Sady Maurente de Azevedo (1928/2004)
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito de Porto Alegre, turma de 1958, Universidade do Rio Grande do Sul, atuou com dedicação e bastante êxito nas diversas áreas do direito, por mais de 40 anos.
Jornalista profissional dirigiu várias publicações: “O Condor”, “Jornal de Literatura” e “A Alvorada”, em Pelotas; “Panorama Esportivo”, em Porto Alegre; “O Foca”, no Rio de Janeiro; semanário “União”, em Pedro Osório etc.
Produziu programas radiofônicos (“Festivais C-3” e “No Reino Encantado das Lendas”) na Rádio Pelotense, e (“Apenas Comentando”, crônicas diárias) na Rádio Cultura, além das histórias rádios-teatrais de “A Sombra do Passado”, na Rádio Pelotense.
Como contista conquistou a medalha de ouro no 1º Concurso Literário Externo, do Atlas Esportes Reunidos, de Pelotas, em 1951, com a novela “Pasto Para a Guerra”, que relata as vicissitudes de um pracinha em terras da Itália, durante a 2º Grande Guerra Mundial. No gênero policial publicou a novela “Ajuste de Contas”, na revista especializada “Policial em Revista”, da empresa A Noite, do Rio de Janeiro, na edição nº. 234, de novembro de 1953.
No campo da poesia, conquistou o 13º lugar no 1º Concurso Nacional de Sonetos, realizado em Corumbá, Mato Grosso, sendo que os demais classificados foram somente do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, em junho de 1972.
No livro “A Trova no Brasil, História e Antologia”, de Aparício Fernandes, da Editora Artenova S/A, editado em 1972, na parte relativa ao Rio Grande do Sul é um dos cinco nomes citados, sendo incluídas duas trovas de sua autoria, como exemplos de trovas líricas e filosóficas. Na coletânea “Trovadores do Brasil”, composta de três alentados volumes, figura no 3º, com a reprodução de 10 trovas de sua autoria, numa publicação da Editora Minerva, em 1970, organizada por Aparício Fernandes. Também figura no livro “Ramalhete de Trovas”, organizado por Décio Valente, editado por L. Oren – Editora e Distribuidora de Livros, em 1977.
Publicou os seguintes livros:
“Musa Pagã” (sonetos, 1961).
“Estrelas de Quatro Pontas” (trovas, 1968).
“Pasto Para a Guerra” e outros contos (1972)
“Contos Primeiros” (contos, 1972).
Vários livros não foram editados:
“Sonetos das Águas” (sonetos)
“Lira Quebrada” (poemas livres)
“Sol Nascente” (haicais)
“Para Alguém com amor” (poemas)
“Diálogos Possíveis” (sonetos)
“Trovas, Relâmpagos e Trovões”.
“Roteiro de amor” (sonetos)
“Fábulas e Fatos do Dia a Dia” (fábulas)
“Sempre” (poemas)
“Ajuste de contas” (novela policial)
“Vi e Vivi” (vívidas vivências)
“O Bom Humor do Poeta Ziver Ritta”.
“Uma Coroa Para Regina” e “Sobe ou Desce?” (uma tragédia e uma comédia, para teatro).
“Crônicas da Cidade Maravilhosa”
“A Sombra do Passado” (contos)
“O Pequeno Mentiroso” (peça em 3 atos)
“Os Três Poetas da Rainha” (poemas, com Ziver Ritta e Júlio A. Nunes).
Morou em Bagé até sua juventude, quando foi estudar em Porto Alegre. Casou-se e decidiu ir morar no Rio de Janeiro. Lá teve três de seus quatro filhos: Sady, Suzana e Diana. Depois, já formado em Direito e morando em Pelotas, nasceu Irineu.
Em Pelotas, granjeou muitas amizades e foi um dos fundadores, primeiro Presidente e titular da Cadeira nº. 1, da Academia Sul-Brasileira de Letras, de Pelotas. Ocupou a cadeira de nº. 19 da Academia Pelotense de Letras. Também foi um dos fundadores do Clipe (Centro Literário Pelotense).
Organizou por muito tempo reuniões semanais, chamadas de “Café Poético”, com trovadores e simpatizantes do assunto, onde realizavam concursos e premiações. Faziam a divulgação dos encontros através de pequenos jornais, com distribuição gratuita.
