A FUGA BEM SUCEDIDA
Tenho carregado por toda a minha vida a idéia de que sou e sempre fui muito forte. Aliás, com os meus 67 anos que eu considero bem vividos, já me convenci disso.
E também não pensem meus amigos leitores que isso aqui é uma vaidade na minha auto-biografia. Tenho uma saúde relativamente boa no aspecto físico e mental e acho que devo isto ao fato de na adolescência ter começado a trabalhar muito cedo, portanto, sem tempo para farras e desperdícios de minhas energias.
Pelo fato de jamais ter participado de grupos de pessoas “desesperadas” nunca precisei também cair na conversa dos “Escritores de Deus” que andam por ai pregando Jesus como solução de problemas existencialistas. Portanto, um dos meus pontos fortes na luta pela sobrevivência foi exatamente saber fugir das tentações e entre elas cair nas garras de arrecadadores mercenários de dízimos.
Todos os problemas que não foram poucos em minha pacata existência, incluindo o financeiros e econômico, (o ultimo precário por imposição daqueles que me antecederam geneticamente), jamais me deixaram cambaleante, fora do ar, com vontade de morrer. Digo isso (e escrevo) porque creio que carrego uma frustração por não ter sido agraciado em toda minha vida, com pelo menos um tostão de herança.
Todas as agressões que sofri, morte de Pai, mãe, irmãos, parentes mais chegados, abuso de pequenas autoridades, ofensas ou brincadeiras de mau gosto de amigos (especialmente os mais jovens, que são atrevidos e irreverentes) que sempre acham os mais velhos com cara de macaquinhos de circo, frustrações por não conseguir realizar objetivos mais próximos da realidade, nunca foram para mim motivos relevantes que me fizessem pensar em dar cabo da minha própria vida. Perseguições e inveja de colegas em empregos diversos. Violência de ex-esposa possessiva.
Achei a coisa mais ridícula da minha existência, quando aceitei um convite insistente de uma amiga psicóloga para que eu participasse de uma reunião de um grupo de terapia intensiva em BHte (quando eu ainda morava lá) a pretexto de que as “dificuldades” que eu estava vivendo justificariam tal procedimento e estou certo de que ela o fez para tentar me ajudar, pois não se falou na questão crucial que a gente chama de honorários. Com o tempo passando, a gente vai amadurecendo e perdendo algum "status" e até mesmo poder, o que é natural. Derrotas que também estão inseridas nesse contexto, devem ser encaradas como normais e todos os psicólogos e psiquiatras pensam que podem reverter essas situações.
Sentei-me junto com várias pessoas na época funcionários de uma grande Estatal e com 15 minutos eu já estava zombando de mim mesmo, por estar entre aqueles "chorões, fracos e derrotados". Eu, absolutamente me senti um peixe fora d´água, pedi licença, cai fora e minha amiga, minha bondosa e bem intencionada amiga, nunca mais tocou nesse assunto comigo. Foi a fuga mais espetacular e bem sucedida da minha vida.
Por uma coincidência que me incomoda muito, muitos daqueles mais jovens desrespeitosos que me achincalharam, me chamando de “veio isso”, “véio aquilo” por motivos variados já morreram e eu tive o desprazer de ter que chorar a morte deles e com aquele “leve” sentimento de culpa.
Não é que eu esteja me sentindo competente em “rogar pragas”, mas já estou ficando famoso por externar com indignação meu protesto contra esse comportamento e já notei que ganhei algum respeito com a garotada (rs).
A gente não pode confundir esse tipo de coisa passageira, com respeito. Esse, a gente tem que impor. Quando você não consegue impor respeito ou ganhar o respeito de um amigo ou de um grupo de amigos, ao invés de ficar deprimido, troque de amigo, ou, se necessário for, substitua-o ou ao grupo inteiro. Se você não conseguir fazer isto, então o problema é mesmo seu. Submeta-se. O melhor local para isso é o divã. Finalizando, acho que tudo na vida, a gente tem que encarar numa boa, tudo tem seu tempo certo e o melhor mesmo é a gente poder viver também das boas lembranças da vida, que é maravilhosa, deliciosa, com todos os imprevistos e contratempos.