O que costumava fazer com alunos de dificil aprendizagem

O que costumava fazer com alunos de difícil aprendizagem

Ensinei a vários tipos de alunos, em colégios situados em bairros diversos, desde o infantil até a 5ª série, e mesmo naquela, época 1960 a 1980 tínhamos toda espécie de problemas desde a indisciplina até mesmo aqueles alunos que hoje as professoras pensam que eles nada desejam em relação ao estudo, bem verdade que apenas não são estimulados em casa pela família, nem pela escola, uma vez que esta não oferece assuntos que lhes desperte o interesse independente que seja alfabetizado ou não.

Tive alunos que os pais não sabiam ler segundo eles, e que os filhos eram bons alunos, porque me dedicava a falar com estes pais que eles sabiam ler sim, e perguntava como tomavam o transporte para ir a algum lugar, como sabiam que o transporte que estavam tomando estava certo? Etc. As respostas eram por causa das letras, ou não sabiam explicar... Partia dos ensinamentos de Paulo Freire, “a leitura da palavra mundo” Etc. Pedia para eles quando saíssem com o garoto pedir para ele ler os nomes dos transportes, o jornal, ou qualquer coisa que tivesse letras, e se possível pedisse ao filho para lhe ensinar as letras, era uma forma de ajuda-lo na alfabetização. Isto conversava sempre na reunião de pais quando levava eles para a sala para fazer observações sobre ensino aprendizagem. Não saber ler não justificava o fato dos filhos chegarem à escola sem o dever pronto, pois falava aos pais que eles não precisavam ensinar ou fazer os deveres pelos filhos, bastava que organizassem um horário para fazerem os deveres, que nunca eram muitos, era um dever por dia que abordava os assuntos dados durante a semana. Na sexta feira fazia a culminância dos assuntos dados, ou seja, revisão e no segundo horário a turma que era anteriormente dividida em equipes organizava teatrinhos onde seus colegas eram expectadores, todos se apresentavam, e batiam palmas, estes teatrinhos aconteciam com os grupos de 2ª serie a 5ª serie, depois outras colegas começaram a fazer também. Nas reuniões trocávamos sempre experiências, uma colega não era melhor que a outra, mas sabíamos se eu era boa em artes e contar estórias, algumas colegas eram ótimas em ensinar matemática ou geografia, assim nos uníamos, e as colegas que aprendiam alguma técnica diferente de ensinar alguma disciplina não ficavam para elas sozinhas, passavam para outras colegas, bem verdade que cada um aplicava de acordo com seu jeito, mas eram bem recebidas as ideias.

Os métodos, mas usados por mim eram o da Casinha Feliz, Silabação, Paulo Freire e outros, não me prendia a uma forma única de ensinar. As brincadeiras usadas para as primeiras séries sempre no finalzinho da aula quando sobrava um pouco de tempo eram cantadas como “escravos de Jó”, com movimentos corporais para aprimorar a coordenação motora e atenção. Nesta musica usava o assobio, o murmúrio, tirava palavras, como exemplo: Escravos de Jó tocavam... Murmurando, ou assobiando, ou calados.

Brincava no recreio de amarelinha, anelzinho, de roda, cipozinho queimado, esconder, procurar o tesouro, pular corda usando as letras do alfabeto, consoantes e vogais, números em ordem crescente e decrescente (quem errar sai do jogo), bola ao cesto usando caixas, morto vivo, forca, adivinhações e algumas brincadeiras sugeridas pelos alunos que não gerassem indisciplinas. Quando não concordava com as brincadeiras sugeridas explicava o motivo.

Na sala de aula principalmente nas aulas de matemática fazia joguinhos com os alunos sempre aumentando as dificuldades. Pedia silencio, vamos nos imaginar numa mercearia, escrevia no quadro a palavra, lia com eles, e depois pedia para cada um definir o que era uma mercearia, escrevia o que eles falavam no quadro, o que podíamos encontrar lá para comprar, e de acordo com a serie, trabalhava fazendo questões como exemplo; 1ª serie, fui à mercearia com dez reais comprar uma coisa com a letra “a” o que eu comprei?

