As Primeiras Letras e a Travessura
Quando eu estava nas primeiras letras, estudava na cartilha "ABC" e no decorrer do ano eu, que era muito "espertinha", me sobressai além dos meus colegas. Ora, eu já sabia de "cor e salteado" - minha avó materna me acompanhava também em casa nesse aprendizado (quando eu errava alguma palavra e ela me corrigia eu pensava - como ela sabe que eu errei se ela não está vendo a cartilha?) Oh! Santa inocência!!! mas, vamos lá....o fato é que eu era muito “matreirinha” e falei para meu pai que a professora já tinha me passado para outra cartilha - na verdade já não era mais uma cartilha, mas um livro - agora não me lembro qual, mas nesse livro, logicamente continha frases, textos, e eu já sabia ler, gente! Bom, meu pai comprou o tal livro e nem se deu ao trabalho de certificar a veracidade da minha estória. Ora, ele também sabia que eu já tinha competência para o avanço, apenas e somente a professora não teve sensibilidade para tal.
Passados uns dois meses, e eu na minha vidinha dupla, em casa dava a lição do livro, na escola voltava à velha e surrada cartilha ABC. O pequeno-grande detalhe é que eu já havia jogado a tal cartilha fora e na escola eu pedia emprestada a alguma colega....”todos os dias”...que dureza!!!
Um dia, a professora que estava retornando de uma sessão de cinema, passou pela minha casa (na época nós morávamos em Campos Sales, no Ceará) e meu pai perguntou logo, todo orgulhoso, como eu estava me saindo com o livro, e ela não entendeu foi nada! Falou: Não, seu Ribamar, a Fatinha só vai passar para o livro (e disse quando - não me lembro, talvez, quem sabe no semestre seguinte, que horror! ). Ah! quando ouvi aquela conversa corri e me escondi embaixo da cama. Meu pai me chamou para participar da conversa e eu já cheguei chorando.
Conversa vai, conversa vem, acertaram os ponteiros: eu contei como estava fazendo e também expliquei - da maneira que qualquer criança “explica”, que eu já não agüentava mais aquela cartilha ABC. Ainda hoje editam a tal cartilha e quando a vejo em alguma papelaria fico me lembrando desse episódio da minha vida infantil e fico rindo, por dentro...como eu aprontava, meu Deus!
Bom, meu pai falou que eu havia errado somente e apenas por ter mentido, mas que não tirava meu mérito e me falou muitas outras coisas e eu jurei que nunca mais mentiria, só não posso afirmar, mas talvez eu tenha jurado com os dedinhos disfarçadamente cruzados, dada a minha esperteza.
Quero deixar bem claro que isso não impactou negativamente em nada na minha vida, pelo contrário, adoro ler, sou uma devoradora de livros e meu pai, ao contrário de muitos pais da minha época, jamais proibiu esse ou aquele livro, nem a mim, nem a minhas irmãs. A concepção dele sobre qualquer leitura era a seguinte: “se é boa, tire bom proveito; se não, não adote, não convém”.