ANDANÇAS DE FERNANDO PELTIER (PELO E COM O TEATRO) NOS ÁRIDOS E ÁSPEROS
SERTÕES DA BAHIA...

Foto capa, em pé: Helga Braga é Pinóquio, Suzy Martins é a Fada Madrinha, Fernando Peltier é Gepeto. Sentados: Joana Kalyl é Pinóquio e Tamara Fuchs é a Gata Fígara.

Música de fundo: O CAVALEIRO, Geraldo Vandré  

I – QUEM?...
 
Soteropolitano, portanto, baiano, nascido em 1948.
 
Fernando Peltier é Diretor Teatral formado pela Escola de Teatro da UFBA, 1988.
 
E neste ano da graça de 2012, ele completa 50 anos de atividades nesse segmento.
 
Antes disso e desde então, faz teatro a partir de 1962, onde, em Jequié, pisou pela primeira vez num palco para improvisar um palhaço “alegre” chamado Tristeza em par de contracena com Leônidas Michelli, que por sua fez interpretou outro palhaço “triste” chamado Alegria, performances criadas e realizadas de supetão (sem texto, roteiro ou direção). Era o primeiro inconsciente contato com o signo das 02 máscaras, uma que “sorri” e representa a Comédia e a outra que “chora” denotando a Tragédia.
 
Entre 1964 e 1966, participou de importantes movimentos artístico-culturais (e políticos) ocorridos no Colégio Estadual da Bahia, conhecido como Central, a frequentar laboratórios de sensibilização do Ator e a compor os elencos dos grupos GATEB e GATBA, ambos, com o mesmo nome por extenso, embora grupos diversificados, traduzidos em: Grupo Amador de Teatro Estudantil da Bahia, início pleno da ditadura militar no Brasil.
 
Em 1965 foi convidado a participar das peças montadas pela Sociedade Teatro dos Novos, no novíssimo TEATRO VILA VELHA, sob a direção de Othon Bastos e João Augusto. Foi então que conheceu Caetano, Bethânia, Tomzé e se impregnou e se encantou com a poesia, a música e a simpatia desses.
 
De 1966 a 1976, esteve em Serrinha, onde criou o GRUDE-SE – Grupo Debate Serrinha e o CRIARTE – Criação de Arte Criança-Teatro em Movimento, onde, por ter um único olho, haja vista a sua pouquíssima e inusitada experiência com essa linguagem, passou a orientar oficinas e a dirigir espetáculos, inaugurando-se como Diretor Teatral, apaixonando-se por essa função. Eis um momento rico de experimentos e liberdade criativa, que o fez crescer e lhe deu firmeza para correr atrás do sonho descoberto naquele momento, o de vir a ser Diretor Teatral e Dramaturgo.
 
Voltou a Salvador para fazer o Curso Bacharelado em História Geral, incompleto, na UCSAL, em 1969, que lhe valeu valorosos conhecimentos sobre a humanidade e seus “trágicomediosos” dramas.
 
Mas foi em 1982 que se tornou Instrutor de Teatro do SESI e escreveu para uma montagem institucional, a peça “POR UM TRIZ...  (TRISCOU, PEGOU!) DANÇAM O PALHAÇO E A BAILARINATRIZ!...”
Nesta década trabalhou novamente no Teatro Vila Velha com Phil Moreno e Équio Reis, e, também com Harildo Deda, Paulo Dourado e Carlos Petrovich na Escola de Teatro da UFBA, além de ter realizado diversos espetáculos infanto-juvenis com Manoel Lopes Pontes e Nonato Freire.
 
Também, entre 1984 e 1988, foi representante teatral da MAURÍCIO DE SOUZA PRODUÇÕES LTDA, tendo produzido e dirigido os espetáculos da TURMA DA MÔNICA, apresentados em diversas cidades do Brasil. Criou o Projeto CIRANDA DO TEATRO que permanece vivo até os dias atuais, a levar o teatro às escolas e as escolas às casas de espetáculos da Bahia, num processo de formação de plateia.
 
