Breves dados biográficos 
                         sobre o ex-presidente Juscelino Kubitschek
 




              No âmbito político brasileiro, Juscelino Kubitschek teve uma trajetória caracterizada  pelo contato direto com o povo. Essa capacidade de convivência e de diálogo com as classes sociais mais desfavorecidas pode estar relacionada com a origem  de Juscelino, que teve de trabalhar durante anos como telegrafista para manter-se enquanto era estudante. Embora tivesse grande entusiasmo pela Medicina, Juscelino resolveu dedicar-se à carreira política, ocupando o cargo inicial de secretário executivo do governo de Benedito Valadares, em Minas Gerais. Posteriormente, Juscelino foi eleito deputado federal pelo Partido Progressista; sendo que, após dois anos de sua posse, ocorreu o fechamento do Congresso Nacional em decorrência do golpe do Estado Novo. 


              As realizações de Kubtischek, porém, consolidar-se-iam de forma mais efetiva a partir de sua eleição para prefeito de Belo Horizonte, na década de 1940. Em seus cinco anos de prefeitura, Juscelino foi um administrador  que implementou importantes obras públicas. Por meio de um plano de modernização da capital mineira, realizaram-se obras como asfaltamentos, canalização de águas, desenvolvimento de uma rede subterrânea de luz e telefone, além da edificação de diversos conjuntos arquitetônicos. Destaca-se ainda, entre as referidas obras, a construção de uma avenida em apenas três dias, em virtude de uma importante exposição em Belo Horizonte que atrairia pessoas de várias partes do Estado, além de contar com a presença do então presidente Getúlio Vargas. 


            A escalada política de Juscelino Kubitschek prosseguiria com o cargo de governador de Minas Gerais, na década de 1950, após ter sido secretário-geral do Partido Social Democrático . Por meio do binômio “energia e transportes”, Juscelino concretizou uma série de políticas que favoreceram significativamente o desenvolvimento econômico dos municípios mineiros. Com a supervisão do Departamento de Estradas e Rodagem, o governo de Juscelino construiu estradas e pontes que facilitaram a integração econômica das cidades mineiras. Além disso, com a criação das Centrais Elétricas de Minas Gerais, Juscelino impulsionou a industrialização do Estado.



          A ascensão política de Juscelino Kubitschek prosseguiria com sua campanha à presidência da República. Após a indicação de sua candidatura pelo Partido Social Democrático e a sua desincompatibilização do governo de Minas Gerais, JK iniciou sua campanha eleitoral, que envolveu todo o Brasil com propostas convincentes de desenvolvimento social e econômico. Como aliado de Juscelino, havia João Goulart, candidato à vice-presidência, pelo Partido Trabalhista Brasileiro. Outro candidato à presidência era o general Juarez Távora, adversário de Juscelino, que tinha apoio dos líderes udenistas. Para obter êxito em sua campanha, Juscelino realizou diversos comícios pelo território nacional, fortalecendo a sua já conhecida capacidade de diálogo com o povo. Foi justamente em um desses comícios, no município goiano de Jataí, que Juscelino acrescentou ao seu Plano de Metas a construção de Braília. Ao responder à pergunta de um cidadão sobre o cumprimento de um dispositivo constitucional que determinava a transferência da capital da República, Juscelino assumiu publicamente o compromisso de mudar a sede de governo, se fosse eleito. 


            Realizadas as eleições de 1955, Juscelino Kubitschek e João Goulart foram os vitoriosos, o que desagradou profundamente os militares udenistas. A fim de impedir que um iminente golpe militar se concretizasse, o então Ministro da Guerra, marechal Henrique Teixeira Lott, afastou o presidente Carlos Luz e fez o senador Nereu Ramos assumir a presidência do Brasil até a posse de Juscelino, em 1956. Assim, durante todo o seu mandato presidencial, Juscelino Kubitschek se empenharia em manter a estabilidade política imprescindível à concretização de suas metas, entre as quais se destacava a construção de Brasília. 


          No âmbito econômico, o governo de Juscelino Kubitschek impulsionou diversos setores, por meio de seu Plano de Metas e de seu ousado programa de cinqüenta anos de progresso em cinco anos de governo. Ao longo do período presidencial de Juscelino, o produto interno bruto brasileiro teve elevado crescimento, sendo de cerca de sete por cento ao ano, além de ter ocorrido uma aumento substancial na taxa per capita brasileira. Os motivos de tal desempenho econômico situaram-se, fundamentalmente, na expansão do setor energético e industrial do Brasil, duas das principais metas de Juscelino. Com forte apelo desenvolvimentista, Juscelino Kubitschek priorizou os setores de energia e transportes e, conseqüentemente, favoreceu a industrialização brasileira, ainda que com a utilização de capitais estrangeiros. Durante o governo de Juscelino, surgiu e se fortaleceu a indústria de bens de consumo duráveis no Brasil, com destaque para o setor de automóveis e de eletrodomésticos. À medida que o modelo de industrialização por substituição de importações se consolidava, aumentavam-se os níveis de produtividade na indústria mecânica e de aço, por exemplo. Ressalte-se ainda a ampliação da indústria farmacêutica e de alimentos, além da instalação de grandes empresas multinacionais no Brasil, principalmente automobilísticas.



