AUTO RETRATO

Mísera condição, a de quem perde seu destino. Marcado ainda

menino para ser ovelha negra, ainda no berço a surpresa... a pobreza

que seria viver toda uma vida perseguido pelo vicio.

De mim, fui vitima e algoz e grito sem voz... não tive nem mesmo o

meu carinho, estou nas garras da esperança carente como criança

que nunca pode brincar. no passo desse esperar... os anos

acumulando-se, abandonando-me as forças... "Tempo sem

complacência me ofereça paciência"... eu a perco todo dia, tudo que

meu seria se pecados não tivesse; sempre que anoitece tristeza por

companhia, lá vem vindo mais um dia pra viver o meu pesar.

Ainda dá pra mudar? tenho que pagar meus pecados,não posso

apagar os fatos, as dividas não honradas, as ofensas não retiradas,

as feridas que jamais serão curadas; Eu me fadei ao infortúnio!

"Minha culpa sim, minha máxima culpa"... quanta gente amargurada,

tantas almas magoadas; quantas mais irei magoar? Não há como

apagar!

Tanto mau eu causei, fui um cão, um perverso ser me julgando no

poder, me destruindo sem o saber e sem poder me arrepender.

Ninguém mais ouve meu lamento, não desperto sentimento, apenas

ódio eu plantei? príncipe malvado, quem dera ser enforcado e parar o

meu sofrer, e é injusto meu pranto por semear a tempestade.

Não deixarei saudade na partida para... quem sabe minha sorte?

"Culpa que me prepare até que a morte nos separe"!

Dói ser culpado, não ter mais um bem querer. Não tendo mais o

poder de confrontar a toda gente com encantar de serpente que

rasteja pelo chão, mas tem a sensação de andar a prumo.

É a minha confissão, o lado podre de mim mas tenho no contraditório

coração um homem puro e bom, um justo que não deixei aflorar, mas,

há de buscar para m'alma a salvação.

Poucas vezes saciada, minha alma machucada, a mente revoltada

pelo que a vida me negou por minha incompetência, por preguiça ou

por carência, esperei pelo maná que afinal não cai do céu, é preciso

cavar, humildade, rastejar pra poder admirar o que é maior que nós.

Não sou mais que um átomo de poeira no infinito universo, nada sou

não fui digno de amor, nada fiz do meu viver, não poupei para o meu

ocaso, parasita do sentir sem voz ativa, desprezei aos mesmos que

que amei, se é amor o que senti. Se nunca fui bom, não sei, não

tenho certeza se quero bem ou crueza.

Um criminoso acuado, animal enjaulado que ainda causa temor

ninguém sabe a minha dor, meu penar, minha prisão... castigo da

solidão.

Eu não vi o jure no qual fui penalizado, fui julgado à revelia a viver

cada dia a pena da caridade, da saudade que resta dos dias que fui

amado mas por minha vaidade fui também desprezado.

Abandono nos meus olhos, cego sem bengala em vala funda que a

faz ao caminhar, ciclo vicioso, por demais orgulhoso não percebe seu

errar. Todos sabem meus pecados sigo apedrejado por cada voz ,

cada olhar.

Mas me resta a esperança da eternidade, de ser de novo criança e

ter a oportunidade, me livrar desta herança, matar minha saudade,

esquecer... não ter mais lembrança, ser amado outra vez, reviver

felicidade, sorrir livre entre os homens, ser um bom humano, cumprir

de Deus, o plano.

Se me der a eternidade, aprendi que a maldade não me dá poder.

Fui vencido por cansaço por minha batalha inglória, ganhei muitos

embates , fechei muitas portas e não me restam mais saídas.

Semente apodrecida, fruto caído no chão(sem usar o coração

pra cativar valor)

Que meus descendentes não herdem maldade, nem saudade ou dor.

Mar Ferreira
Enviado por Mar Ferreira em 28/05/2012
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