Entre os anos de 1984 e 1999 fez adaptações inspiradas na peça “O Jardim das Borboletas”, de autoria de André José Adler, que originou dois outros novos textos adaptados, que são: “Insetos & Flores – Primavera de Amores” e “O Jardim das Abelhas”, como também “Pinóquio”, a partir da obra original de Carlo Collodi.
 
Escreveu e montou os musicais “BEATLECAETANUS” e “VINÍCIUS DO AMOR DEMAIS”, festejadíssimos e ainda fundou sua própria SPALLA - Escola de Arte, em Salvador e criou, dirigiu, produziu e adaptou “ALEGORIA ALEGRIA!” e “A NOVIÇA REBELDE”.
 
Em 1996 lança o seu primeiro livro chamado “NÓS TE ATRAMOS”, título que subliminarmente sugere “nós te atraímos e/ou fazemos teatro”. Em 1997, foi a hora e a vez de publicar seu primeiro livro de poesias denominado “ESCOLA UTOPIA”, até então, produções independentes, para em 1998, lançar pela EGBA – Empresa Gráfica da Bahia, FUNCEB - Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia, a produzirem e lançarem o seu terceiro livro intitulado “HEURECA! – NOTÁVEIS ENCONTROS COM O SABER” e em 2006, por sua vez e pelos mesmos editores, lançarem o “TEATRO NOSSO CADA DIA”. Nesse item dos livros, eis os únicos reconhecimentos públicos culturais dos poderes constituídos, recebidos por ele.
 
E, em 2010, pela Editora Word’art Friends, da Cidade do Porto, em Portugal, a publicação do seu quinto livro, o 2º de poesia, nominado como “NA PALMA DA CALMA DA ALMA”.
Ele já tem pronto a irem ao prelo “PÕE POEMA, PÕE POESIA”, “O NARIZ DO DONO”, “QUEM TEM MEDO DE FALAR EM PÚBLICO?”, além de sua divertidíssima autobiografia “CONVERSAS COM MACAÚBAS”.
   
Fernando Peltier em sua paixão pelo interior retornou a Serrinha em 2004, onde permaneceu até 2008. Está hoje em Araci, município e cidade com cerca de 50.000 habitantes, num circuito de 40 quilômetros adiante de Serrinha e antes de Caldas do Jorro, região nordeste do semiárido da Bahia, no Território do Sisal, onde trabalha e reside. Nesta cidade ele criou a CIA ICARASO DE TEATRO (ICARA é Araci de trás pra frente e RASO é o carinhoso apelido da cidade), além de ter escrito, o já posto em prática, “Projeto de Educação Popular Para Não Ter Que Punir Os Homens!”.
 
