TEMPOS MEMORIAIS PARTE II

01 - MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS::  Ainda se lembra da “congada”, dança com que os afros-descendentes se apresentavam junto a uma cruz, no meio da pastagem, bem em frente da sua casa. Tudo fazia crer que cultuavam um santo católico, no sincretismo religioso ainda hoje existente. Os negros com seus vistosos adereços e tambores que rufavam: “Bam..., blam, bam...blam..., bam, blam”, marcando o compasso da sua dança, poderiam estar na verdade cultuando disfarçadamente, divindades lá do seu lugar de origem, a África. Eram estas pessoas ligadas à comunidade negra do “Córrego do Ouro”, umas três “léguas” de distancia (légua equivale a 6 km), lideradas pelo “seu” Augusto “Manco”. A esta comunidade, pertencia, também, Dª. Abadia , uma senhora que auxiliava minha mãe nos afazeres domésticos na casa da fazenda. Era lá de Patrocínio. De grata memória, cuidava bem dos meninos da casa, na ausência da mãe.

TEMPOS DE SONHOS E DE ANSIEDADES - ...sonhavam com um pedaço de terra onde pudessem viver em paz.

02 - JK :: avanço para o Centro-Oeste do Brasil já havia começado anteriormente, mas com pouca intensidade. A “corrida” para a “Barranca” ainda nos anos quarenta, demonstrava um anseio do povo brasileiro em dar continuidade à saga dos antepassados Bandeirantes. Muita gente deixou Minas Gerais para se embrenhar nas matas de Céres e Rialma -GO. Era um projeto governamental para colonização. Os lotes de terras doados formavam a “Colônia Agrícola”. Outros, para o Paraná em busca de terras férteis e baratas, ao norte do Estado. Mas um fato deslocaria, em massa, o povo e também esforço governamental para o Oeste. Durante a Campanha à Presidência da República, em 1955, JUSCELINO KUBTISCHEK DE OLIVEIRA, na sua fala ao povo de Jataí-GO, respondeu repentina e afirmativamente, à pergunta que lhe fizera um dos ouvintes: - Cumprir-se-ia o dispositivo constitucional que previa a mudança da Capital Federal, para o centro do país, caso vencesse o pleito?

03 - A INAUGURAÇÃO DE BRASÍLIA :: Logo após tomar posse no começo de 1956, pois vencera a eleição, Juscelino Kubitschek, cumpre o prometido. Depois de muitas lutas e percalços, a capital estava construída e inaugurada em 21 Abril de 1960. Pela inquirição daquele rapaz, que ainda vive até hoje lá em Jataí, pela inspiração divina, BRASÍLIA existe para os brasileiros e para o mundo como “PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE”.

04 - A SAGA DOS AVENTUREIROS-A DESTRUIÇÃO AMBIENTAL :: Não vieram diretamente para cá. Vieram para Goiás, ratificando também a “saga” dos aventureiros, rumo ao Oeste. Também vieram participar do desenvolvimento que incluía desmatamentos com prejuízo imenso para o meio-ambiente. Exploravam-se, antes, as terras mais férteis, beira-rios, matas, varjões, mas logo depois se começou a derrubar os pequizeiros, aroeiras, sucupiras, açoita cavalo, cagaiteiras, muricis, e toda a variedade de espécies nativas, abundandantes nas regiões de cerrados de Goiás. Os machados, foices, “buldozers” e gigantescos correntões, puxados por tratores de esteiras, que hoje já estão na Amazônia, formavam a linha de combate aos ecos-sistema, auxiliados pelo fogo que se encarregava de limpar o terreno, de cadáveres dos que antes viveram. Conseguiu-se destruir nascentes de águas, assorear córregos e rios inteiros, sem que medidas fossem tomadas por alguém. Vimos nas regiões Sul, sudoeste do Estado e outras, animais silvestres em grandes quantidades e variedades: Veados-servos, antas, porcos-do-mato, jaguatiricas, onças sussuaranas, quatis, tatú-canastras, tamanduás, lobos, lontras, porcos – do – mato, macacos de diversas espécies, grandes cardumes de pacus, caranhas, piáus, lontras, sucuris, emas e seriemas. Estes animais desapareceram, por não se protegerem dos seus predadores, os Homens! Pereceram por sua própria culpa, de “antas” que foram! O que restou das matas e cerrados, as carvoarias se encarregaram, nos tempos mais recentes, de queimar até a última espécie, nos altos fornos das siderúrgicas. Não se acudiu a tempo, ao grito de socorro das florestas, secaram-se as “lágrimas” das nascentes, pois a mata ciliar fora arrancada dos “olhos d'água”, a natureza geme e agoniza mortalmente! Essa conta, todos pagarão! Ou, pagarão os filhos e netos!

Os ocidentais, “cristãos”, são acusados de destruição da natureza, por orientais “panteistas” que poupam vegetais e animais, pela crença de “tudo é Deus, e Deus é tudo”. A Trindade divina, Pai, Filho e Espírito Santo, esteve na criação de todas as coisas, para a sua glória, e nada deveria ser destruído. O Banco do Brasil financiava a fundo perdido, esta destruição. Os eleitores estavam grande parte no campo, antes do êxodo rural, a partir dos anos sessenta e setenta. Bastava estar do lado certo da política, para usufruir as benesses dos Bancos oficiais. Ouvia-se falar em “fazendas do Banco”, produto de execução judicial, das dívidas dos antigos donos. É que não votavam com o governo, provavelmente.