Se a resposta foi arroz, vem à pergunta, quanto será que custa um quilo de arroz? Vão dá inúmeros valores, escrevia no quadro, e escolhia juntamente com os alunos o valor mais próximo que íamos subtrair dos dez reais e assim por diante. Podemos usa-los com todas as series aumentando as dificuldades. Mercearia pode ser substituída por lojas de roupa, sapatos, salão, restaurante, transportes, viagens sempre procurando saber deles o conceito que têm de cada tema escolhido. No caso de Viagens, viajar para onde? Acompanhado, só, quanto custa a passagem, (pesquisar), sabendo o preço, quantas pessoas vão comigo? Quanto vou gastar, e muitas coisas mais. A problematização ajuda os alunos a resolverem problemas, desenvolver o raciocínio lógico e a tomar atitudes necessárias no seu dia a dia a depender do nível em que estejam. Usava o quadro valor do lugar, pedrinhas, conchinhas que eles traziam para sala de aula, tampinhas, gudes, palito de picolé e outros. Sempre usava o meio ambiente para todas as disciplinas, mandava desenhar a sala, mostrar os ângulos da sala de aula, as linhas, tipos de linhas, observar a sala e dizer com qual figura geométrica parece, usando a comparação, diferença, igualdade etc.

Nas aulas de português, mesmo nas series iniciais tinha no meu armário um dicionário de português e um de palavras pornográficas cujo objetivo do ultimo era acabar com as brigas provenientes de xingamentos entre alunos, escrevia a palavra falada pelo aluno no quadro mandava todos lerem e escrevia o significado ao lado e lia novamente com todos juntos e depois procurava saber se o aluno que falou tal palavra entendeu e se o que ouviu e achou ruim havia entendido, depois relia com eles varias vezes. Geralmente não repetiam mais. Ofendiam-se muito com a palavra Puta, pois era como se falasse mal das mães deles. Eu explicava no quadro que esta palavra tinha origem do Latim, uma língua morta, e puta era originaria do verbo “putare” que queria dizer “escolhida”, portanto sua mãe foi escolhida por seu pai, para ter um filho lindo como você, assim como Maria foi escolhida por Deus para ser mãe de Jesus. Este nome não é ruim, as pessoas que falam isso ignoram o significado verdadeiro.

Fazia leitura oral, escrita, silenciosa, no livro de linguagem e em todos os livros usados por eles na sala de aula, geografia, história, estória, matemática jornais, revistas, enfim toda a leitura e escrita era diária, tanto no quadro, quanto no caderno, mandava pesquisar e listar nos armazéns, farmácias próximas da residência, lojas ou mercearia os produtos que vendiam e usavam em casa. Dava ponto nos cadernos mais organizados e limpos, sem arrancar paginas muitos alunos no final da semana traziam o caderno todo passado a limpo, forrados com os exercícios que foram corrigidos em aula, eu fingia que não via e dava o pontinho, sabia que aquele aluno não ia mais arrancar as paginas do caderno nem escrever bobagens. Aproveitava as palavras dos assuntos de geografia, estórias e historia, matemática colocava para eles separarem as silabas e escreverem o significado ao lado a depender da serie. Assim dava todos os assuntos gramaticais e ortográficos usando todas as disciplinas.

O que fazia com os alunos que não conseguia acompanhar o ensino aprendizagem?

Sempre para todas as series no final do dever de casa sem que os mais adiantados percebessem escrevia a palavra revisão.

Ali, todos os dias, tinham obrigação de escrever as letras maiúsculas e minúsculas, as consoantes, e as vogais. Separação de silabas e formação de novas palavras era diária tanto na sala como dever, principalmente na culminância das sextas feiras.