II – IDENTIFICAÇÃO (E “APAIXONAMENTO”) PELO INTERIOR BAIANO...
Aos 09 anos de idade, por conta de ser um garoto arisco, e, por isso, indisciplinado em casa, mandaram-me morar, como castigo, com a sogra de uma sua irmã, na encantadora Amargosa. Ele, que até então vivera enclausurado num apartamento em Salvador, descobriu o ar puro, a tranquilidade, paz e liberdade, em todos os sentidos, de uma cidade do interior e parecia nunca mais querer voltar à metrópole baiana, mas teve de retornar pouco tempo depois.
Mas a sua rebeldia lhe levaria a um novo exílio, desta vez em Jequié, 1962. E foi ali que ele foi empurrado, sem nenhuma noção a um pequeno palco do salão paroquial e ter de se “virar nos 30”, conforme descreve o primeiro parágrafo.
Até os 14 anos de idade, ele nunca tivera contato com o Teatro propriamente dito, mas já lia livros da estante da casa de seus pais e achava interessante aquela forma de literatura, a dramática, onde de saída se descreviam os personagens, dizendo deles suas características e os aspectos mais interessantes e importantes. Depois, o texto propriamente dito, e, entre Molière e Shakespeare, via à margem esquerda, os nomes de cada personagem, em seguida, um hífen e logo após, a fala propriamente dita, e, entre parênteses, o que se chama de “rubrica” com as explicações de como proceder na construção e formato da montagem daquele texto como peça teatral em sua montagem. Destarte, parecia-lhe facilitar a concentração na leitura e a compreensão propriamente dita de que leríamos muito mais prazerosa e compreensivamente do que, nos demais textos em prosa e em verso.
III – HISTÓRICO COM O TEATRO
Apesar da família de classe-média, média, mas com um excelente nível cultural, o Teatro não fizera ainda parte de sua vida, e mais tarde, já despertado para o mesmo e buscando o apoio familiar, ouvia a célebre frase de sua mãe:
-          “Eu prefiro chorar sua morte, do quê, por sua sorte!...”
Isso lhe provocou à decisão de fazer Teatro escondido até libertar-se da tutela materna.
IV – DESCOBERTAS
No Teatro descobre muitas coisas, além do seu tesouro próprio de vida.
Por exemplo, que se há de mostrá-lo desde a mais tenra idade, e que, se uma criança em sua primeira audição, tiver a infelicidade de assistir a uma peça que venha a lhe desagradar, ela passa a ter trauma e até pânico de Teatro, passando a não querer jamais retornar a tal experiência. Daí um enorme cuidado com o que se faz e o que se monta.
Que o interior do estado e suas populações são muito mais carentes e menos privilegiados que a capital e algumas cidades maiores, como Feira de Santana e Vitória da Conquista, em termos de contemplação de políticas públicas e possibilidades artísticas e culturais. Daí, a sua preocupação de estar sempre buscando um público novo ou renovado, levou-o a uma verdadeira maratona pelo interior da Bahia com um projeto chamado CIRANDA DO TEATRO, hoje, mais elaborado e desdobrado em sua amplitude, com o nome de PROJETO DE EDUCAÇÃO POPULAR – PARA NÃO TER QUE PUNIR OS HOMENS.
Essas atitudes visam formar plateias, a partir dos 02 anos de idade e desde os anos 80, crê ele, que ajudou realmente, a que hoje tenhamos uma quantidade multiplicada de público nas casas pertinentes às exibições teatrais. Porém, nunca teve visibilidade, sequer, qualquer reconhecimento e apoio dos governos, sejam municipais, estadual ou federal.
Nunca, em tempo algum, esses projetos tiveram qualquer incentivo (exceção de Jequié e Araci), fosse pela forma mais simples, natural e direta ou pela via dos “editais”. Muitas vezes ele se sente discriminado, conquanto o seu trabalho teatral nada significasse, dentro do que está sempre a propor e a fazer.
Quando caminha pelas cidades tem uma aceitação e receptividade maravilhosas pelas escolas particulares e a queixa é grande em relação ao descaso nessas atitudes por parte daqueles que vivem “falando e pregando” políticas públicas para as Artes Cênicas e a cultura, mas é um grande risco disputar venda de ingressos X despesas de deslocamento e estada das companhias teatrais circulantes.
Seja lá como for nunca desistirá dessa luta e são notórias as vitórias, seja pela formação de plateia ou pelo surgimento de interesses renovados, de crianças e jovens, pelo Teatro, seja para a sua prática e descoberta como escolha profissional, seja meramente como espectador.  
O Projeto de Educação Popular propõe também, no ensejo de mostrar teatro desde as mais tenras idades, a realização de Oficinas, Work Shops e outros, dando vazão a um vasto sentido de consciência, informação e sensibilização para essa secular atividade riquíssima à Educação, aos segmentos da Medicina, nas ramificações de terapias psíquicas e psicológicas, nas terapias da alma. Enfim, à formação de seres e às usas próprias vidas, agindo como ferramenta que levam aos extravazamentos que lhes dão o equilíbrio emocional.
Segundo ele, fazer Teatro não implica em seguir carreira, posto que, se alguém escolhe qualquer outra profissão, mas passou pelo Teatro, estará sempre pronto a ser um artista exatamente por ter desenvolvido habilidades que o tornam esse artista nas relações públicas e na criatividade.
Tiver que sugerir apenas uma, dentre as mais diversas estratégias ao desenvolvimento das Artes Cênicas, ele indicaria e diria da criação de cursos nas universidades, sobretudo, no âmbito das Licenciaturas, posto que, não existem professores de teatro no interior brasileiro.
A profissão de Teatro requer aptidão e uma superdose de amor, mas é uma profissão como qualquer outra e sobrevive-se e até vive-se dela, assim como o Circo. Com a vantagem de que o Circo tem uma estrutura que pode servir aos seus artistas, técnicos, de moradia familiar em seu viver nômade, defendendo diuturnamente essa atividade, a correr Brasil e mundo afora.