05 - REVERTENDO ÊXODO :: Precisa-se com a máxima urgência de uma política, de um planejamento, que possa incentivar, e devolver ao campo, uma parcela da população das cidades, que dali se originou. Passadas muitas décadas, perdeu-se muito da vocação para a atividade agrícola. Esse caminho de volta, será espinhoso, demandando muito empenho governamental, com investimentos, na educação, tecnologia, proporcionando mudança radical, do pensamento individualista, do “cada um por si”. Através de movimento cooperativista bem estruturado, como em outros paises, na Europa, que possibilite a sobrevivência no campo. Terra, água, é que não faltam, desapropria-se, compra-se, arrenda-se, pondo um fim, nos conflitos agrários por este Brasil a fora. No campo deverá estar, quem tenha vocação para tal, ou quem a possa adquirir, após preparação adequada. Há um remanescente, dos que têm a agricultura nas veias , diferente dos que querem uma Reforma Agrária, à custa de muito sangue, a ser derramado. Que se busque as condições políticas necessárias, para estas mudanças. Essa reversão precisa acontecer logo. Já não é sem tempo! O monopólio do agro-negócio, nas mãos de poucos, deverá ser quebrado, ou poderá aumentar, ainda mais, os desequilíbrios já existentes.

06 - AS FERROVIAS FAZEM MUITA FALTA:: Pelas circunstâncias e urgência do momento, o programa de metas “50 anos em 5” do Governo de JK, priorizava a construção de rodovias, em vez de ferrovias no Brasil; rasgaram-se as “BRs”, rodovias federais, muitas delas com problemas estruturais crônicos até hoje. Ao feitio de outros lugares e em outras épocas, das ferrovias “Union Pacific” e “Transiberiana”, que foram construídas num passado mais distante, mas que até hoje cumprem seus papéis de artérias no transporte de cargas e de passageiros nos EEUU e na Rússia, o Brasil com sua dimensão continental, perdeu a oportunidade de ter um transporte mais econômico e eficiente. O poderosíssimo “lobby” das montadoras de automóveis, americanas e européias, nos deixou de joelhos. E ainda bem que sobraram os joelhos!

07 - A CORRUPÇÃO JÁ EXISTIA:: Sobre a capital recém-construída, corriam boatos desabonadores, de que gordas “mamatas” teriam enriquecido ilicitamente muita gente, que o material da construção era contabilizado em dobro ou mais, pois uma mesma carga que entrasse num portão da obra, sairia por outro e novamente retornaria ao portão de entrada. Pensava-se que não se tinha as condições necessárias a uma fiscalização eficiente, nem se tinha tempo. A campanha eleitoral estava pegando fogo no ano de1960. Os principais candidatos:De um lado, o político da extinta UDN (Aliança Democrática Nacional) Jânio da Silva Quadros, o homem da vassoura, prometia varrer a corrupção do país. Do outro, o Mal. Henrique Teixeira Lott, da coligação PSD/PTB e outros, do lado de JK, que perderam a eleição. Perdeu o menino, a oportunidade de votar em JK, primeiro em 1955, pois nem sequer tinha idade. Depois quando cassaram seus direitos políticos, em 1964; em 1960 votou contra o seu candidato, pois nem sabia exercer bem, o seu direito do voto. Sua família estivera dividida na primeira eleição de JK. O Avô, era "ademarista", votando em Ademar de Barros, da coligação UDN / OUTROS PARTIDOS, como também o Pai, que acompanhava o patrão. A tia, Dalva votou em JK, contra a vontade do pai. Pensa-se que nada mudou, vota-se ainda hoje, por mera migalha de pão. Sem exercer cidadania, não se pode votar conscientemente, nem cobrar nada dos governantes eleitos.

A proposta indecente poderia vir de qualquer dos lados. Do eleitor ou do candidato:- "O coroné me arrume par de butina, umas carsa, camisa, e nóis vota pro ocê, sô"!

08 - JÂNIO QUADROS, A GRANDE DECEPÇÃO :: O Garoto Votou em Jânio, perdeu o seu voto que antecipara, quando aos 17 anos, registra-se no cartório da cidade com um ano a mais. Foi uma tremenda decepção! Após sete meses de sua posse o presidente renunciava ao mandato popular, que obtivera, recebendo a votação recorde de seis milhões de votos. Pra nada. Diferente de Vargas num aspecto, era medroso, mas, de sobra, tinha vocação para ditador. Queria, talvez, voltar nos braços do povo. Ouve-se a voz retumbante do senador Auro de Moura Andrade: - “Declaro vaga a presidência da república”, pondo, um fim às, talvez insanas, pretensões do Ex-Presidente. A fase seguinte foi de crises políticas, que desembocaria num longo período de exceção, o golpe militar de1964.

09 - JK – UM GRANDE EXEMPLO :: O garoto sente ainda o pesar de nunca ter apertado a mão de JK, não se deu conta da sua importância histórica. Esteve por uns tempos perto de Brasília, morando em Luziânia, em uma pequena fazenda, onde arava o cerrado, demonstrando que o cultivo daquelas terras era viável. Estava só. O ser mulherengo, não interferira nos negócios de Estado, mas na vida pessoal e conjugal. Morreu pobre, e solitário, JK . O carro em que viajava, um modelo “Opala” da GM, não chegava muito perto de um veículo seguro naquela época, um pesado motor na dianteira, e uma parte traseira flutuante.Teria sido, mesmo, um acidente. Foi injustiçado pelos militares, que não permitiram, certa vez, a aterrizagem de um pequeno avião, que o trazia à Brasília. Um Conciliador, quando tomou posse, anistiou os rebelados de “Aragarças” e de outra Base Aérea da Amazônia, ”Santarém”. Trocaram o nome do Hotel na Ilha do Bananal, que se chamava “Juscelino Kubtschek” por “John Kennedy”, evitando-se assim remarcar a prataria, pois as iniciais eram idênticas. Esta informação foi obtida na região próxima, onde esteve, defronte à Ilha do Bananal e viu , também parte do Hotel, destruída por um incêndio, no mínimo suspeito. Que coisa ridícula! JK não morrerá, jamais! É intocável ! 0 Brasil precisa desesperadamente, do seu exemplo de coragem, de bravura, e conciliação. As novas gerações precisam conhecê-lo. Aqui estão transcritas, suas palavras, proferidas na fase inicial da construção: “Deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das decisões nacionais, lanço os olhos sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e com confiança sem limites no seu grande destino”. O Herói, sempre está bem vivo, na lembrança do povo!

