Camilo Pessanha o ritmo nos seus versos cantam a poesia...
Sua influência na poesia portuguesa pode ser apreciada nos trabalhos das gerações a sua época ou as que viriam depois, como: Fernando Pessoa ou Mário de Sá-Carneiro. Um intelectual que queria passar despercebido na roda social portuguesa. Sensibilidade a flor da pele Camilo escrevia sobre os ideais inatingíveis e a inutilidade dos esforços humano. Camilo de Almeida Pessanha nasceu em Coimbra em 7 de Setembro de 1867, fruto da ligação ilícita entre um aristocrata estudante de direito e uma criada. Vamos conhecer um pouco mais deste brilhante poeta português.
Os seus poemas foram publicados, pela primeira, em 1899 - não devido aos esforços de Camilo Pessanha, mas dos amigos. Foram eles que os fizeram chegar às revistas literárias. Foi assim que se tornou uma referência para a geração de Orpheu, que tinha como figuras de proa Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.
Os términos de amores causam verdadeiras catástrofes, naufrágios sentimentais, dos quais Camilo Pessanha recolhe fragmentos eruditos, com extremo cuidado para não marcar expressões sentimentais que pudessem ser previsíveis:
“na fria transparência luminosa”, ou a lucidez de “róseas unhinhas que a maré partira…/ Dentinhos que o vaivém desengastara…./ Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos…”
PHONOGRAPHO
Vae declamando um comico defuncto,
Uma platea ri, perdidamente,
Do bom jarreta... E ha um odor no ambiente
A crypta e a pó, ̶ do anachronico assumpto.
Muda o registo, eis uma barcarola:
Lirios, lirios, aguas do rio, a lua.
Ante o Seu corpo o sonho meu fluctua
Sobre um paúl, - extatica corolla.
Muda outra vez: gorgeios, estribilhos
D’um clarim de oiro – o cheiro de junquilhos,
Vivido e agro! – tocando a alvorada...
Cessou. E, amorosa, a alma das cornetas
Quebrou-se agora orvalhada e velada.
Primavera. Manhã. Que efluvio de violetas!
Regressou algumas vezes a Portugal. Um dos seus melhores amigos era Alberto Osório de Castro, irmão da escritora e feminista Ana de Castro Osório. Pessanha apaixonou-se perdidamente por ela. Um amor não correspondido que durou a vida inteira. Ana de Castro Osório viria a ser uma das responsáveis pela publicação do primeiro livro de Pessanha: “Clepsidra”.
Camilo Pessanha fazia parte do Simbolismo, movimento proveniente de França e da Alemanha, que procurava expressar a realidade através de símbolos. A sua poesia era melancólica e pessimista, como podemos depreender num excerto de “Castelo de Óbidos”:
“O meu coração desce, / Um balão apagado? / Melhor fora que ardesse, / Nas Trevas incendiado.” Em muitas das suas obras, mostrava uma tristeza absoluta e viscosa, de que era impossível fugir, como uma doença. A dor dilacerava.
Camilo Pessanha buscou em Charles Baudelaire, proto-simbolista francês, o termo “Clepsidra”, que elegeu como título do seu único livro de poemas, praticando uma poética da sugestão como proposta por Mallarmé, evitando nomear um objeto direta e imediatamente.
SARAIVA, A. J.; LOPES, O. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto, 1978.
Clepsydra, organizada por Paulo Franchetti e publicada pela Unicamp, em 1994.
Biblioteca Nacional de Portugal. Camilo Pessanha