A turma na minha mente era dividida em A, B. C, e D, a turma A eram os alunos que estavam mais ou menos no nível, a turma B, os que vamos dizer os quase bons, os da turma C os que precisavam de mais um pouco de reforço e da turma D aqueles que estavam com maior dificuldade, logo, um reforço maior.

Colocava-os sentados nas cadeiras em fileira na ordem em que imaginara, depois passei a usar a ordem em circulo quando contava estórias, ou aulas de conversação, ou no final do mês para avaliação professor aluno, onde eles diziam o que se zangaram comigo e eu falava deles, assim saiamos sempre em paz, creio que estas minhas atitudes ajudaram muito na disciplina, pois facilitou dar mais atenção, contanto que no primeiro semestre minha turma estava quase nivelada.

Naquela época antes de tudo fazíamos logo no inicio um pequeno teste com os alunos e podíamos fazer trocas com as colegas de acordo com o nível da classe de cada uma. Se meus alunos eram a maior parte alfabetizados eu trocaria com a colega o aluno que estivesse fora do nível, o mesmo a colega faria com os alunos delas simultaneamente, fazendo com que as classes ficassem mais ou menos harmonizadas. Isto era uma vantagem, apesar da desvantagem de muitas vezes termos na sala de aula de segundo ou primeiro ano alunos de 11 a 12 anos até de 14 anos, as classes geralmente tinham 40 a 42 alunos, raramente minha turma tinha defasagem a não ser por doença.

A indisciplina na sala de aula

A indisciplina existia, pois havia determinados alunos que não ouviam os pais, imagine a minha pessoa. Sempre que dois ou três alunos aprontavam na sala durante a aula, a depender da serie, como o 3º a 5ª serie, colocava eles na minha carteira, e sentava-me no lugar deles, antes abria o livro no assunto, naquele dia ele era o professor, pois sabia o assunto, esperava ver a reação deles ou delas, conforme o caso ia para meu lugar dava a aula tranquila e no final da aula chamava os indisciplinados ou o indisciplinado para conversar, no ultimo caso chamava os pais. A secretaria via meus alunos apenas nos casos que precisavam de muita atenção como: certa vez um aluno cortou mesmo de leve a barriga de um colega, no recreio, via-se que ele não queria fazer aquilo uma vez que não foi colocado força na mão, senão ia ser horrível, no outro dia apareceu o pai do garoto que foi cortado, mas o pai do garoto nem o garoto compareceram a escola, a ordem era expulsar o garotinho da minha sala, porem dei uma de advogada, delegada sei lá o que, e disse: não vamos tomar atitudes sem saber o que realmente houve, pois este garoto é calmo, não é de confusão e quero o consentimento de vocês para averiguar na sala qual a razão do acontecido. Chegando a minha sala perguntei aos alunos sobre o fato, então alguns que assistiram disseram que o garoto que era da outra sala, vivia perseguindo o meu aluno no recreio chamando-o de veado, levei os alunos que presenciaram o problema para a secretaria com o objetivo de esclarecer que o meu aluno na verdade estava o tempo todo sendo judiado pelo filho do outro que estava exigindo a expulsão do meu aluno, apesar de não justificar o ato do mesmo ter tomado tal atitude sem falar o que estava acontecendo a mim, nem tão pouco a professora do outro aluno. Perguntei ao aluno que foi levemente ferido se ele gostaria que alguém lhe chamasse de veado todos os dias no recreio? Ele ficou calado, insisti, o que você fazia? O pai ficou vermelho levou o filho pelo braço esticando, e ficou certo que meu aluno continuaria frequentando e que eu conversaria com ele e o pai se comparecesse, no entanto este aluno ficou uma semana sem ir à escola, e seus colegas me disseram que ele estava com os pés amarrado no pé da cama por uma corrente, passando a pão e água. Passei um longo dever no quadro, e pedi a colega para tomar conta de minha classe, procurei saber o endereço que era um pouco afastado da escola, e fui até a residência do garoto, quem me atendeu foi a madrasta que me queixou que o pai não a deixava tomar conta do menino, perguntei pelo garoto e ela, chamou o pai do garoto que me levou ao quarto e assistir triste a situação, pedi a ele para liberar o menino ou teria de denuncia-lo, o que não era bom, ele me perguntou se eu achava que ele estava disposto a ouvir conselhos de uma garota? No final terminou o pai do menino se convencendo em mandar a madrasta levar e trazer o menino para escola todos os dias.