               Em meio às dificuldades, concretizou-se a construção de Brasília, meta-síntese do presidente Juscelino Kubitschek. Com o inovador projeto urbanístico de Lúcio Costa e com a moderna concepção arquitetônica de Oscar Niemeyer, além do trabalho árduo de inúmeros técnicos e operários, foi construída a nova capital da República em pleno Planalto Central. Conforme impunha a primeira constituição republicana brasileira, promulgada em 1891, transferiu-se a sede de governo para o centro do Brasil, por motivos predominantemente estratégicos. A interiorização da capital brasileira seria importante tanto para a segurança nacional como para a integração das cinco regiões do Brasil. Para concretizar a antiga idéia de se transferir a capital, foi utilizada a mão-de-obra de milhares de trabalhadores provenientes de diversas localidades brasileiras, os chamados candangos, que efetivamente ergueram Brasília, cidade tombada como patrimônio histórico e cultural da humanidade. 


              Para coordenar a implementação de seu Plano de Metas, Juscelino Kubitschek criou instituições cuja importância iria perdurar por décadas. Entre essas insituições, destaca-se a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, a SUDENE, que foi utilizada para estimular a iniciativa do empresariado nacional, além de atrair o capital estrangeiro e favorecer a integração econômica da região nordestina com as demais regiões brasileiras. 

              Apesar dessas perspectivas, Juscelino Kubitschek teve de administrar o problema da dívida externa, que cresceu enormemente em curto prazo. Em decorrência de constantes financiamentos e empréstimos provenientes do exterior, gerou-se um grave dilema em relação à balança de pagamentos brasileira. Para solucionar essa questão, Juscelino lançou um plano de estabilização econômica, por meio do qual seria necessário combater a contínua e crescente inflação. Esses empecilhos econômicos do final do mandato de Juscelino levaram-no ao rompimento com o Fundo Monetário Internacional, em 1959. 

            No âmbito social, os objetivos primordiais de Juscelino Kubitschek estiveram direcionados, no decorrer de sua trajetória política, ao atendimento imediato das necessidades populares. Ainda como prefeito de Belo Horizonte, Juscelino concretizou diversos programas sociais, com bastante ênfase na assitência médica e alimentar da população. Assim, Juscelino criou casas assistenciais e desenvolveu organizações de apoio aos trabalhadores. Por meio de seu programa de restaurantes populares, Juscelino ajudou a população mais carente da capital mineira. No que diz respeito à saúde, Juscelino construiu um hospital na cidade de Belo Horizonte, além de clinicar em diferentes hospitais e favorecer o atendimento aos indigentes na Santa Casa de Misericórdia. Incentivando a educação e a cultura, Juscelino criou o Instituto de Belas-Artes, um curso de extensão musical e um museu em Belo Horizonte. Como governandor de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek abriu diversas frentes de trabalho, estando sempre em proximidade com os operários.Como presidente, Juscelino priorizou a educação e a alimentação como metas fundamentais.



          Na década seguinte ao término de seu mandato, Juscelino Kubtischek enfrentou todo o autoritarismo do regime militar brasileiro, lutando pelo retorno da democracia. Insatisfeito com a opressão e com a falta de liberdade decorrentes da ditadura militar, Juscelino uniu-se ao político João Goulart e ao jornalista Carlos Lacerda, a fim de constituírem a Frente Ampla de oposição. Assim, por tentar defender suas convicções políticas quanto à importância da democracia liberal, Juscelino foi exilado do Brasil e teve seus direitos políticos cassados, até que viesse a anistia ampla, geral e irrestrita do último presidente militar do Brasil, o general João Batista Figueiredo. 

          Seja no âmbito político, seja no âmbito econômico ou social da História do Brasil, é irrefutável a presença de Juscelino Kubitschek, ainda que também apresentasse defeitos e limitações políticas. Ainda que exilado e cassado durante o regime militar, Juscelino manifestou-se sempre em favor da democracia e da soberania nacionais, como alicerces precípuos do Estado brasileiro.