COMO FOI ISSO?

Minha tia-madrinha - titia, como falamos até hoje, foi nos visitar no Ceará, em Campos Sales, onde morávamos. Ela vivia, na época, bastante confortável do ponto de vista econômico-financeiro, diferentemente de nós, que vivíamos com algumas dificuldades, contudo, essa condição de vida não afetava a convivência harmônica que vivíamos naquela pequena cidade.

Meu pai trabalhava numa empresa americana e às vezes a transferência para aqui ou acolá nos tornava itinerantes. Meus pais tinham facilidade em criar vínculos de amizade de modo que, de amigos passávamos a ser "parentes pelo coração".

Para fazer justiça, aqui vou fazer dois apartes para justificar o que acabei de falar:

Meu pai, que era músico, filho único, nascido em Valença do Piaui, foi com mais ou menos 20 anos para Picos, também no Piauí e dividia uma casa (república) com amigos músicos (eles tinham uma "Banda de Jazz"). As refeições eram feitas na casa da mãe de titia e assim aconteceu o relacionamento de amizade e parentesco. Titia passou a se considerar irmã e quando meu pai conheceu minha mãe a amizade continuou e o parentesco mais ainda pois a prova disso é que ela me batizou. É ou não é parente?

Outro parentesco, via amizade foi com o seu chefe imediato (na empresa americana a qual me referi anteriormente). A amizade foi tanta que uma página inteira não caberia para esmiuçar nossa intimidade com aquela família, que dura até os dias atuais.

Eu tinha 7 anos e era vaidosíssima. Meu pai, era uma pessoa de mente muito aberta, mas, não sei porque - até hoje nunca entendi - não nos permitia pintar as unhas de esmalte "vermelho" só podíamos usar esmalte incolor. Acho que criança naquela época não podia usar determinadas "coisas" de adultos, essa é a minha opinião.

Bom, titia, que não tinha filhos, pediu a meu pai que lhe desse o filho, ou filha que minha mãe estava esperando. Meu pai concordou, só que, quando minha irmã nasceu, meu pai se arrependeu da promessa. Mas ela (titia) obstinada, não desistiu e resolveu investir em mim e meu pai concordou, creio que apostando na minha negativa - que se eu aceitasse ele concordaria.

Eu não aceitei, relutei, mas ela sabia que eu tinha verdadeira paixão por esmalte vermelho, e meu pai não permitia - dava sinal vermelho para meu desejo. Ela foi direto no meu ponto fraco, na minha dor - prometeu que se eu aceitasse, ela me deixaria usar o esmalte, não só vermelho, mas da cor que eu quisesse - E EU ACEITEI!!!!!

E fui com ela e com ela fiqui até meus 15 anos, quando meu pai faleceu e precisei trabalhar para ajudar a minha mãe. Vale ressaltar que nessa época já morávamos em Picos, na mesma rua que titia morava.

Nesses oito anos eu visitava meus pais, minhas irmãs e muita coisa aconteceu. Titia me cobria de mimos, era muito possessiva, mas gostava muito de mim. Meu padrinho também me amava, muito (tenho boas lembranças da nossa convivência - Deus também o levou).

Tenho muita gratidão a titia, que me deu conforto e educação, mas eu perdi muito da convivência com meu pai. Não posso dizer que me arrependo, mas posso dizer que ainda tenho pesar.

Fathma Oliveira
Enviado por Fathma Oliveira em 18/11/2012
Reeditado em 04/09/2022
Código do texto: T3992326
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