I – QUEM?... Soteropolitano, portanto, baiano, nascido em 1948. Fernando Peltier é Diretor Teatral formado pela Escola de Teatro da UFBA, 1988. E neste ano da graça de 2012, ele completa 50 anos de atividades nesse segmento. Antes disso e desde então, faz teatro a partir de 1962, onde, em Jequié, pisou pela primeira vez num palco para improvisar um palhaço “alegre” chamado Tristeza em par de contracena com Leônidas Michelli, que por sua fez interpretou outro palhaço “triste” chamado Alegria, performances criadas e realizadas de supetão (sem texto, roteiro ou direção). Era o primeiro inconsciente contato com o signo das 02 máscaras, uma que “sorri” e representa a Comédia e a outra que “chora” denotando a Tragédia. Entre 1964 e 1966, participou de importantes movimentos artístico-culturais (e políticos) ocorridos no Colégio Estadual da Bahia, conhecido como Central, a frequentar laboratórios de sensibilização do Ator e a compor os elencos dos grupos GATEB e GATBA, ambos, com o mesmo nome por extenso, embora grupos diversificados, traduzidos em: Grupo Amador de Teatro Estudantil da Bahia, início pleno da ditadura militar no Brasil. Em 1965 foi convidado a participar das peças montadas pela Sociedade Teatro dos Novos, no novíssimo TEATRO VILA VELHA, sob a direção de Othon Bastos e João Augusto. Foi então que conheceu Caetano, Bethânia, Tomzé e se impregnou e se encantou com a poesia, a música e a simpatia desses. De 1966 a 1976, esteve em Serrinha, onde criou o GRUDE-SE – Grupo Debate Serrinha e o CRIARTE – Criação de Arte Criança-Teatro em Movimento, onde, por ter um único olho, haja vista a sua pouquíssima e inusitada experiência com essa linguagem, passou a orientar oficinas e a dirigir espetáculos, inaugurando-se como Diretor Teatral, apaixonando-se por essa função. Eis um momento rico de experimentos e liberdade criativa, que o fez crescer e lhe deu firmeza para correr atrás do sonho descoberto naquele momento, o de vir a ser Diretor Teatral e Dramaturgo. Voltou a Salvador para fazer o Curso Bacharelado em História Geral, incompleto, na UCSAL, em 1969, que lhe valeu valorosos conhecimentos sobre a humanidade e seus “trágicomediosos” dramas. Mas foi em 1982 que se tornou Instrutor de Teatro do SESI e escreveu para uma montagem institucional, a peça “POR UM TRIZ... (TRISCOU, PEGOU!) DANÇAM O PALHAÇO E A BAILARINATRIZ!...” Nesta década trabalhou novamente no Teatro Vila Velha com Phil Moreno e Équio Reis, e, também com Harildo Deda, Paulo Dourado e Carlos Petrovich na Escola de Teatro da UFBA, além de ter realizado diversos espetáculos infanto-juvenis com Manoel Lopes Pontes e Nonato Freire. Também, entre 1984 e 1988, foi representante teatral da MAURÍCIO DE SOUZA PRODUÇÕES LTDA, tendo produzido e dirigido os espetáculos da TURMA DA MÔNICA, apresentados em diversas cidades do Brasil. Criou o Projeto CIRANDA DO TEATRO que permanece vivo até os dias atuais, a levar o teatro às escolas e as escolas às casas de espetáculos da Bahia, num processo de formação de plateia. Entre os anos de 1984 e 1999 fez adaptações inspiradas na peça “O Jardim das Borboletas”, de autoria de André José Adler, que originou dois outros novos textos adaptados, que são: “Insetos & Flores – Primavera de Amores” e “O Jardim das Abelhas”, como também “Pinóquio”, a partir da obra original de Carlo Collodi. Escreveu e montou os musicais “BEATLECAETANUS” e “VINÍCIUS DO AMOR DEMAIS”, festejadíssimos e ainda fundou sua própria SPALLA - Escola de Arte, em Salvador e criou, dirigiu, produziu e adaptou “ALEGORIA ALEGRIA!” e “A NOVIÇA REBELDE”. Em 1996 lança o seu primeiro livro chamado “NÓS TE ATRAMOS”, título que subliminarmente sugere “nós te atraímos e/ou fazemos teatro”. Em 1997, foi a hora e a vez de publicar seu primeiro livro de poesias denominado “ESCOLA UTOPIA”, até então, produções independentes, para em 1998, lançar pela EGBA – Empresa Gráfica da Bahia, FUNCEB - Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia, a produzirem e lançarem o seu terceiro livro intitulado “HEURECA! – NOTÁVEIS ENCONTROS COM O SABER” e em 2006, por sua vez e pelos mesmos editores, lançarem o “TEATRO NOSSO CADA DIA”. Nesse item dos livros, eis os únicos reconhecimentos públicos culturais dos poderes constituídos, recebidos por ele. E, em 2010, pela Editora Word’art Friends, da Cidade do Porto, em Portugal, a publicação do seu quinto livro, o 2º de poesia, nominado como “NA PALMA DA CALMA DA ALMA”. Ele já tem pronto a irem ao prelo “PÕE POEMA, PÕE POESIA”, “O NARIZ DO DONO”, “QUEM TEM MEDO DE FALAR EM PÚBLICO?”, além de sua divertidíssima autobiografia “CONVERSAS COM MACAÚBAS”. Fernando Peltier em sua paixão pelo interior retornou a Serrinha em 2004, onde permaneceu até 2008. Está hoje em Araci, município e cidade com cerca de 50.000 habitantes, num circuito de 40 quilômetros adiante de Serrinha e antes de Caldas do Jorro, região nordeste do semiárido da Bahia, no Território do Sisal, onde trabalha e reside. Nesta cidade ele criou a CIA ICARASO DE TEATRO (ICARA é Araci de trás pra frente e RASO é o carinhoso apelido da cidade), além de ter escrito, o já posto em prática, “Projeto de Educação Popular Para Não Ter Que Punir Os Homens!”.

