PARA SER UM SER DIFERENTE

PARA SER UM SER DIFERENTE

Marcial Salaverry

Comecei minhas aventuras nos bancos escolares. Como sempre tinha de ser diferente, era canhoto. Ser canhoto, era algo diabólico para os padres que lecionavam no Colégio Coração de Maria. Primeiro dia de aula, ao pegar no lápis com a mão esquerda, vi uma expressão de horror no rosto santo do Padre Arnaldo que, democraticamente, amarrou minha mão às costas, para forçar-me a escrever com a direita. Ora, algo que sempre tive, foi personalidade, e para ser diferente, não acatei a ordem que me estava sendo imposta, e então, recusei-me a escrever. Ao chegar em casa, contei a meu pai que, imediatamente foi à escola, defender meus direitos (embora eu fosse canhoto). Deixou claro que, se não me fosse permitido escrever como sabia e queria, não apenas eu, como todos meus irmãos e irmãs, seriam retirados do colégio. Daí, por meros e banais interesses comerciais, meus direitos, digamos canhosisticos, foram respeitados. Não preciso dizer que me tornei no alvo preferido dos padres do colégio. Tudo o que acontecia, era por minha culpa. E eu, que sempre fui um garoto muito bem comportado... Em represália, pelo resto da minha vida, sempre tive alergia a padres (ainda mais que conheço cada passagem sobre padres...).