Este menino se era bom passou a ser o melhor aluno, e no outro dia, entrei de sala em sala falando sobre o fato e observando aos outros alunos as consequências que sofrem os que colocam apelidos nos outros, e as cosequencias que levam o outro fazer, prejudicando-o moralmente e psicologicamente. Fiz o mesmo na minha sala.

Outro fato, um aluno que até hoje nunca me esqueci do nome, não fazia as atividades de aula nem os deveres de casa, uma altura de mais ou menos um metro e sessenta, quase da minha altura, tinha 14 anos segunda serie primaria, hoje fundamental, levei os alunos que havia completado as atividades para o recreio, e deixei este garoto na sala para terminar o exercício do quadro, pois era muito devagar, fazia tudo com má vontade.

Admirei-me ao não vê-lo no recreio, pois assim que terminasse poderia descer, levei os alunos que havia em fila para a sala, não tivemos condições de entrar devido ao mau cheiro, ele urinou e defecou no meio da sala. Chamei a zeladora e pedi para ela papel, detergente, e vassoura, mandei que ela entregasse para ele limpar, endureceu-se e disse que não era zelador, disse para ele que quem fez a sujeira foi ele e a porcaria quem fez foi ele e ele quem deveria limpar ou ele preferia que chamasse a diretora e a mesma o expulsasse da escola, caberia a ele resolver, depois de muita conversa ele limpou a sala, e também se preocupou em terminar o dever antes do recreio nos outros dias. Não chamei seus pais nem a diretora. De alguma forma havia uma cumplicidade entre mim e meus alunos, resolvia os problemas na sala de aula,

Outro aluno meu terrível foi um filho único, dengosinho de papai e mamãe, era estudioso, e muito indisciplinado, ou melhor, mal educado. Este garoto apesar de ser uns dos melhores alunos era um trem de carga, acredito que os pais o colocaram na escola publica porque nas particulares ele não ficava, era terrível e os pais brigavam até as ultimas consequências a favor dele.

Logo no inicio do semestre este menino subiu nas carteiras andando entre os colegas, provocando risos, parei um pouco, calada deixei até quando ele chegou ao lugar dele, mandei parar ali, e “fique como está”, vou sentar disse ele. Falei, eu quero que você continue em pé encima da sua carteira, sabe para que? Eu quero que seus colegas lhe vejam, olhe para você, não é isto que você quer?

Ele falou eu quero descer. Eu disse que ele ficaria ali daquele jeito, pois qualquer pessoa que entrasse na sala iria olhar para ele, e eu garantiria que nunca mais ele iria repetir o que fez. Não é que entrou a supervisora e perguntou o que estava fazendo aquele menino encima da carteira em pé. Falei-lhe que era para que todos o vissem, ela ordenou-lhe que descesse da carteira, e eu não deixei, chamei-a até a porta e disse-lhe que eu quero que ele peça, pois é uma forma dele não mais querer provocar risos durante as aulas e provocar os colegas, ela saiu, e o observei querendo chorar, fingir que não vi, até quando me pediu, por favor, que deixasse descer, no final da aula conversei com ele, não chamei os pais, nem o levei para a secretaria.