II – IDENTIFICAÇÃO (E “APAIXONAMENTO”) PELO INTERIOR BAIANO... Aos 09 anos de idade, por conta de ser um garoto arisco, e, por isso, indisciplinado em casa, mandaram-me morar, como castigo, com a sogra de uma sua irmã, na encantadora Amargosa. Ele, que até então vivera enclausurado num apartamento em Salvador, descobriu o ar puro, a tranquilidade, paz e liberdade, em todos os sentidos, de uma cidade do interior e parecia nunca mais querer voltar à metrópole baiana, mas teve de retornar pouco tempo depois. Mas a sua rebeldia lhe levaria a um novo exílio, desta vez em Jequié, 1962. E foi ali que ele foi empurrado, sem nenhuma noção a um pequeno palco do salão paroquial e ter de se “virar nos 30”, conforme descreve o primeiro parágrafo. Até os 14 anos de idade, ele nunca tivera contato com o Teatro propriamente dito, mas já lia livros da estante da casa de seus pais e achava interessante aquela forma de literatura, a dramática, onde de saída se descreviam os personagens, dizendo deles suas características e os aspectos mais interessantes e importantes. Depois, o texto propriamente dito, e, entre Molière e Shakespeare, via à margem esquerda, os nomes de cada personagem, em seguida, um hífen e logo após, a fala propriamente dita, e, entre parênteses, o que se chama de “rubrica” com as explicações de como proceder na construção e formato da montagem daquele texto como peça teatral em sua montagem. Destarte, parecia-lhe facilitar a concentração na leitura e a compreensão propriamente dita de que leríamos muito mais prazerosa e compreensivamente do que, nos demais textos em prosa e em verso. III – HISTÓRICO COM O TEATRO Apesar da família de classe-média, média, mas com um excelente nível cultural, o Teatro não fizera ainda parte de sua vida, e mais tarde, já despertado para o mesmo e buscando o apoio familiar, ouvia a célebre frase de sua mãe: - “Eu prefiro chorar sua morte, do quê, por sua sorte!...” Isso lhe provocou à decisão de fazer Teatro escondido até libertar-se da tutela materna. IV – DESCOBERTAS No Teatro descobre muitas coisas, além do seu tesouro próprio de vida. Por exemplo, que se há de mostrá-lo desde a mais tenra idade, e que, se uma criança em sua primeira audição, tiver a infelicidade de assistir a uma peça que venha a lhe desagradar, ela passa a ter trauma e até pânico de Teatro, passando a não querer jamais retornar a tal experiência. Daí um enorme cuidado com o que se faz e o que se monta. Que o interior do estado e suas populações são muito mais carentes e menos privilegiados que a capital e algumas cidades maiores, como Feira de Santana e Vitória da Conquista, em termos de contemplação de políticas públicas e possibilidades artísticas e culturais. Daí, a sua preocupação de estar sempre buscando um público novo ou renovado, levou-o a uma verdadeira maratona pelo interior da Bahia com um projeto chamado CIRANDA DO TEATRO, hoje, mais elaborado e desdobrado em sua amplitude, com o nome de PROJETO DE EDUCAÇÃO