ANAMNESE HISTÓRICA
Francisco de Paula Melo Aguiar*
Lá pelos idos anos de 1958 a 1962, meus pais: Sebastião José (Vieira) de Aguiar e Maria do Carmo (Gomes) Melo Aguiar tinham um sítio na Fazenda Maraú, denominado Pajussara, onde criavam gado, plantavam cana de açúcar, mandioca, fava, feijão, inhame, batata, etc, além de um modesto pomar com frutas diversificadas. O sitio de meus ficava localizado na divisão dos municípios de Sapé/Cruz do Espírito Santo/Pilar (antes de São Miguel de Taipu ser emancipado), era banhado pelas águas dos rios Paraíba e Gurinhém, via a lagoa pajussara que dava nome ao terreno. Meus pais comprou este sitio e mudou-se para ele no dia 19 de março de 1957, tendo vendido depois o antigo sítio encravado nas terras do Engenho Conceição, em Sapé/PB, onde meus pais foram morar depois do casamento realizado em 16 de junho de 1951. Eu fui o primogênito, nasci aos, 3 de abril de 1952, no Hospital Regional Dr. Sá Andrade, tendo como assistente o Médico Vicente Rocco, de saudosa memória, depois nasceram: José Vicente, Maria de Fátima (morreu com três anos de idade e encontra-se sepultada no Cemitério Nossa Senhora da Assunção/Sapé/PB), José Antonio, Maria de Fátima e Maria Anunciata, ambas morreram muito crianças ( estão sepultadas com meus pais no tumulo da família no Cemitério Santana/Santa Rita/PB). Aos sete anos de idade incompletos, meus pais matriculou-me na Escola Elementar Mista do Engenho Itapuá, na época ainda era município de Pilar/PB (antes de São Miguel de Taipu ser emancipado), onde tinha como professora Beatriz Lopes Pereira (ela ainda era parenta de minha avô materna pelo lado de minha bisavô Diamantina Ferreira Pereira de Meireles, casada com Antonio Coelho de Meireles (então proprietário do Engenho Melancia/Sapé/PB, lá pelos fins do século XIX e primeiro quarto do século XX, pais de Emilia Francisca Pereira de (Meireles) Melo, que casou-se com meu avô Manoel Gomes de Melo, em 1898, residente no Sítio Desterro de sua propriedade/Cruz do Espírito Santo/PB de cujo casamento nasceram: Antonio, José, Augusto, João, Severino, Sebastião, Rosa, Maria, Doninha, Anália,Josefa, Francisca e Maria do Carmo Gomes de Melo, minha mãe que foi a caçula da família. Lá na escola do Itapuá, graças as exigências de meus pais e palmatória da professora Biá, cheguei a fazer a primeira comunhão em 11 de novembro de 1960 (com o Padre Manoel Gomes, Vigário do Pilar/PB) e concluir no ano de 1962 o então Curso Primário. Naquele tempo o Engenho Itapuá, de propriedade de Maria Menina, tia de José Lins do Rego Cavalcanti, ainda estava moendo a todo vapor, com o passar do tempo e com muito esforço pessoal, graças aos exames supletivos do Lyceu Paraibano (1974), terminei o então segundo grau, prestei os exames vestibulares e fui aprovado para Direito e para Pedagogia (fiz este curso porque em 05/01/1964, com menos de 12 anos de idade já era professor menino do ensino primário em Santa Rita/PB, sediado à Rua Eurico Dutra, nº 64 – Bairro Popular – Santa Rita – PB, o que deu origem ao COFRAG – Colégio Francisco Aguiar, que ainda funciona na referida cidade e que vai completar 50 anos de fundação em 05/01/2014), de onde sai em julho e dezembro de 1979, bacharel em Direito e licenciado em Pedagogia, respectivamente. Foi aí que senti a vontade de voltar a reencontrar a minha antiga escola onde estudei no Engenho Itapuá e voltar a sonhar novamente com o apito do trem e com a palmatória das professoras Biá e Regina, peguei o carro e fui até lá, e lá encontrei a escola em ruína, juntamente com a Capela de Nossa Senhora das Angustias, a casa do cinema, o barracão, a casa grande (onde Vieirinha morava com sua esposa, seus filhos, sua mãe Maria Menina e seus criados), as instalações do engenho, o bueiro se despedaçando com o vento, balançando como se fosse um véu de noiva antes da noite de núpcias, o velho sobrado do coronel Ursulino (dizem que esse coronel foi o maior algoz da etnia negra, nos idos tempos da escravidão na brasileira aqui na Paraíba, os mais velhos contavam gatos e largatos sobre as atrocidades cometidas contra os escravos do Itapuá a mando dele), até mesmo a parada do trem ao lado da casa grande, já não existe mais, apenas a linha do trem continua preservada e o rio Paraíba do outro lado com as ruínas do engenho no meio, valendo salientar que esse engenho serviu de palco para a filmagem das senas do Filme Menino de Engenho (1965), inspirado no romance de igual nome de autoria de José Lins do Rego Cavalcanti. Deixei-me fotografar dentro e fora da velha escola em ruínas. Tive saudades dos meus colegas e de minhas professoras, lembrei da merenda escolar patrocinada na época pelo programa Aliança para o progresso dos Estados Unidos da América para o Brasil. Tirei também fotografias retratando as ruínas do Engenho Itapuá, de fogo morto, registrando também que suas terras foram dividas pelo programa de reforma agrária nacional, via o MST - Movimento dos Sem Terras, a nova realidade da antropologia social e política brasileira. Apenas minha memória não apagou a lembrança de meus verdes anos caminhando a pé sobre o massapé da Várzea do Paraíba do sitio Pajussara no Maraú para a Escola Elementar Mista do Itapuá a procura do meu letramento pessoal, onde procurei e encontrei parte de minha Anamnese Histórica (do grego Ana, que significa: “trazer de novo” e mnesis, que significa “memória”), conforme aqui relatado.
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