Passou-se o tempo este mesmo aluno não mais na sala, mais na rua de volta para sua casa, brigou com alguns colegas de outras turmas, e por acaso caiu e quebrou o braço, isto numa sexta feira, quando chego à escola na segunda feira me chamaram na secretaria do colégio, e o pai deste garoto junto com uma pessoa da Secretaria de Educação, diretora da escola e a supervisora, me questionando sobre a queixa deste pai, que o garoto havia caído na sala de aula e quebrou o braço e eu não havia dado socorro. Mais uma vez, fui obrigada a recorrer aos meus alunos e averiguar os fatos, o garoto havia brigado na rua próximo a sua casa, pois na sala de aula ele havia melhorado o comportamento, e não havia como acontecer qualquer acidente. Levei os alunos que assistiu a briga à diretoria, sendo esclarecido o fato, o pai me pediu desculpa, mas no momento não aceitei o aluno de volta a minha sala, deixei-o com minha colega que ensinava também a 5ª serie. Na segunda semana o garoto começou a chorar pedindo para voltar para minha sala, o pai veio me pedir também, e eu conversei com o garoto as consequências de sua mentira, o pai dele iria me prejudicar, conversei junto com a supervisora sobre a atitude dele (o pai) antes de averiguar os fatos e assim terminamos em paz.

Houve vários fatos, foram anos ensinando e estou passando para vocês fatos que o professor enfrenta na sala de aula com seus alunos, principalmente a “mentira”, eles não sabem as consequências que podem causar fazendo isto, é como se fosse uma maneira de querer se defender de seus pais.

Ensinei em um colégio interno, porem este caso não é de indisciplina, mas também de mentiras, observe com carinho.

Estava com uma turma do pré, e havia um aluno que estava muito mole, dormindo na sala, e me preocupei pelo fato dele ser uma criança irrequieta, sempre em pé, indo para minha carteira ou carteira dos colegas, e ele estava muito quietinho, chamei-o até a mim, e toquei no seu pescoço e percebi que estava com febre, uma febre muito alta, mandei que ele abrisse a boca e dissesse a letra “A” bem forte, e com o dedo polegar e indicador procurei apalpar o volume das amídalas e perguntei se estava doendo, ele disse que estava, chamei o Senhor que tomava conta deles, e pedi que o levasse ao medico, pois ele estava com febre e parecia que o problema dele era garganta. Tudo bem fui para casa, quando voltei na segunda feira todos os garotos e garotas do internato me apontaram gritando, “a professora que apertou a garganta de F”... Dirigir-me para a secretaria aquela garotada toda minúscula acusando-me. Na secretaria estava à pessoa que dirigia o orfanato e me perguntou o que houve, expliquei a ela que chamou o Senhor para confirmar o que eu dissera, repeti o que fiz e ela riu muito, porem passou uma reprimenda no Senhor que alegou não ter levado o garoto ao medico porque ele estava com dengo. Pronto o garoto foi para o medico e mais uma vez tudo terminou bem.

Outro caso no orfanato foi de um garoto que abria a bolsa das professoras e tirava o que ele achava que era bom, dinheiro, caneta, o que despertasse o interesse dele, este garoto não ficou com professora nenhuma, até que mandaram para minha sala. A primeira coisa que fiz foi confiar a ele minha bolsa. Quando precisava sair da sala chamava ele e dizia, não deixe ninguém pegar na minha bolsa, as colegas me repreendiam, eu não me arrependi, porque ele nunca pegou um tostão até o fim do ano, sai orientando-o a continuar um menino honesto.

Outro fato deste foi um aluno que pegava dinheiro e escondia entre as partes do bumbum, neste caso ainda era inexperiente, e a aluna queixou-se a diretora primeiro, pois fora no recreio, então esta gestora enfileirou todos os alunos da sala correndo pastas e roupas, enfim terminaram levando todos ao banheiro e tirar a roupa, encontrando realmente o que estavam procurando, porem não achei esta atitude valida. Fiquei com muita vergonha e triste, os pais do garoto foi chamado, e a situação para mim ficou ruim, pois os colegas passaram por um vexame. Triste e chateada conversei com os alunos sobre o preço da desonestidade, e os valores que devemos preservar de nossa família.

Se fosse contar todas as historias daria um bom livro, mais vou falar a vocês a historia de três adolescentes que desejaram me apedrejar na saída da escola.