10 - JK-INJUSTIÇADO:: Há bem poucos dias, o “Fantástico”, programa da Rede Globo de Televisão, mostrou um filme gravado com JK, pouco tempo antes da sua morte, em que o Ex-Presidente e Senador por Goiás, cassado em 1975, pelo regime militar, falava de sua preocupação com os rumos do país e desabafava quanto à injustiça que contra ele, e contra a democracia se praticara. Sua culpa, segundo suas palavras, era ter querido o bem do país, e ter sempre buscado a conciliação. “Mataram” JK, quando cassaram seu mandato! “Como pode, o peixe vivo, viver fora d’água fria”?

11 - HOMENS PÚBLICOS COM “H” MAIÚSCULO :: É sempre bom ir ao “Catetinho”. Dali pode-se ver melhor, o arrojo de homens bravos que aqui chegaram, trazendo na sua bagagem, o ideal de bem governar. Um arrojado Israel Pinheiro, um Ernesto Silva, formulador do “soro caseiro”, remédio barato, um copo d’agua, colher de açúcar, pitada de sal, (gosto de lágrima), mas de grande eficácia na desidratação infantil, um Bernardo Saião, que já estivera na Colônia Agrícola, no interior goiano, antes de estar aqui, na construção de Brasília, e daqui rumou para construir a Rodovia Belém – Brasília, onde morreu vítima de acidente, na queda de uma árvore. Que grande desperdício de talentos, amargamos! Homens públicos, com ” H”
maiúsculo!

12 - HOMENS PÚBLICOS COM “h”:: Não sei bem o que os políticos de hoje trazem à Brasília, sei que muitos dos que aqui chegam deixaram para trás a honradez, o pudor, e qualquer tipo de patriotismo. Outros não deixaram, nem trouxeram nada, pois são daqui. “Ser, ou não ser”, dignos de políticos como JK, “eis a questão”. Homens públicos, simplesmente, “com h”, “como são”!

13 - OS POLÍTICOS PRECISAM ACERTAR :: Expressa-se aqui, também o contentamento, por acertos de políticos de Brasília nos tempos recentes da História desta Cidade, Capital de todos os brasileiros e “Patrimônio Cultural” de toda a humanidade. Refire-se ao ex-Governador, Cristóvam Buarque, quando o trânsito de veículos ameaçava seriamente, a vida dos pedestres, apoiou e promoveu campanhas de muito sucesso, como a da “faixa de passagem de pedestres”, motivo de orgulho dos brasilienses, exemplo para outras cidades brasileiras, quiçá do mundo; como também as promoções culturais no seu governo. Pela primeira vez, em minha vida, assisti ao vivo, a uma Ópera. Independentemente de cor partidária, temos que dar continuidade à obra educativa daquele Governador. Obviamente, não falarei sobre o atual governante, por estar ainda, no exercício do mandato, mas certamente, teria coisas positivas, a dizer do seu governo.

14 - A SAÚDE POUCO MELHOROU, OU PIOROU ? :: O menino faz um rápido balanço dos problemas sanitários, enfrentados pela sua família, naqueles tempos. As pessoas haviam chegado à Brasília, mas Brasília estava ainda muito distante do interior. Muita Malária, a partir do Sul de Goiás. Houve dia em que só restou uma pessoa da sua família de pé. A malária pelo “Plasmódio vivax”, nos deixava anêmicos e ictéricos, felizmente não contraímos a outra, pelo “Plasmódio Falciparum”, chamada de "febre caladinha”, pelo fato de que muitas vezes, os pescadores alcoolizados, só sentirem seus efeitos letais tardiamente. Colocava-se sobre o doente com acesso malárico, tantos quantos cobertores existissem na casa. A estratégia do menino para logo se aquecer, era respirar pela boca, reciclando o ar quente debaixo dos cobertores, que eram pra mais de quatro. Diziam galhofando, que os macacos da região do Rio dos Bois, não poderiam ver botões de roupa, que levariam, pensando ser comprimidos antimaláricos.

À beira deste Rio morava ela, com sua família, a “Morena”. Teriam vindo talvez da Bahia, filha do “Seu Zé Ricardo”. A brisa do rio lhe fizera muito bem. Apesar das quantas malárias, a garota, ribeirinha já pegara, era ela “a inculta flor, mais bela” daquelas barrancas do rio! Simplesmente, a “Morena”.

Vindo para casa após tratamento de malária, na cidade, o menino pegou “berada” no ônibus do amigo do seu pai, que vinha para mais próximo da sua casa. No ponto final, pediu que lhe vendessem comida “fiada”, no armazém do lugarejo chamado Vicentinópolis, ou “Paletó”, como chamavam, só que o dono não acedeu, dizendo que não era do seu sistema de comércio, vender a prazo. Voltou para o ônibus estacionado e tentou dormir com aquela fome danada, até quando o “dito cujo” bateu na porta do ônibus, e disse que a sua mulher estava lhe preparando uma comida: arroz com ovos fritos. Comeu e dormiu até a manhã do dia seguinte, e foi para casa. Deus recompensou certamente aquelas pessoas! “Bem-aventurado o que acode o necessitado. O Senhor o livrará no dia do mal.”

Quando de emergência, foi necessário tratar a “apendicite supurada”, do seu irmão caçula, Samuel, teve que ser transportado por mais de uma centena de kilômetros (equivalia a trezentos), por estrada de terra esburacada, até o Hospital mais próximo. Não se vive, nem se morre à toa!

