VANDERLEY CAIXE

VANDERLEY CAIXE - informações recebidas de Edir de Carvalho

1º de abril de 1964 militares golpistas, seguindo as diretrizes do imperialismo norte-americano, das elites brasileira, depõe o presidente legitimamente eleito, João Goulart, interrompendo uma trajetória democrática reformista em curso. E, instituem a mais violenta ditadura já vista neste país.

Para se manter no poder, prendem lideres políticos, operários, estudantes, intelectuais. Intervem nos sindicatos, cassas opositores no Congresso Nacional, impondo à sociedade brasileira um clima de terror e paralisia.

As leis de exceção são impostas e a insegurança é total.

Paralelamente, começa um novo processo econômico com a predominância do capital financeiro sobre a nação: “é preciso acumular para depois distribuir”. Esse era o “mote” para o desmantelamento de uma via que edificava um modelo de desenvolvimento econômico baseado na preservação dos interesses nacionais e atendendo as reivindicações das camadas menos privilegiadas da população.

Somente acumularam, nunca houve distribuição. Processo que se perpetua até hoje e, da forma mais perversa marginalizando todos os seguimentos da sociedade, para atender os interesses internacionais.

Desde o início do golpe militar, a sociedade civil tentou reagir nas suas mais diversas formas de manifestações: greves, passeatas estudantis, manifestações no Congresso Nacional, atividades de protestos de artistas e intelectuais.

Dezembro de 1968 os golpistas promoveram um outro golpe, dentro do golpe, reprimindo ainda mais todas as manifestações contrárias ao regime. Prisões, torturas, assassinatos são cometidos pelos novos donos do poder. As manifestações, até então pacíficas, contrárias ao regime, deram lugar às resistências armadas de vários grupos em todo o país.

Aqui, em Ribeirão Preto e na região, jovens estudantes, intelectuais, operários e camponeses se organizaram nas fileiras das Forças Armadas da Libertação Nacional, contra a ditadura militar, espalhadas por mais de cinqüenta municípios.

Outubro de 1969, foram presos e torturados. Alguns deles permaneceram no cárcere por vários anos. Dentro das prisões continuaram lutando por meio de denuncias, protestos, greves de fome.

Em meados de 1972, como punição por uma greve de fome realizada nos presídios de São Paulo (Tiradentes, Penitenciária do Estado e na Penitenciária Feminina), por mais de uma centena de presos políticos, frei Betto, frei Ives, frei Fernando, Maurici Politi, Manoel Porfírio e Vandeley Caixe foram transferidos para distante Penitenciária Regional de Presidente Wenceslau, na fronteira com o Mato Grosso. Lá deram continuidade a grve de fome, que durou mais de 40 dias. Posteriormente enquadrados como presos comuns, para serem “reeducados” sob uma disciplina que despersonificaria a individualidade e os re meteriam a condição de seres sem nome e sem história, para serem apenas um número; não conseguiram.

Passaram a lutar dentro do presídio contra tudo isso, que na realidade não deixava de ser conseqüência do que estava ocorrendo fora dos muros da prisão. A nova ordem do capital financeiro, também estava desfigurando o homem lá fora, para impor-lhe um novo modelo econômico.

O presente texto-poesia reflete esses momentos vividos e passados por Vanderley Caixe no cárcere e simultaneamente, consegue nos remeter à sociedade atual: nas prisões a violência contra o preso, seja física, seja pela disciplina desfigurante da personalidade, seja pela invasão dos mais íntimo da sua privacidade. Na sociedade fora das prisões: o processo de alienação imposto pelo atual modelo econômico, fabricou um “novo homem”, passivo e desconhecedor de si mesmo, como protagonista da história. O homem desidentificado, produto da mídia e sem circunstância.

Maio de 1974, Vanderley Caixe após ter cumprido cinco anos de prisão, volta a Ribeirão Preto e conclui o curso de Direito. No ano seguinte, segue para o Rio de Janeiro e por meio da Pastoral Penal dá assessoria aos presos políticos.

Em 1976, a convite de D. José Maria Pires (Arcebispo da Paraíba) coordena o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos criado no Brasil. Dar-se aí o seu contato, por vinte anos, com pequenos agricultores e assalariados rurais: orientando-os para os seus direitos e defendendo-os na justiça. Lá conheceu de perto a perversa dominação do latifúndio sobre os camponeses: a destruição de suas lavouras, a expulsão violenta da terra e assassinatos, amparados pela própria polícia e poder judiciário.

O poema “Dionila” reflete esse instante vivido por Canderley Caixe no Nordeste.

“Os Poemas da Prisão e um Canto da Terra” expressa toda essa realidade.

Eis o que nos convida, a ler como prospectiva de vida.

Ayala A. Rocha

“Vanderley expressa em seus poemas a luta de todos nós que acreditamos em uma sociedade mais justa para todos ...... e

continuamos acreditando.”

Áurea Moretti – ex-presa política

Promoção:

Rotary Clube de Ribeirão Preto – Campos Elísios

Ordem dos Advogados do Brasil – subseção de Rib. Preto

Associação dos Advogados de Ribeirão Preto

ACRIMESP

Colaboração:

GRÁFICA E EDITORA

V. villimpress

LEVANDO A SÉRIO O SEU PAPEL

Quando a primavera chegar

QUANDO a primavera chegar, eu olharei as rosas,

mas os meus olhos estarão obnubilados

/pelos grilhões do inverno passado.

Minha mente estará demasiadamente sombria

para receber a claridade do novo sol.

Minha alma estará triste e dolorida

da última noite passada.

NÃO me lembrarei que a nova estação em flores

estará nascendo.

Recordarei as noites de insônia,

os homens no cárcere padecendo.

QUANDO o dia voltar, eu direi dessas noites

de iniqüidades .

Falarei dos que sofreram o flagelo em celas,

dos que gemeram nus as noites frias

/nas celas-fortes;

do inverno queimando o corpo e a alma

/dos prisioneiros castigados;

da auto-mutilação; dos braços retalhados.

Falarei da demência de homens sobre homens;

da tortura abafada atrás das muralhas.

QUANDO a primavera chegar, eu

quero ter presente o inverno passado.

Não esquecer essas noites que haveremos de impedir;

do homem-besta sobre o homem.

PRPW, 17/8/73

Vanderley Caixe

Do livro “19 Poemas da Prisão e Um Canto da Terra”

de Vanderley Caixe

Informações recebidas de Edir de Carvalho

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 04/02/2007
Código do texto: T369240