O COLÉGIO "STELLA MARIS" DO RIO EM MINHA VIDA
O COLÉGIO "STELLA MARIS"DO RIO EM MINHA VIDA
Aos três anos e meio, depois de voltar das férias em Minas, meu dia começou diferente... Vestido novo, cheio de anáguas, branco com fitas de cetim azul degradê, lindo, sapato preto diferente e até um chapeuzinho. Eu sabia que o assunto era comigo, mas como estava acostumada a passear com minha mãe... acreditei que seria mais um desses passeios.
Almoçamos e minha mãe me vestiu. Eu estava realmente chic. Uma verdadeira boneca.
Ficamos paradas na porta do meu prédio e minha mãe segurava uma malinha, que depois aprendi ser uma merendeira. Ela conversando comigo, me falando de conhecer novos lugares, brinquedos, colegas, brincadeiras, desenhar, colorir e nem tanto assim o assunto prosseguiu, logo parou um ônibus à nossa frente. Assim que fui colocada dentro dele por minha mãe e a madre, vi que seguiria só e abri o berreiro pois não queria ir sozinha para meu colégio. Foi dificílimo parar de chorar... Nessa hora o ônibus já estava longe de casa... Não tinha jeito, tinha que ir, aliás, já tinha ido (ainda bem, digo eu hoje!). Fui, ou me mandaram, contrariada, com o coração partido, o meu e o da minha mãe. Claro que foi uma semana de berreiro, choros, lágrimas.
A Madre responsável pelo ônibus escolheu um lugar para eu me sentar e lá fiquei. Ao meu lado também estava uma menina com um vestido igual ao meu.
A vida em família me fazia muita falta! Havia muitas perdas para lamentar mas eu não podia deixar de ir pois já havia seis meses de colégio pago. A hora era aquela, eu já estava perto dos quatro anos. Devagar me acostumei com a vida fora de casa toda tarde. Comecei também eu a me tornar uma das “bonecas do 'Stella Maris”, elegante, educada e delicada.
Era um colégio lindo, colorido, sala com mesinhas coloridas, uma linda “casa de boneca” para brincarmos com nossa professora. Eram brincadeiras como varrer a casa, pia pra lavar, utensílios de cozinha, quarto com cama para arrumar, casa pequena, própria para as pequeninas alunas brincarem! Nós adorávamos aquele colégio! As “Filhas de Jesus” vivem de “Ensinar Evangelizando e Evangelizar Ensinando”, AMDG, "A Maior Glória de Deus". Os momentos de aprendizagem são também de oração. Desenhar e colorir eram meus momentos preferidos.
Estar oito anos de minha vida no "Stella Maris" do Rio foi o acontecimento mais esplêndido e marcante da minha vida! Curiosa, intrigada com o mundo num colégio que me proporcionava ótima educação e formação moral e religiosa mais o contato direto com a natureza colorida vivenciados frente à Avenida Niemeyer, na “varanda”, na "capela" e no “pátio das árvores” foi realmente o grande diferencial da minha vida! As minhas três paixões!
O "Stella Maris" diante do azul do céu na indefinição do encontro com o mar e eu sentada num banquinho na "varanda", diante do mar-gnífico visto do alto do meu colégio! Contemplativa! Assim foi minha proximidade com Deus!
O azul do céu e mar ao infinito mais o verde de árvores imensas, mais a "capela" ao lado, linda, de mármore trabalhado, ricamente enfeitada mais o esplêndido ensino e religiosidade das "Filhas de Jesus" AMDG, tiveram uma influência marcante na minha vida pessoal e profissional, me fortalecendo nos valores morais e me embasando numa vida cultural já de criancinha! Aprendi no "Stella Maris" e coloquei em prática na vida e no trabalho.
Minha primeira professora no "Jardim Azul do Colégio 'Stella Maris" foi a Madre Diva. Fui abençoada por Deus ao reencontrá-la em 2005, cinquenta depois, na casa para as freiras idosas da congregação! A minha alfabetizadora durante todo o meu período de "bonequinha do Jardim Azul", minha primeira professora ali, junto de mim, novamente! Revi a "Madre Prefeita" - brava! - Madre Euridyna, uma das mais novas da Casa das Idosas, 89 anos. Agora já conversando, eu pedindo conselhos, ouvindo histórias! Como foram lindos aqueles momentos!
Tive uma infância muito feliz, com tudo que eu queria. Passear pela cidade de bonde, lotação, ônibus, ônibus elétrico, ir de barca a Niterói visitar parentes e muito mais, já maiorzinha, em Ipanema, morando numa rua tranquila, a Nascimento Silva, entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e a pedra do Arpoador.
Meu mundo se dividiu quando os mercados municipais do Rio foram fechados, sendo que oito anos de "Stella Maris" ficaram apenas na lembrança, perdidos da minha vida mas não do meu coração. Meu pai resolveu que iríamos mudar para Minas, Cataguases (MG) e continuar a negociar no comércio de alimentos.
No final da adolescência, vi a mim e a meus pais sem dinheiro, meu pai falindo por roubo em seu comércio. Trabalhamos eu e minha primeira irmã, Teresa. Demos "conta do recado". Faculdade particular para três, aluguel, alimento para família de seis, contas diversas, tudo pago por nós duas! Graças a Deus!
Naquela época já havia cursinhos preparatórios para bons empregos no mercado de trabalho. A jornada de estudo e de trabalho era das cinco e trinta horas até às vinte e três horas. Dei conta! Após ser aprovada no vestibular de Letras dois anos antes, fui aprovada num dos concursos para um bom emprego! Vitória!!!
Já com cinco anos de trabalho eu me casei e tive dois filhos. Experiência maravilhosa ser mãe! Inigualável!
Vejo que ser de família de fazendeiros, de estar no "patio das árvores", o trajeto diário pela Avenida Niemeyer cheia de árvores perfumadas ao longo da encosta do Morro dos Dois Irmãos até o meu colégio, me faz perceber a vivência das pessoas com bagagem de verdes, árvores, fazendas, perfumes, terminando por me casar com fillho de fazendeiro.
"STELLA MARIS"
Procuro o tempo que passou
e eu não estava lá...
Passou mas não é passado.
É presente no meu coração.
Transformações aconteceram
sem que eu as acompanhasse...
Tenho que juntar pedaços
- como num quebra-cabeças -
de pessoas que vejo e não reconheço.
Lembranças continuam no meu coração.