O outro irmão, Joel, também sofreu com intoxicação por agrotóxico, no plantio de arroz. Hoje, basta sentir o cheiro de qualquer substância defensiva da lavoura, para entrar num sufoco. Naquele tempo nenhum controle era feito sobre a atividade agrícola, no que se referia aos venenos, altamente tóxicos, aplicados nas lavouras. Então, assim se exemplificava este fato: os insetos, que morriam pelo veneno, que eram comidos pelos pássaros que tambem morriam, que eram comidos pela raposa, e que morriam todos, numa cadeia mortífera interminável.

15 - À BEIRA DA FOME :: Eram tempos de sonhos e ansiedades. Sonhavam com um pedaço de terra onde pudessem viver em paz, eram “sem terra”, mesmo trabalhando nela, mas pretendendo adquiri-la com o dinheiro que sobrasse da próxima safra, que nunca aparecia. Houve um dia que tinham para o almoço, mandioca no quintal, e a última galinha no terreiro. Cozinharam a mandioca, a galinha, e comeram. Logo após, Deus lhes mandaria recursos. Aquele prato ficou sendo o preferido da família.

16 - SEUS PAIS, SEUS IRMÃOS:: Neste ponto da história, o menino quer prestar especialíssimas homenagens aos seus pais, e seus irmãos. Estiveram juntos por bom tempo, até aos seus 22 anos de idade. Viveram socialmente, muito bem. Tinham tudo em comum, o que produziam era de todos. O problema climático continuava numa nova década , de quando em quando a estiagem se prolongava além do normal, pegando a lavoura na grana (formação dos grãos), e nada sobrava para recompensa de longos meses de árduo trabalho.

O pai nunca se desanimava, estava sempre na expectativa de melhores dias. Mas quando colhiam bem, não se tinha bom preço pelo produto. Juntos, o papai e ele, sairam a procurar lugar para nova moradia. À noite foram acolhidos pelo vaqueiro de uma Fazenda, em um quarto, de galpão. Aquela noite, se tornaria inesquecível para eles. Ratos as dezenas, centenas, talvez, estavam a ponto de devorá-los, e tiveram que segurar os cobertores, formando uma espécie de barraca, sobre a cama, onde estavam, os dois.

A mãe sempre atenta às necessidades da família. Plantava, colhia, costurava, criava suas aves domésticas, seus porquinhos no chiqueiro. O menino não pode se esquecer das roupas que ela, para a família, confeccionava. As camisas, fechadas, de tecidos, não elásticos, tinham a virtude de, ao ser retirada, arrebitar o nariz, e corrigir as “orelhas de abano” de qualquer um. Até hoje não gosta de camisas fechadas, mesmo de tecido elástico. Mas, apesar de todo empenho, como já disse, se viram numa extrema carência de alimentos, nesta ocasião, ínício dos anos 60.
O Joel seu irmão, o que sofreu intoxicação por agrotóxico em grau elevado, passaria por muitos problemas de saúde, posteriormente. Mas muito sol e chuvas, suportaram juntos, não se esqueceu daquela tempestade que os apanhou no caminho para casa, voltando, a pé, do trabalho. Eram raios, trovões, granizo, e escuridão! Casou-se o seu irmão, com uma moça loirinha, a Ivone, muito dedicada, e trabalhadora, e desta união, nasceram, Débora e Bruninha, suas lindas sobrinhas, formadas desde do ano de 2005.

A Rute e o Samuel, os mais novos, auxiliaram sobremaneira nossos pais, já cansados e doentes, ela na cozinha, no cuidado da roupa, com minha mãe, ou às vezes só, em casos de doenças, ele também ajudando, desde os tempos da roça e depois morando na cidade com seus pais. Os dois se dedicaram com muito afinco, na manutenção da casa. Nunca seus próprios projetos tiveram prioridade, mas a obrigação moral de ajuda a pai e mãe. Cumpriram o mandamento de honrar os progenitores que está na Bíblia, honraram, não só de palavras, mas, também, com efetiva assistência pessoal prestada. Quanto à promessa de Deus, essa foi e será cumprida em suas vidas. A minha irmã, Rute, Deus levou mais cedo, coisa da sua infinita sabedoria, e já recebeu sua recompensa, uma morada na cidade Eterna de “ouro e cristal”. Antecipou à mãe, que já passara por graves problemas de saúde, como infarto do miocárdio, fratura do colo do fêmur, e finalmente, um acidente vascular cerebral intracraniano, causou a sua morte.

O Samuel, constituiu família, há pouco tempo, casado com uma morena, a Elizete, também adepta dos pequis, que no momento se dedica à família, aos meninos: Hudson e Lídia, sobrinhos, lindinhos! O “Samuca” certamente, já tem, e terá sua recompensa, por tão bem, ter se desdobrado em cuidados com seus pais, pois as promessas de Deus são infalíveis. Hoje mora vizinho a Brasília, e por aqui trabalha, como Técnico em Laboratório.

Junto, abello e Samuel, caçaram uma onça suçuarana, que por acaso estava no seu caminho, bem cedinho quando íam buscar uns porcos, em um lugar de cerradão bem fechado. Os cachorros acuando o bicho numa arvore, o Samuca, de 12 anos, subido num arbusto frágil, que certamente, não seria um bom abrigo para ele, nesta hora. Atirou no animal, um macho bem grande, mas os chumbos não conseguiram penetrar o seu crânio, outro tiro quebrou o seu braço, mas quando desceu rapidamente onde estava, atacou uma cadelinha, retirando, um dos seus olhos. O tiro de misericórdia, só foi dado à noitinha, com espingarda de bom calibre, usando esfera de rolamentos. Que pena! Omenino fica por aqui, pois conversa de pescador, e / ou caçador, desde há muito, é bastante suspeita. Ou não, pessoal?

17 - GRILAGEM DE TERRAS, A PIOR PRAGA : : Uma inquietação no campo, tinha suas causas na ganância criminosa da especulação imobiliária. Forjava-se, com a conivência e participação de autoridades do poder público, documentos de glebas de terras inteiras, que eram arrancadas dos “posseiros”, que as detinham há décadas ou centenas de anos talvez. A esta “praga” que atinge o campo até hoje, denominou-se “grilagem”, pois segundo uma Publicação, as “Escrituras” das fraudes eram colocadas numa gaveta cheia de grilos, e tais insetos, com uma substância enzimática que libera, se encarrega do envelhecimento dos papéis.

