** AMÉRICA DO LOBATO ** Antonio Cabral Filho * http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br/p/cronicas-do-suassui-antonio-cabral.html

Durante toda minha vida, cultivo ao máximo o gosto pelos escritores brasileiros, primeiro os nacionalistas, até descobrir suas xenofobias e verificar quão somos inimigos ideológicos, pois eles reivindicam exclusividade na exploração dos compatriotas.

Mas já cometi equívocos. Só para dar uma ideia, cheguei a pensar que José Lins do Rego fosse comunista, graças à profundidade com que denuncia a realidade nordestina, típica do realismo socialista. Quase o igualei ao Soljenitzin do Ivan Denissovitch.

Mas Jorge Amado salvou-me. Foi quando descobri Graciliano Ramos, que juntou-me com Dona Flor, Alexandre e Outros Heróis e mostrou-me a diferença entre a simples denúncia e o desvelamento da temática social, o que revelou-me a concepção marxista da arte.

A partir de então, passei a ler de tudo, mas livre de qualquer contágio. Agora, reúno Maquiavel,Lévi Strauss, Oliveira Viana, Lima Barreto, Mariátegui, Aluízio Azevedo, Mário de Andrade e, de quebra, o Oswald, devidamente sob as ordens da mamãe, só pra zombar de mim, todos sob o comando do velho Lobato, pra bater papo, regado a café do Sítio do Picapau com bolinhos da Tia Anastácia, e saio ileso avisando que sem Marx não tem saída.

Porém, algo me causava espanto. É que sempre procurei ler meus escritores de ponta a ponta, pra não julgá-los apenas por uma obra e fazer deles um juízo errado ou parcial. É o que aconteceu com o Lobato, que li toda sua obra, com excessão de um livro, o AMÈRICA, sempre empurrado para o lado, deixado para depois, para quando desse, e, muitas vezes o recriminei " pra quê um livro com esse título, cadê o patriotismo?" e seguia impingindo-lhe outas pechas, indignado com meu grande gênio, me perguntando se ele tinha desbundado, jogado a toalha, abandonado a luta, traído seu povo, como normalmente acontece com a esquerda, que se acomoda ou renega.

Outra coisa que me intrigava era uma frase atribuída a ele, " um país se faz com homens e livros ", que eu não achava em nenhum livro e que é reproduzida a torto e à direita. E ei-la na página 45 do dito AMÉRICA, das obras completas, editadas pela Editora Brasiliense em 1966, com exemplares numerados, ostentando o número 3558 e que vem rolando comigo já há mais de vinte anos, finalmente escabaçado hoje pra gozar do meu antiamericanismo.

Mas, pra encerrar, eu queria perguntar ao Lobato se no Memorial Lincon e no Obelisco Washington tem gravada alguma lembrança aos operários que construiram aqueles monumentos...

Antonio Cabral Filho
Enviado por Antonio Cabral Filho em 08/07/2012
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