Eram boas alunas até determinado tempo, depois as notas foram baixando e as faltas sempre nas sextas feiras, procurei saber dos colegas o que estava acontecendo com estas adolescentes (14 e 15anos), e tive a resposta que as mesmas estavam frequentando uma pensão de rapazes. Desta vez falei com a diretora e pedi para ela um tempinho para ir averiguar até que ponto estas meninas estavam sendo prejudicadas ou abusadas.

Peguei o endereço e fui procurar a pessoa responsável pela pensão, era uma senhora que me disse que elas ficavam lá conversando com ela, se era verdade ou não só Deus é quem sabe. Falei para a Senhora que as meninas estavam faltando às aulas nos dias de sexta feira e ficara sabendo que elas ficavam ali com rapazes, e que iria falar com a diretora da escola e com a supervisão inclusive com os pais das mesmas.

Os pais foram convidados, e ganhei a acusação dos pais que eu era à culpada pelas filhas deles estar frequentando aquele lugar. Perguntei para eles onde eles os pais estavam que não estavam vendo que suas filhas estavam se desviando da escola e que suas notas estavam baixas, o que eles estavam fazendo?

Disse-lhe, eu larguei a minha sala e fui fazer o que vocês pais deveria fazer, porque não vieram nas reuniões, se viessem saberiam, foram obrigados a vir, e me acusam? Não sou casada, não tenho filhos e tenho carinho por meus alunos, por isso me arrisquei a entrar num local que não sei se era recomendável para tentar ajudar suas filhas, demos o endereço aos pais e pedimos a eles para resolver o caso com calma, conversar com os rapazes, e quem sabe consentir o namoro na porta. Até ai tudo bem.

Dois dias depois da reunião com os pais, elas compareceram na escola, assistiram à aula, tranquila e no final me deram até logo tranquilidade, não é que, quando sai da escola elas estavam com as mãos cheias de pedras para me espedrejar.

Mandei que elas jogassem as pedras em mim, faziam muito bem em me matar a pedrada por gostar muito delas e não desejar que ninguém abusasse delas, se era por isso poderiam arrumar as pedras, e no jornal sairia o assunto “alunas espedrejou a professora”. Façam o que vocês quiserem, e o que quero é que vocês joguem estas pedras fora e entrem na escola para nós três conversarmos. A partir daquele dia combinamos ler um livro de educação sexual para adolescentes. Voltaram às aulas e se recuperaram.

Para mim cada aluno era um aluno, alguns muito especiais, pois a depender da serie muitas vezes dava uma atenção mais diferenciada, ou seja, individualizado, sempre próximo ao final da aula.

A necessidade de reciclagem ou um preparo mais adequado para professores, coordenadores e gestores

Li na revista escola nº 253-setembro de 2012 o seguinte: “Na escola do passado, quem não se adequava ás expectativas do professor era pouco a pouco excluído e só os bons permaneciam”. Como professora dos anos sessenta, posso negar que houvesse esta intenção em relação aos alunos uma vez que naquela época principalmente a Prefeitura de alguma forma dava boa assistência à escola, tanto no ensino como na merenda escolar e tínhamos o privilégio de haver na escola o Orientador Educacional e o Supervisor educacional, ou seja, “o Especialista em Educação” hoje substituído pelo Coordenador Pedagógico os quais estão nos provando que aqueles profissionais os quais foram afastados como persona non grata das escolas, estão fazendo muita falta, pois mesmo aqueles orientadores e supervisores que faziam o pouco, evitava a calamidade em que esta passando a educação atual.

A escola atual está implorando a volta do O. Educacional e do Supervisor uma vez que os Coordenadores Pedagógicos não estão dando conta do recado. O Orientador Educacional era preparado para conversar com os pais e alunos, trabalhar dinâmicas de grupo nas salas de aula, orientar e conversar com os professores sem agredi-los, planejar e elaborar projetos de forma a atingir toda escola, era um trabalho de equipe juntamente com a direção, corpo docente e discente.