A Força Pública do Estado de Goiás, fora acionada para ampla “reintegração” de posse, na Região de Formoso de Trombas, no então Norte do Estado, houve confronto de Polícia com Posseiros, tendo desse lado, José Porfírio, que comandava a resistência dos sertanejos, obtendo vitórias e derrotas, depois se elegeu Deputado Federal. Quando por ali esteve em 1969, ficou bem junto a uma grande rocha, na praça da cidade, onde um dos lados se protegera das balas do outro. Foi isto por volta de 1959, e até hoje continua essa inquietação, por todo o interior do país, incluindo a Capital Federal, Brasília, onde “mestres da grilagem”, agem impunemente!

18 - JANGO E O PARLAMENTARISMO :: Agitação crescia pelo país. O movimento das “Ligas camponesas”, pró Reforma Agrária, foi a gota d'água que faltava. João Belchior Marques Goulart, “estancieiro”, muito rico, porém de grande sensibilidade social, que fora Ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, elevando os salários em 100%, vice que então assumiria o governo na renúncia de Jânio Quadros. Enfrentava tremenda oposição dos militares, tendo-se que mudar o regime de governo, para “Parlamentarismo”, para que houvesse a sua posse. Mas que logo depois, retornaria ao “Presidencialismo”, por um “plebiscito”.

19 - O PREMIER :: Tancredo Neves, que exercera o posto de “premier”, no curtíssimo espaço de tempo de regime parlamentarista, era o negociador. Um outro complicador vinha da pessoa do cunhado de João Goulart, Governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola, que bastante nacionalista, atacava quem quer que fosse, ou, que não fosse como ele próprio.

20 - COERÊNCIA E FIDALGUIA :: Há algum tempo, ouviu o menino, de alta patente das Forças Armadas, como resposta a pergunta que eu lhe fizera, sobre o que achava do Brizola, o seguinte: “Que era o político mais coerente da atualidade e que fora poupado no escândalo da filha apanhada com drogas, na Campanha Eleitoral de 1989, em retribuição à fidalguia com que o Alto Comando das Forças Armadas fora recebido no Rio Grande, pondo fim o impasse com o 3º Exército daquela Região, quando da posse de Jango (João Goulart), em 1961”. O garoto, sempre gostou do Leonel Brizola, mas sempre um moderado, segundo a analise do Sr. Sebastião Narciso, dono da “Fazenda Rancho Queimado”, seu patrão.

21 - O GOLPE MILITAR DE 64 :: Jango foi deposto sem nenhuma resistência. Era 31 de março de 1964. Souberam da notícia quando colhiam arroz numa fazenda mais distante. O presidente fugira, se exilando no Uruguai, Brizola na Europa, outros em diversos lugares. O Brasil passava por mais uma experiência de regime de força e arbítrio, conveniente a uma parcela do povo que já se acostumara a situações anteriormente vivenciadas. Tempos de Proibições, em que não se podia sonhar muito alto.

Sonhara tempos antes servir à Pátria no Exército, mas não me quiseram nem de graça, pois era muito magro, e com inúmeras cáries nos dentes.

A “Ditadura Vargas” era do “outro lado” da “Política”, mas nem por isso, deixava de ser Ditadura, como a que agora se instalava no país e que também por sua vez tinha seu lado; infeliz de quem estivesse do outro. A Pimenta colocada nos olhos, ou em qualquer lugar, como também, alicate nas unhas e choque nos órgãos genitais, não arde e não doem. Sofreriam civis e militares que conscientemente contestassem o “poder” . Havia aqueles que, “castrados” na sua cidadania, sempre estiveram bem. O pior destes regimes é que se generaliza por toda a sociedade: Família, Igreja, e que ainda depois de restabelecida a normalidade, fica o “ranço” impregnado na vida das instituições. Fica um estigma, marca profunda, nas pessoas que colaboraram de algum modo, e na suas famílias. O estrago social não é compensado por qualquer benefício usufruído. Relatarei mais tarde algo de que participei, muito grave, e do que sofri na pele, quando recobrei os sentidos, de longa acomodação ao arbítrio.

22 - CIVIL OU MILITAR, A MESMA COISA :: Civil ou militar, será sempre “ditadura”. Digo aos jovens e aos mais velhos, meio que “vesgos”, que não optem, e nem apoiem, tais insanidades, pois uma democracia mesmo “mambembe”, será sempre o melhor. Lá fora havia tumultos também. A crise dos mísseis cubanos, nos início dos anos 60, quando os norte-americanos detectaram estas armas nucleares na Ilha de Fidel Castro. O impasse fora temporariamente resolvido. Por aqui houve resistência de ex – militares e civis que reagiram ao regime de força, que sufocava qualquer movimento contrário. Quase toda a América Latina passava também por regimes desta natureza. Assassinatos em massa, seqüestros das crianças órfãs, desta barbárie. A “Operação Condor”, causando muita dor, desculpem o trocadilho, estava em andamento, objetivando eliminar lideranças do Continente, que viessem oferecer resistência aos regimes instalados. Do lado oposto, outras insanidades, dos que pretendiam resolver com luta armada, algo que, não teria solução, desta forma.

23 - MORRE KENNEDY, ASSASSINADO :: O assassinato do democrata, John Fitzgerald Kennedy, Presidente dos EEUU, abalou o mundo. Pela sua promissora liderança, pelos atos em favor dos direitos dos negros nos Estados Unidos, chorou-se por ele. Era 13 de novembro de 1963. O menino, seu Pai e seus irmãos, estavam semeando arroz, quando souberam da notícia. Seu irmão Robert morre logo depois, da mesma maneira!

