conto real- Infinitas Lembranças

plantio.jpg?width=500Conto real – infinitas lembranças
 
Ainda ficaram muitas lembranças sem eu narrar aqui. Farei o possível pra resumi-las. Falarei de algumas que estão guardadas  em mim.
Como eu relatei  , o meu pai possuía um rádio.É claro que era a pilha. Ainda não havia energia elétrica em nossa casa. Então vou falar um pouquinho sobre ele. Antes  de completar dez anos, recebemos a visita dos meus avós paternos. O meu avô, pai do meu pai, se chamava Antônio Rafael, a minha avó, Ana Dias Moreira. Como sempre, eu era muito ligada a meus parentes, queria a todos conhecer. Foi maravilhoso conhecer os meus avós paternos. Ele já estava  meio velho, alto, magro, uma barba já branca teimava em crescer no seu rosto, cabelo ralo, um pouco calvo; o meu pai parecia com ele, só que de uma cor mais chegada, moreno, ainda de cabelos pretos, meio careca, olhos pretos como jabuticabas, alto,dava para perceber que era muito peludo pelas vezes que tirava a camisa , a pendurava num toco de árvore próximo ,e ia trabalhar,  ora capinando, ora cavando, ora plantando. Sei que ele não ficava parado. Minha avó Ana já era baixinha, mais cheinha, olhos mais claros, cabelos médios , amarrados num coque, mas muito boa de prosa e no tempero.
   Meu pai era um homem muito belo, sua tez morena combinava com suas grandes sombrancelhas  pretas, penso até que foi isso que mais chamou atenção na minha mãe. Meu pai se chamava Abel Rafael de Oliveira, e minha mãe Felicina Moreira de Aguilar, mulher forte , caráter exemplar, pequeninha também, olhos de um azul intenso, da cor do oceano quando está calmo, cabelos claros, branca, corpo elegante. Eu estou falando sobre  eles pois ainda não os havia descrito. Voltemos ao rádio. Logo que o meu avô chegara na nossa casa, fiquei muito feliz por conhecê-lo. O que mais me entristeceu foi o fato dele ser cego. Tinha acontecido um acidente , não sei ao certo, primeiro ficou cego de um olho, depois o problema passou para o outro, e assim ele ficou até o fim da vida. Mas nas horas vagas, digo horas vagas ,por que mesmo cego, ele ainda ajudava o meu pai no quintal. Depois que as covinhas estavam abertas  para plantar milho, feijão, o meu avô Antônio vinha  tateando com o pé, descobria  a cova, e ia jogando a semente  dentro, jogando a terra com o pé, e ali mesmo a fofava para que ficasse plantadinha. Era mesmo um milagre ...poucos dias depois já começava a brotar uma folhinha. Era maravilhoso  ver o milagre da vida...a vida brotando de uma simples semente.
   Depois que ele vinha descansar, após  ter se alimentado, tomado seu banho de bacia, ele me pedia que ligasse o rádio para ele. Eu ficava tão contente em ajudá-lo,e ia sintonizando em todas as notícias que ele me pedia; tinha o reporteresso, acho que é assim mesmo que se escreve, e eu ficava ali perto dele ouvindo as notícias. Falava-se muito das guerras do golfo pérsico, lá em Israel, da luta travada entre aqueles países do Oriente, Irã, Iraque, das bombas, isso o deixava interessadíssimo, ele queria saber de todas as notícias e falava comigo assim: __É minha filha , o fim dos tempos está próximo...e eu perguntava por quê vô? Ele respondia assim:__as guerras estão aí, , o povo não quer mais trabalhar,a vida está muito difícil . Eu ficava pensando nas palavras dele. Sempre que amanhecia um pouco frio, assim que o sol aparecia, ele gostava de sentar numa cadeira que eu  colocava perto de uma árvore, ele sentava, cruzava as pernas,e o sol começava a banhá-lo com seus raios dourados. Quando ele começava a tirar a blusa de frio já sabia que ele tinha se esquentado. Nós continuávamos conversando.eu  passava a mão de levinho sobre a sua cabeça, às vezes cortava as suas unhas dos pés e das mãos,ele era muito engraçado mesmo. Um dia perguntei pra ele assim:__vô...e ele respondeu.__que foi minha filha? __posso te fazer uma pergunta? Ele respondeu. __pode. Então eu perguntei a ele. ___o senhor já teve sonhos que  no sonho o senhor enxergava?ele me respondeu assim.__já minha filha, muitas vezes. E eu perguntava de novo.___o senhor vê tudo certinho no sonho?ele dizia que sim. Que ele via tudo nítidamente. E que ficava muito alegre. Mas de repente ele acordava e via que foi apenas sonho. E se entristecia de novo. Coitado do meu avô.
  Passaram uma boa temporada conosco, mesmo com muitas dificuldades foi muito bom tê-los conhecido e convivido com eles.Ao voltarem para sua terra, que é em Tuparecê, perto de Medina, a casa para mim ficou vazia, sem sentido, demorou muito para que eu acostumasse. Mas a vida é assim mesmo. Nós temos que passar por experiências para adquirirmos um grau de sensibilidade e amor ao próximo. Por hoje é só . volto com mais de uma das minhas infinitas lembranças.

margarethrafael
Enviado por margarethrafael em 30/06/2012
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