Quando o aluno era indisciplinado e ia para a secretaria, este profissional procurava saber as raízes de seu problema, conversava com o aluno não só uma vez mais varias vezes até entender o que estava acontecendo com ele, por ultimo chamava os pais, e conforme o caso estes eram aconselhados ou orientados levar o aluno a fazer uma avaliação terapêutica, poderia ser um caso psicológico causado por um trauma, ou mesmo um caso clinico, como no caso tive três alunos irmãos que eram quase cegos, foram encaminhados pela escola ao posto de saúde para avaliação e o departamento de educação deu os óculos, e assim por diante. Naquela época as salas também eram de alunos variados como vocês viram acima, tanto na realidade econômica como sociais, e na verdade pelo que eu entendo nenhum era excluído, pois este preestabelecido na minha classe e das colegas não existia, nós trabalhávamos muito para que todos atingissem o Maximo, e aqueles que não atingissem geralmente era muito pouco, exatamente pelo numero grande de alunos na sala de aula, houve tempo de termos mais de 40 alunos na sala.

Como professores, ajudávamos,comprando o pão, pois muitos iam para escola sem o café da manhã, era uma ação da maioria de nossas colegas e minha também, distinção entre alunos nem pensar, a homogeneidade mesmo que quisesse não podiam existir como vocês leram anteriormente combinávamos entre colegas fazendo no inicio do ano um pequeno teste e depois tentávamos fazer uma classe que pudéssemos trabalhar mais ou menos dando a todos a mesma oportunidade de aprender.

Este Paradigma atual é que precisa ser mudado, pois aqueles alunos que antes era valorizado hoje estão sendo chamado de vândalos, pois as professoras mesmo com no Maximo 30 alunos muitas se queixam que não conseguem dar aulas suficientes, pois as brigas na sala de aula estão em todo lugar. Que estão fazendo os Coordenadores Pedagógicos? Que orientação está sendo dada para eles?

E a Direção? Acusando os professores e os professores os pais, o que fazer? Na verdade está faltando aquele trabalho de equipe do passado, mal falado hoje em dia. Os supervisores tiravam as duvidas dos professores e os orientadores ajudavam o aluno a entender o seu papel de estudante e a função do professor, jamais jogar pais de aluno contra o profissional mais fazer com que estes pais o valorizem e valorizem seus filhos, mantendo o respeito e valorizando a escola. Os professores muito questionavam a presença destes profissionais na escola porem não fizeram nada para supera-los, pois o coordenador que exerce estes dois papéis não conseguiram nos dizer por que está ai, eles precisam de muitos estudos como a Psicologia do Comportamento humano, e a Sociologia para entender melhor os alunos e aprender a lidar com os adultos principalmente os profissionais da entidade e os pais de alunos que são de todas as classes sociais e pessoas que muitas vezes carecem de orientação para educar seus filhos.

Não quero defender o passado nem acusar o presente, mas o que vejo atualmente me entristece, uma vez que no passado nós conseguíamos lecionar e os alunos em sua maioria respeitavam o professor, havia professores de toda sorte e alunos também, mas tínhamos também diretores eficientes, que mantinham o respeito à escola.

Na direção de Escola

Não demorei muito como diretora de escola, apenas um ano na Escola Municipal e dois em Escola particular de 2º grau.

Esta experiência também foi muito boa, em apenas um ano consegui remobiliar as salas, ajuda dos pais de alunos e alunos do turno da noite para fazer mutirão e fazer uma boa faxina, consertar carteiras quebradas, ajeitar as telhas de Eternit dos telhados, limpar as paredes, tudo isto apenas em um sábado e domingo.

As carteiras que sobraram, uma vez que a Prefeitura no deu carteiras novas, foram doadas a outra escola. Os alunos e mães dos alunos nos deram plantas, para ornamentar e armamos estantes de tijolos e tabuas usadas, forramos com papel, fizemos o cantinho do jornal e da ciência e da leitura.