24 - MORRE LUTHER KING, TAMBÉM, ASSASSINADO : : Mais tarde em 1968, outro homem também morreria por causa semelhante, o Pastor negro, norte americano, Martin Luther King Jr. Este grande pacifista, deixou o exemplo da não-reação, como Ghand e o próprio Cristo. A polícia chegava encontrando os manifestantes ajoelhados com as mãos sobre a cabeça. O racismo sofreria um duro golpe, o mundo precisava desse exemplo. Um dia sonhou com o fim da discriminação racial, e hoje se pode ver realizações palpáveis, na sociedade americana, a esse respeito. Discursava: ... “Eu tenho um sonho que um dia esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios: ‘ Nós acreditamos que esta verdade seja evidente, que todos os homens são criados iguais.’ ... Eu tenho um sonho que um dia minhas quatro crianças viverão em uma nação, onde não serão julgadas pela cor de sua pele, mas sim, pelo conteúdo de seu caráter.”

25 - GUERRA DO VIETNAN, UM HORROR! :: A Guerra do Vietnam, logo começaria, colocando novamente o mundo à sombra de horrores que em alguns aspectos foram semelhantes àqueles da 2ª. Guerra Mundial. Esquentando a ”Guerra-Fria”, as bombas incendiárias “Napalm” provocaram feridas no corpo e n’alma de muita gente. Bem mais tarde, a queda do MURO de BERLIM, marcaria o fim desta intensa disputa, Capitalismo x Comunismo. Se o Papa, anterior, João Paulo II, deu o golpe final no que restava do Comunismo, da antiga União soviética, este novo Pontífice, Benedito VI, tem a tarefa difícil de domar o Capitalismo Selvagem que aí está.

26 - ANJOS DA GUARDA :: A qualquer hora podemos nos deparar com pessoas, circunstâncias, e ajuda que o SENHOR DEUS DE PROVIDÊNCIA, coloca em nossos caminhos para nos direcionar numa mais suave caminhada. Assim aconteceu com aquele menino e com sua família. Era já no fim do ano de 1960, quando encontraram na cidade de Joviânia-Go, um Pastor de “almas e de homens”, como aquele lá de Atos dos Apóstolos, “Barnabé, também chamado de José das Consolações”. Não conheceram ninguém mais piedoso e mais cheio de fé e temor, do que foi o Reverendo Luís do Lago. A esposa Dª. Bendita do Lago, seus filhos, os têm como família. São irmãos em Cristo Jesus, mas conforme a Bíblia, há amigos mais chegados do que irmãos. Lá no Sul de Goiás e mesmo depois, os apascentou, aquele andarilho, por estradas de muitos areões, chapadões intermináveis, os visitou, trazendo alimento para suas almas. Também, roupa para o corpo, remédios antimaláricos, açúcar, café, muitas vezes à sua própria custa e sacrifício. Dª. Benedita, podemos encontrá-la na Bíblia, lá na Carta aos Romanos 16:13. Sempre os tratou como a filhos, a ele e sua esposa. Não perdia viagem, sempre ajudando alguém com paciência. Sabia, porém corrigir com mais rigor, como de quando o menino deixou de enxugar o banheiro, certa vez que se hospedou em sua casa em Lagamar. Há poucos dias, por ocasião do “Dia das Mães” na casa da filha Késia, pôde prestar à sua memória uma homenagem: “Podemos servir de mães ou de pais às pessoas que de nós se acercam, conforme está na carta aos Romanos”.

Era o Reverendo, pessoa muito culta, participara da “Revolução Constitucionalista de 1932,” como enfermeiro, servindo primeiro a Deus e ao Estado de São Paulo, contra Getúlio Vargas e outros. Depois estudou Teologia sendo ordenado Pastor, trabalhou em inúmeros lugares de Goiás, Minas Gerais. Se não se é mais humilde, não foi por falta de exemplos como os do próprio Senhor Jesus, que Luis do Lago imitava muito bem! Queixava-se, às vezes das mesquinharias dos homens que o feriram em muitas ocasiões. Hoje, algumas pessoas da família que abraçaram o pastorado, seguem o exemplo daquele servo do Senhor. Obrigado, Senhor pela vida destas pessoas que reanimam os corações, nos momentos cruciais da caminhada!

27 - OUTRO ANJO:: Um outro Pastor, missionário da América do Norte, apareceu na “Fazenda Rancho Queimado”, por volta do ano de 1964, o Reverendo Richard Knox Swayze, ou Ricardo com o chamavam. Também assistiu a família do menino, naquelas regiões, e certa vez perguntou-lhe se gostaria de estudar em Patrocínio-MG, no Instituto Bíblico Eduardo Lane (IBEL). Este missionário incentivou-me, às vezes ajudando-me pessoalmente, durante o tempo do Curso de Evangelista. Devo muito também a este irmão, hoje com mais de oitenta anos de idade, vive na sua terra, Mississipi - EEUU, ou junto de Deus, pois não tenho dele noticias, há tempos.

28 - IBEL, CASA MUITO IMPORTANTE:: No ano de 1965, o menino foi a Patrocínio-MG e lá cursou noções de Teologia, matérias a fins, e também o ginásio, saindo dali em 1968. No dia em que ali chegou, caiu da cama à noite, sonhando que estava sendo atropelado ao atravessar a rua. Pela manhã, lá estava ele na Enfermaria da Dª. Julieta a receber curativos na clavícula, pois caíra primeiro sobre uma mesa e depois no piso cimentado do alojamento, recebendo também a observação da professora de Enfermagem, de que ninguém anteriormente, havia se acidentado daquele jeito. Ali, aprendeu a se virar, cuidando da roupa, do alojamento, gramados, hortas, jardins etc. Nos fins de semana iam visitar Igrejas mais distantes e praticar o que aprendera.