Conhecido como Sady Maurente, por vezes utilizava-se de pseudônimos, como Bem-Saddar, Malfredo, Semeão, entre outros.
Mesmo antes de se formar, já tinha uma promissora carreira profissional no Rio de Janeiro (nesta época Capital Federal). Mas, apesar de sua estabilidade, optou por retornar ao sul. Disse em uma carta aos pais:
”... o Rio de Janeiro é muito grande para mim. Quando eu vir de novo para o Rio, devo ser grande também. Por enquanto me basta Bagé ou Pelotas”.
Estas palavras, ditas por um poeta, possuem uma dimensão muito além de uma carreira profissional bem sucedida. Não quisera com isto desfazer de Pelotas ou Bagé, já que eram cidades tão queridas. A primeira ele nascera, admirava, deixara parentes, amigos, primeira escola, primeira professora, primeira namorada... Retrata toda essa paixão em seus trabalhos. A outra, acolhia seus pais, irmãos, sogros, sobrinhos, amigos que já possuía... Aprendera a admirar, com o mesmo carinho, que tinha por Bagé. Tais palavras pretendiam a imortalidade. Imortalidade que só os livros possuem. Podemos dizer que, de alguma maneira este sonho foi realizado, mas não na sua plenitude, pois quando o poeta de mais de mil sonetos partiu, deixou ainda uma grande bagagem para ser aberta, vasculhada, criticada por uns e deliciada por outros. O importante é que não a deixemos esquecida. Assim teremos a certeza do dever cumprido, ou seja, de termos levado ao conhecimento de um maior número de pessoas a imensa e valiosa obra deste grande poeta, Sady Maurente de Azevedo.
A propósito, a bageense, Maria Alice Pérez Zeni, em um estudo de curso de pós-graduação cujo tema escolhido foi o “O Poeta Dos 1001 Sonetos” se refere a Sady, como: “... mais de mil sonetos, ao que se sabe, apenas um poeta escreveu: Sady”.
Sady, poeta estudado, era um acentuado idealista, embora, muitas vezes, tentasse parecer um materialista, mediante as desavenças do mundo. Com essa vocação, consegue sobrevoar nos espaços da fantasia, pelo amor e pela justiça social. Ele fala através de seus poemas, seus pensamentos mais profundos ou seus devaneios mais simples e suas idéias mais puras. Sem dúvida nenhuma, era um mestre neste assunto. Em sua obra encontramos uma torrente de sensibilidade: gestos de amor, tormentos de saudade, gritos de alegria e desilusão, hinos de esperança, orações de fé... Enfim, mostra uma poesia sem artifícios, sem fingimentos, ricas em sinceridade, onde o lirismo é doce e profundo, voltado para o amor e a mulher. O poeta, com uma destreza incomum, enaltece a fidalguia, o valor e a candura da mulher. Das características parnasianas, as que se fazem presentes em seus poemas são: o rigor da forma, a preferência de sonetos, o desprezo pelo verso branco ou solto, mas predominam os versos decassílabos. Por isso, Sady Maurente de Azevedo é considerado um poeta parnasiano “tardio” por razões cronológicas. Sady, personalidade ímpar e carisma inconteste do idealista extremado, deixou em suas obras, publicadas ou não: sonetos, trovas, poesias, contos, novelas, quadrinhas, romances... Enfim, uma linda obra, que vale a pena ser conhecida e que tanto orgulha sua família.
Partiu um sonhador. Aquele que fez da poesia seu alimento diário. O que escrevia sem ter que parar e concentrar para começar a escrever. Aquele que em qualquer lugar que estivesse, pedia um pedaço de papel, pois dizia que os versos germinavam de sua mente e ele não podia deixá-los ir embora sem registro. Aquele que escrevia sobre o que queria e em qualquer momento. Aquele que brincava com nomes próprios, fazendo acrósticos para todos que conhecia. Aquele que fez poemas de amor para muitas, pois assim se expressava. Apesar disso, casou-se apenas uma vez e escreveu um livro (não publicado) para este, talvez não o único, mas inegavelmente, um grande amor: Gladys, a mãe de seus filhos.