Como os livros eram muito difíceis para o primeiro ano, no primeiro semestre juntamente com os alunos elaboramos uma cartilha. Os textos eram construídos pelos próprios alunos, no quadro de giz e desta leitura a professora fazia diversas atividades de acordo com o assunto do dia. Foi um projeto muito valido, mas a diretora que entrou não deu continuidade. Trabalhávamos em comum acordo professor, alunos, de uma forma dinâmica e integrada. Era um verdadeiro trabalho de Equipe, havia respeito com as diferenças em todos os sentidos.

Nesta época tive problemas sim, com professores, apenas um caso que a professora faltou mais de 30 dias sem dá comunicação do motivo, neste caso dei 20 faltas e como eu havia assumido a sala de aula para os alunos não ficarem prejudicados, não registrei as restantes esperando uma justificativa dos familiares da professora ou dela própria.

Passaram-se trinta dias a professora apareceu em meu apartamento, batendo na porta irada, dizendo: “vim para esfregar o livro de ponto na sua cara”, porque havia lhe dado vinte faltas. Perguntei-lhe se por acaso ela havia mandado alguma justificativa para a escola, e que eu fui boa, uma vez que deveria ter-lhe dado todas as faltas que mesmo assim não justificaria ela esfregar o livro de ponto na minha cara, mas era ela quem devia uma explicação para mim.

Gaguejou, e voltou para a escola com o livro de ponto na mão, depois terminei orientando a mesma para fazer uma exposição de motivos convincentes para que suas faltas fossem abonadas pela S.E.C. A professora do turno da noite também havia viajado sem dar nenhuma justificativa, mas esta nem se abalou, não me perguntou nada, assumiu a classe até hoje não sei qual o caso das duas, nem quero saber.

Ainda no turno da noite, tive um caso de discussão de um aluno com a professora, foi interessante, quando passei próximo a sala ouvi um barulho enorme, muito gente falando, apressei-me e vi a sala de quase 40 alunos (jovens e adultos) todos falando de vez em pé. Coloquei os dedos nos ouvidos, depois que respirei fundo, levantei as mãos para o alto e pedi o seguinte: Peço, por favor, que os adultos sentem e as crianças venham conversar comigo na secretaria.

Sai da sala tranquila uma vez que todos se sentaram e ficaram em silencio. Na verdade esperava que a historia sanasse ali, uma vez que assumiram que eram adultos. Mal me sentei na cadeira, aparece à professora e o aluno discutindo. Falei com o rapaz que ele fosse para casa e quando se sentisse adulto que voltasse, ele perguntou de novo, quando volto? Repeti, quando se senti adulto.

Depois retruquei com a professora, dizendo-lhe que chamei para a secretaria as crianças, porque ela veio atrás do aluno?

Se os professores e diretores falassem de todas as suas experiências na escola daria uma enciclopédia muito interessante, uma vez que cada pessoa é uma pessoa e reagem aos estímulos de maneira diferenciadas.

Como Diretora na Escola Particular

Os alunos eram mais disciplinados, raramente havia problemas há não serem os casos de professor que saiam com as alunas, que no final éramos obrigados a dispensa-los, isto quando os professores eram jovens.

Porem nesta escola teve um caso que não foi de indisciplina, mas era preferível se fosse. Um aluno de mais ou menos vinte anos, fora matriculado no inicio do ano, a mãe dele havia omitido que este rapaz possuía problemas mentais, ou sofria de sistema nervoso, uma coisa desta. Havia tempos que ele escrevia corretamente e às vezes só fazia traços, rabiscos e entregava os exercícios desta maneira à professora, imagina no 2º grau? A professora deu zero. Este rapaz avançou no pescoço da professora e não sei como conseguimos afasta-lo dela. Larga-la. Digo sempre, foi Deus.

Chamamos a mãe e terminou ela nos contando o problema do garoto, um caso de neurose proveniente dos maltrato do pai. Orientamos a mãe leva-lo para um tratamento psiquiátrico, e a mesma nos falou que ele estava fazendo há algum tempo, mas que havia interrompido.