Namorar era proibido, no Colégio e adjacências, mas inúmeros casamentos começaram por ali. Como dizia seu Patrão, já aqui em Brasília, “você é muito rural”. Acha que era mesmo. Viveu na roça até aos 22 anos, indo à cidade grande esporadicamente, ainda é rural. Saiu da roça, mas a roça não saiu dele. O tempo do IBEL foi para ele muito importante. Aprendeu uma porção de coisas, mas ainda hoje, as fichas estão caindo. Um aprendizado bastante demorado. As lições de Etiqueta com Dª. Ana Alvarenga lhe ajudaram, mas muita coisa se perdeu, mas o que ficou o ajuda até hoje. Uma coisa, precisou aprender, que o jovem por mais inteligente e capaz que seja, terá que ser acompanhado de perto na sua vida, por alguém que o discipule, até ganhar autonomia plena, isto em qualquer ramo de atividades.

29 - CONGRESSO DE ESTUDANTES :: Ali em Patrocínio, participa com outros colegas de um Congresso de Estudantes Secundaristas do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba , entidade estudantil, não ligada a UNE, em 1967, só nos grandes Centros cobatia-se o regime militar que dominara ditatorialmente o País. Quis  o jovem numa ocasião em 1969, elogiar o desempenho do governo da Ditadura Militar no país, ao seu Pastor, o americano, Reverendo Swaize, ele então lhe disse, que havia problemas, pois não se tinha conta de quantos estavam nas prisões sendo torturados, e dos que já tinham sido mortos. Naquele momento da viagem, recebia uma aula de direitos humanos que ficou bem gravada. No IBEL, os professores estavam cautelosos e divididos, pois havia ali quem defendesse a “dita cuja", apelido “carinhoso” de ditadura. Enquanto isso os famigerados Atos Institucionais, restringindo direitos individuais, e políticos, ditando normas, se repetiam indefinidamente.

30 - PROFESSORES, COLEGAS :: O menino lembra com saudades dos seus professores e colegas no IBEL: Os Reverendos, Diretor Donald Kaller, que se alguém lhe pedisse permissão para qualquer coisa a fazer, invariavelmente ouviria a resposta:- “acho que sim...” Estupendo caráter, misericordioso, como ao seu próprio Chefe, a quem servia fielmente- o próprio Jesus,  Reuben Sulc, bom companheiro do Basquete; Saulo de Castro Ferreira, que era também, o zeloso Pastor da Igreja Presbiteriana de Patrocínio, não gostava nada do futsal, pela violência deste esporte, quebrando pernas e outros membros, de vez em quando; Jonh Guedes, o “João”, democrata, amigo.

Professores: Jaci Martins, lecionando francês; Moisés Fonseca, responsável pelo internato masculino; as professoras: Miss Johan, da música; Miss Patsi Oxner, também da música e outras matérias; Miss Frances Hesser, Deã daquele Seminário, Miss Vivian Hodges, da Educação Cristã, psicologia, que pessoalmente ajudou o menino naqueles de escassez; Dª. Anna Alvarenga, do Internato feminino; Maria Helena, professora de Português (ninguém por ali “matava” o Camões) Heloisa sua irmã, Ciências; Da. Maria de Castro, História; Da. Julieta Costa, já mencionada, a professora de Enfermagem -gente que muito ajudou os alunos naquela Instituição!

Colegas de turma: José Cabral, Samuel Marçal, ambos falecidos, Graciano Chagas, Isabel, Dorcas, Laura Costa, Sinerma Calazans, Benedita Oliveira, Gercina, Belosina e Gesrael.

31 - LEITE COM CHÁ :: Ali  no IBEL, tomavam leite com chá. Muito gostosa a mistura e também conveniente aos tempos de escassez e de apertos naquela casa!

32 - LAGAMAR, TERRA DOS CALAZANS E DOS MARTINS :: Quando em abril de 1965, de Patrocínio, o menino foi visitar em Lagamar-MG, a família do Reverendo Luís do Lago, levava para uma jovem, uma carta de sua irmã, colega do IBEL. A carta era para Agmaria Calazans, que viria a ser sua esposa, e quem enviava era Sinerma Calazans sua cunhada. À noitinha quando chegou a Lagamar, Dª. Benedita o levou ao endereço da referida carta e o apresentou à família do Sr. PEDRO ANTÔNIO CALAZANS, Dª. MARIA MARTINS DA SILVA, parte dos filhos, incluindo Agmaria. O namoro começaria no dia seguinte, pois a moça o impressionara bastante, com seus longos cabelos negros, lisos, com seu modo delicado, com seus brincos de argolas douradas. Até hoje não sabe da impressão causou à primeira vista. Era ela Professora Primária do Município de Lagamar e pelas Fazendas da Região, irradiava simpatia e seus conhecimentos aos seus alunos que até hoje a reconhecem e respeitam. Era bastante admirada pelos mais velhos e pelos jovens ”casamenteiros” do lugar, mas, só o menino teve a grande honra de pedir sua mão ao seu Pai, e beneficiar-se do seu amor por esses quase quarenta anos de convivência matrimonial.

Conheceu seus irmãos e irmãs que moravam todos na cidade, mas que logo se transfeririam, alguns, para Brasília antes de 1967, quando todos viriam para cá. O José Pedro, Urias, que aqui chegaram primeiro, Margarida, seu esposo, Diomário,  A Sinerma, minha colega no IBEL, Olívia, Delma, Geraldina, ainda menores, e Silas ainda um “pirralhinho”. Chegariam outros “sobrinhos e sobrinhas do coração”: Marcos, Renato e Jaqueline, (a turma do Dutra e Olívia), Nadine e Aislan, (os meninos do Urias e da Diolina), Elaine e Josimar, (a dupla do José Pedro e da Maria), Ana Caroline, Danielle e Camila, (as mocinhas do Silas e da Eliânia), Keven Joseph, ( o rapazinho da Delma e Keven).

