Cesário Verde o Poeta de Fernando Pessoa...

Pois é, você conhece Cesário Verde? Fernando Pessoa o admirava! Cesário Verde viveu o paradigma da revolução industrial e a corrida dos homens do campo em busca do progresso e do dinheiro nas grandes cidades. Sem trabalhador no campo, a fome se abateu em muitos lugares, e, Portugal ainda tão frágil na sua economia não escapou de ver a sua população faminta. Cesário escreve sobre o que vê e o que vive sem esperança das benesses para a população miserável, advindas da industrialização e do progresso!

José Joaquim Cesário Verde, nascido a 25 de Fevereiro de 1855, morreu muito jovem, a 19 de Julho de 1886. Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se na Universidade de Coimbra em 1873, frequentando por apenas alguns meses o curso de Letras. Ali conheceu Silva Pinto, grande amigo pelo resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as atividades de comerciante, herdadas do pai.

A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência. Ao contrário de outros poetas anteriores, o campo não tem um aspecto idílico, paradisíaco, bucólico, susceptível de devaneio poético, mas sim um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade. O campo é um espaço de vitalidade, alegria, beleza, vida saudável… Na cidade, o ambiente físico, cheio de contrastes, apresenta ruas macadamizadas/esburacadas, casas apalaçadas (habitadas pelos burgueses e pelos ociosos)/quintalórios velhos, edifícios cinzentos e sujos… O ambiente humano é caracterizado pelos calceteiros, cuja coluna nunca se endireita, pelos padeiros cobertos de farinha, pelas vendedeiras enfezadas, pelas engomadeiras tísicas, pelas burguesinhas… É neste sentido que podemos reconhecer a capacidade de Cesário Verde em trazer para a poesia o real quotidiano do homem citadino.

DE TARDE _Cesário Verde

Naquele pique-nique de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o Sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas!

Portugal em meados do século XIX

O povo se alimentava de castanha, que tinha um papel preponderante na alimentação, assim como as hortaliças, a caça, alguns produtos de animais domésticos, juntamente com pão de trigo e centeio. Depois vieram o milho e mais tarde a batata, o arroz e o peixe seco (bacalhau e outros), o peixe de água doce desde há muito era utilizado uma vez que estava acessível nos rios e ribeiras. Gastava-se na alimentação o azeite e o vinho. O arroz doce, as rabanadas, as broas de mel, só nas festas e casamentos.

EU E ELA_ Cesário Verde

Cobertos de folhagem, na verdura,

O teu braço ao redor do meu pescoço,

O teu fato sem ter um só destroço,

O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,

Sobre um banco de mármore assentados.

Na sombra dos arbustos, que abraçados,

Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,

Sem gozos sensuais, sem más idéias,

Esquecendo para sempre as nossas ceias

E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos

Um livro que nos diga muitas cousas

Dos mistérios que estão para além das lousas,

Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distração,

Leremos bons romances galhofeiros,

Gozaremos assim dias inteiros

Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,

Nós leremos, aceita este meu voto,

O Flos-Sanctorum místico e devoto

E o laxo Cavaleiro de Faublas...

Um fragmento da obra-prima de Cesário Verde que abre e fecha com dois dos mais belos quartetos da língua portuguesa, dignos antecessores do melhor Fernando Pessoa:

Nas nossas ruas, ao anoitecer,

Há tal soturnidade, há tal melancolia,

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

(…)

E, enorme, nesta massa irregular

De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,

A Dor humana busca os amplos horizontes,

E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Em 1877 lhe começou a dar sinais a tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes servem de inspiração a um de seus principais poemas, Nós (1884).

Tenta curar-se da tuberculose, sem sucesso; vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde (disponível ao público em 1901), compilação de sua poesia.

De poesia delicada, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, seus cenários prediletos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se da forma mais natural possível.

Fonte: Cesário Verde, in O Livro de Cesário Verde

http://www.eb23-cmdt-conceicao-silva.rcts.pt/sev/hgp/6_ano.htm

http://zeroum.no.sapo.pt/Portugal_sec_XIX/sb8_Actividades.htm

http://comunidade.sol.pt/blogs/olindagil/archive/2008/02/15/PORTUGAL-NO-S_C900_CULO-XIX-_2D00_-A-VIDA-NO-CAMPO.aspx

http://armonte.wordpress.com/tag/cesario-verde/

A imigração portuguesa IBGE | Página 3 Pedagogia & Comunicação