POPULAR – PARA NÃO TER QUE PUNIR OS HOMENS. Essas atitudes visam formar plateias, a partir dos 02 anos de idade e desde os anos 80, crê ele, que ajudou realmente, a que hoje tenhamos uma quantidade multiplicada de público nas casas pertinentes às exibições teatrais. Porém, nunca teve visibilidade, sequer, qualquer reconhecimento e apoio dos governos, sejam municipais, estadual ou federal. Nunca, em tempo algum, esses projetos tiveram qualquer incentivo (exceção de Jequié e Araci), fosse pela forma mais simples, natural e direta ou pela via dos “editais”. Muitas vezes ele se sente discriminado, conquanto o seu trabalho teatral nada significasse, dentro do que está sempre a propor e a fazer. Quando caminha pelas cidades tem uma aceitação e receptividade maravilhosas pelas escolas particulares e a queixa é grande em relação ao descaso nessas atitudes por parte daqueles que vivem “falando e pregando” políticas públicas para as Artes Cênicas e a cultura, mas é um grande risco disputar venda de ingressos X despesas de deslocamento e estada das companhias teatrais circulantes. Seja lá como for nunca desistirá dessa luta e são notórias as vitórias, seja pela formação de plateia ou pelo surgimento de interesses renovados, de crianças e jovens, pelo Teatro, seja para a sua prática e descoberta como escolha profissional, seja meramente como espectador. O Projeto de Educação Popular propõe também, no ensejo de mostrar teatro desde as mais tenras idades, a realização de Oficinas, Work Shops e outros, dando vazão a um vasto sentido de consciência, informação e sensibilização para essa secular atividade riquíssima à Educação, aos segmentos da Medicina, nas ramificações de terapias psíquicas e psicológicas, nas terapias da alma. Enfim, à formação de seres e às usas próprias vidas, agindo como ferramenta que levam aos extravazamentos que lhes dão o equilíbrio emocional. Segundo ele, fazer Teatro não implica em seguir carreira, posto que, se alguém escolhe qualquer outra profissão, mas passou pelo Teatro, estará sempre pronto a ser um artista exatamente por ter desenvolvido habilidades que o tornam esse artista nas relações públicas e na criatividade. Tiver que sugerir apenas uma, dentre as mais diversas estratégias ao desenvolvimento das Artes Cênicas, ele indicaria e diria da criação de cursos nas universidades, sobretudo, no âmbito das Licenciaturas, posto que, não existem professores de teatro no interior brasileiro. A profissão de Teatro requer aptidão e uma superdose de amor, mas é uma profissão como qualquer outra e sobrevive-se e até vive-se dela, assim como o Circo. Com a vantagem de que o Circo tem uma estrutura que pode servir aos seus artistas, técnicos, de moradia familiar em seu viver nômade, defendendo diuturnamente essa atividade, a correr Brasil e mundo afora.
Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 17/04/2012
Reeditado em 18/04/2012
Código do texto: T3618419
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