Com certeza, essa paixão pela poesia o afastou da família. Tinha-se a impressão que o amor maior era a poesia e as musas inspiradoras. Ledo engano! Hoje revendo seus escritos, que por toda sua vida foram, por ele, muito bem guardados, temos a certeza de que sua família, bastante citada em seus versos, tinha sem dúvida, uma grande importância em sua vida. Referia-se a ela, sempre com muito amor, carinho, orgulho, admiração, respeito... Possuía livros, trovas, quadrinhas, acrósticos, poemas... Enfim, versos que demonstram o imenso amor pelos seus. Versos estes, que comovem, distraem, divertem, ou seja, retratam a convivência que desfrutou com sua gente, tão amada por ele.
Este incansável poeta, mesmo durante sua enfermidade, jamais abandonou o papel e a caneta. Em leitos hospitalares, onde esteve internado dezenas de vezes, continuava a escrever. Sua mão já trêmula, por vezes, não acompanhava seu raciocínio rápido em compor, em registrar o que sentia, muitas vezes em pequenos guardanapos de papel. As palavras brotavam, as frases se encaixavam e as rimas davam o toque final. Pronto, mais um poema! E assim foram incontáveis, os que fizera dentro de hospitais, para que as horas passassem rapidamente, sem que ele precisasse olhar no relógio ou perguntar a alguém quantos dias lá ficaria. Estava fazendo o que gostava, e o local, embora inapropriado, não era levado em consideração para sua grande obra. Evidentemente, por toda sua vida, jamais perdeu a esperança de poder mostrá-los a um maior número de pessoas. Claro, o poeta sempre deseja ter sua obra apreciada e/ou criticada. Mas Sady, paralelamente a este dom, a esta bênção, a esta facilidade em fazer versos, tinha a sua dinâmica vida de advogado. Como tal, bastante conhecido e solicitado, nas diversas áreas em que atuava, também fazia da advocacia um sacerdócio. Dizia sempre que não poderia parar de trabalhar porque as pessoas precisavam dele, de seus serviços, que muitas vezes, conforme o cliente, nem honorários cobrava. O tempo foi passando, os poemas se acumulando e ele não tinha tempo para dedicar-se à publicação, embora seu desejo fosse imenso. Quando não estava advogando, atendendo clientes, estudando processos, redigindo petições ou em audiência com juízes, etc., desligava-se deste mundo real e entrava no mundo dos sonhos, do imaginário, dos amores, das reflexões, dos dissabores (por que não?), da utopia, das brincadeiras, das recordações, de um universo fantástico, onde só os verdadeiros artistas conseguem penetrar. Assim ele viveu feliz. Sim, era feliz! Vivera como gostava. Tinha adquirido muita cultura, falava vários idiomas, amante e conhecedor das palavras (mesmo aquelas que jamais ouvimos), mas uma coisa o intrigava e o deixava insatisfeito: durante todo seu tempo de escritor, jamais encontrou rimas para duas palavras. Mesmo assim conseguiu colocá-las em um soneto. Ele era perfeito nessa arte.
Esse homem: filho, irmão, pai e avô, foi um cidadão brasileiro que fez a diferença e que não desistiu diante de nenhuma dificuldade. Cumpriu com brilhantismo, seu papel na sociedade, na história e na cultura deste país.
Sady Maurente de Azevedo faleceu aos 76 anos, deixando quatro filhos e sete netos. Hoje, mais um neto está a caminho. É de Irineu, seu filho caçula.
Esta biografia foi feita em 23 de julho de 2007, três anos após sua morte, pela filha DIANA.
Atualizando em 08/08/2022
Hoje esse admirável homem tem oito netos e seis bisnetos, nomeados abaixo:
Do filho Sady, tem o neto Vitor e a bisneta Luiza;
Da filha Suzana, os netos Marcelo e Fernando;
Da filha Diana, as netas Cíntia, Carla e Carina e os bisnetos Otávio, Heitor, César e Ítalo;
Do filho Irineu, as netas Ingrid e Alana e o bisneto Joaquim.
Meu pai deixou uma obra linda, grandes ensinamentos e o exemplo de busca pelo saber e luta pela justiça.