padaria Americana, que até hoje funciona plenamente sob a gerência de uma de suas filhas.
Mas, a imagem que tenho em mente, foi o período em que Sr. Joaquinzão e dona Miguelina, residiram num pequeno casebre na entrada/saída da cidade, por onde eu e todas as pessoas que tivessem chegando ou saindo da cidade teriam que passar de frente; o ambiente era hostil, quase dentro de uma mata fechada que predominava na região e que dá acesso à estrada da ponte da Melancieira sob o ribeirão Santa Cruz, na divisa dos Municípios de Bonfinópolis de Minas - MG com Santa Fé de Minas - MG e da Fazenda Riacho da Raiz, onde vivi com minha família até os nove anos de idade.
Lembro-me com clareza de um fato que ocorreu neste cenário e que foi muito comentado na pequena cidade de Bonfinópolis de Minas, quando numa certa tarde os Bonfinopolitanos foram surpreendidos por uma forte tempestade, onde o vento não poupou nada, diversas árvores foram derrubadas e casas destelhadas, e o que ficou como mistério, e ao mesmo tempo creio ser a Graça de Deus, foi quando o Sr. Loschinha havia construído sua oficina mecânica, uma forte estrutura que não resistiu à impetuosidade do vento que arrancou as suas telhas, e o incrível aos olhos humanos, bem ao lado, a pouquíssimos metros de distância, permaneceu intacta a casinha extremamente humilde, coberta de plásticos, papelão e telhas cumbucas do Sr. Joaquinzão e dona Miguelina.
Torno público também outro fato inesquecível que eu próprio vivenciei, quando num jantar de Domingo na casa do meu sogro Aguimar Ribeiro o popular “Baixinho”, acabei engasgando com um mísero espinho de peixe matrinchâ que ele havia pescado no ribeirão Santo André, o que me deixou numa situação bastante desconfortável. De tudo eu fiz para me livrar desse embaraço e nada resolvia, passei o resto da noite e o dia de segunda-feira deveras acabrunhado, minha garganta doendo muito que mal podia tomar água, foi quando alguém na terça-feira me disse, “por que você não procura a dona Miguelina para te benzer que esse espinho sai na hora”, foi o que eu fiz. No momento em que fui almoçar passei na casa de dona Miguelina e pedi a ela se poderia me ajudar, estava lavando roupas nos fundos da sua casa localizada na Rua Augusto Lourenço, bairro Arrozal e com toda a tranqüilidade e boa vontade ela só me perguntou “de que lado está alojado o espinho meu filho?” ao informá-la, pediu-me que sentasse numa mureta nos fundos da sua casa e começou a benzer, passando a mão no meu pescoço como que se estive arrancando o espinho, mas suavemente, e ao terminar me disse tão somente “com a primeira coisa que você comer vai sair”, não me deu maiores detalhes de como seria.
Saí dalí com o forte desejo de que seria aquilo mesmo que iria acontecer. No trajeto até a minha casa, lembrei-me que teria que pagar um boleto bancário e a nossa agência do Banco do Brasil S.A. encerra o expediente às 13:00 horas, sendo assim tive que ir primeiro ao banco e como estava sem almoçar acabei comprando um salgado na Panificadora Social que fica próxima do banco, era um enroladinho frito com salsicha inteira como recheio, e ao mastigar aquele apetitoso salgado, logo no início, senti algo estranho que furou minha língua, fiquei desconcertado e fui no cesto de lixo cuspir e verificar o que era, e para a minha surpresa, já havia esquecido do que tinha ouvido, mas era exatamente, nada mais, nada menos que o mísero espinho de matrinchâ pregado no pedaço de salsicha.
Concluí então que no campo da espiritualidade acontecem casos inexplicáveis, como sendo uma prova testemunhal de uma graça, de um pedido ou de um desejo de quem pede e acredita.
Com a família constituída, o Sr. Joaquinzão não consegue se livrar do vício do alcoolismo, e por esse motivo acaba recebendo o pejorativo apelido de “Joaquim Lobo” o qual no início lhe deixava bastante bravo, principalmente com os adolescentes que ao encontrá-lo embriagado não tinha o menor pudor de gritar “ô Joaquim Lobo”. Sua saúde foi se definhando agravada pelo vício e pela idade já avançada, vindo a falecer em agosto de 1988. Hoje, seu nome está registrado na história do Conjunto Habitacional Frei Humberto Van Teijling (Padre holandês, da Ordem dos Carmelitas que viveu na cidade por 46 anos, vindo a falecer na cidade européia de Zenderen, na Holanda, no ano de 2004, sendo substituído pelo Pe. Luiz Araújo Ferreira, atual Prefeito de Bonfinópolis de Minas desde 2005 até 31 de dezembro de 2012), homenageado com a denominação de uma rua com seu nome Rua Joaquim Cardoso de Moura, requerimento do Vereador e Presidente da Câmara Municipal por dois mandatos e seu filho Adilson Cardoso dos Santos “Dilsinho de Miguelina”.
Dos 11 filhos do casal, é motivo de muitas saudades relembrar da sua filha Bethânia Cardoso dos Santos que veio a falecer ainda muito jovem, com apenas 19 anos de idade, vítima de uma cirurgia para implantação de uma ponte de safena no coração, mas Deus já havia lhe dado a chance de ser a mãe carinhosa de Abssanara Bethânia, que hoje também já é mãe da princesa Mírian Bethânia.
Como forma carinhosa de expressar a minha amizade pela família, lembro assim como seu Joaquim Cardoso de Moura carregou a alcunha de “Joaquim Lobo”, uma das suas filhas, Paschoalina Cardoso dos Santos (funcionária pública Municipal) é por todos conhecida por “Foca”. Um dos seus filhos, Dirceu Cardoso dos Santos, ele próprio se considera o “Pedreiro do Sertão” além do Vicentino, ex-funcionário público municipal e Vereador por dois mandatos, Adilson Cardoso dos Santos, o Dilsinho de Miguelina, que com seu jeito humilde, ainda que com um pouco de gagueira, gosta de usar uma espécie de chapéu dos “bambas” lá do Rio de Janeiro, tem uma coleção deles, um para cada ocasião e brinco sempre com ele, chamando-o de sambista “Jamelão”. Dilsinho é um exemplo de perseverança, no ano de 2002 ele percebe que está com problemas renais graves e começa a peregrinação até a cidade de Unaí – MG para as 03 sessões semanais de hemodiálise, chegando até por problemas funcionais da Nefroclínica de Unaí, se deslocar ao município de Valparaíso – Goiás para dar continuidade ao seu tratamento.
Por essas e outras razões, considero que o senhor Joaquinzão e dona Miguelina são figuras marcantes da história de Bonfinópolis de Minas – MG e espero não ter exposto a família, mas valorizado a firmeza, a perseverança, a humildade e a união de todos os familiares.
Autor: Poeta Nunes de Souza
“O Porta Voz da Emoção”
Bonfinópolis de Minas – MG, 26 de novembro de 2012.