33 - A INTELIGENCIA SERTANEJA :: Em Lagamar, o “seu Pedro, se dedicava a uma arte de fazer com bambus, ou taquaras, esteiras para o carro de bois, forros para as casas residenciais. Conta-se que ele fabricava sua própria capa de chuva, de tecido de algodão, que impermeabilizava com o látex, feito do leite da “mangaba”, arvore leitosa, daquelas regiões.

Dª. Maria, no seu rústico tear, mas com muita eficiência, fabricava os tecidos com os fios antes preparados do algodão e os coloria. As fibras do “algodão ganga”, já tinham uma coloração marrom, natural. Tudo artesanal, com material próprio, colchas, panos para calças, etc. Tudo muito bem trabalhado. E outros trabalhos, como tricô, crochê e bordados.

Naqueles tempos para se chegar à cidade de Lagamar, passava-se por estradas ainda bem difíceis, feitas pelos próprios pneus dos carros, que por ali transitavam. Subia-se aos lugares mais altos dos morros e despencava-se de lá até aos mais baixos, sem cortes ou aterros, era bem divertida a viagem. Hoje há boas estradas, confirmando a profecia bíblica: “Todos os outeiros serão nivelados, e os vales aterrados”. Pregava o profeta da preparação espiritual para a vinda do Messias, logo as boas condições das Estradas do Império Romano, contribuiriam para a divulgação do Cristianismo nos seus primeiros tempos.

Em Lagamar, era costume, à noitinha, subir e descer a avenida, moças e rapazes, à espera de oportunidades de namoro. A chegada do ônibus, era também, momento de aglomeração, em busca de alguém que um dia se fora, mas que agora, poderia estar de volta.


TEMPOS DE AFIRMAÇÃO E DE DECEPÇÕES

...em tempos de afirmação, dê passagem a quem vem
com pressa.

34 - URUAÇÚ, LUGAR DE ACOLHIMENTO CRISTÃO :: Entre namoro e noivado, foram quatro anos. Terminado os estudos no IBEL, segue o jovem rapaz para um campo de trabalho Missionário, Uruaçu-GO, onde estava quando se casou, em 31 de maio de 1969, na 1ª Igreja Presbiteriana de Taguatinga-DF. Oficiaram os Pastores, Luís do Lago e Saulo Miranda. A noiva estava irradiante, não houve atraso. Em Uruaçu, Agmaria e seu esposo foram bem recepcionados pela Igreja Presbiteriana, que os carregou no colo com muito amor, em meio a problemas financeiros e funcionais na Igreja. Ali não nos faltou apoio dos membros daquela Igreja: Sr. Mário Martins, e Dª. Luiza, Sr. Anísio Ayres, e Dª. Melânia, amigos daquela Senhora que se dizia muito feliz com o aprendizado para “Carteira de motorista” : - Olhe “seu” menino, quanto mais eu pisava no “volante” mais o carro corria. O Sr. Boanerges Veiga e Dª Cristiana, o irmão “Roxo”, cujo nome não me lembro agora, e sua esposa, Dª. Eunice, nos apoiaram, e como já disse, nos “carregaram”, quando da morte do pai de Agmaria e na “dispensa” que receberam da Missão Oeste do Brasil. O susto foi grande, mas o Deus os confortou neste episódio das suas vidas. A esposa teve papel muito importante, animando seu esposo, sustentando-o, para continuar o combate em outros lugares por onde passariam.

No ano de 1969, mais precisamente, no mês de julho, assistiram pela TV, a descida do Homem à lua. Os terráqueos haviam chegado lá! Só que muitos aqui no Brasil não acreditaram ou não acreditam ainda hoje. Mas tudo bem, um americano me disse que lá na sua terra também existem incrédulos assim!

Uruaçu ficou em nossas vidas como o lugar da verdadeira solidariedade e amor cristão. Sentiram que Deus “sempre os conduziu em triunfo,” como dizia o apóstolo Paulo, se referindo a cena de “entrada triunfal” dos guerreiros vencedores nas cidades para onde eram conduzidos pomposamente, exalando um perfume especial com que eram tratados. Para Paulo, eram os “vencedores conduzidos” e o bom “Perfume de CRISTO”, que exalavam!

Após cinco anos receberam onde estavam morando, um emissário, os convidando a retornarem aos trabalhos da referida Instituição. Ficaram de dar resposta. Foi quando vieram para Brasília, daqui, declinaram do convite, agradecidos. Até hoje guardam uma carta da Missão, comprovando que todos os acertos de dívidas que com ela, haviam sido feitos, e fazendo-lhes aquele convite para voltar ao trabalho.

35 - RUMO A CRIXÁS, TERRA DA BOA GENTE
:: Após alguns dias em Goiânia, na casa dos pais do rapaz, ainda acertando as contas com a Missão, receberam da Igreja Presbiteriana de Crixás-GO, através do Sr. Antônio de Oliveira Rodrigues, convite para trabalhar naquela Igreja, onde estiveram por cinco anos. De 1969 a 1974.

Crixás foi para eles um rico campo de experiências no âmbito das relações sociais, incluindo os aspectos pessoal e familiar, como também lugar de acolhimento fraterno. Ali estivemos entre “tiroteios” políticos, desavenças e mágoas profundas, no seio da própria Igreja. Ficaram feridas, nas vidas das pessoas, que imagino, terem sido cicatrizadas pela GRAÇA de JESUS, que há muito “tomou sobre si todas as nossas dores”. Naquela eleição, votaram no candidato que era membro da Igreja, mas qualquer explicação que desse a esse respeito, de nada valeria, devido os ânimos exaltados de todos lados, e por que tinham laços de amizades com outro membro, também, da mesma Igreja, que estava do lado político oposto. Só agora fazem esta revelação, em consideração às pessoas que ainda querem muito bem, e que embora tenham naqueles momentos, com eles se desgostado. Posteriormente, muitas coisas boas e também lamentáveis aconteceram por lá, e daqui se perguntam:-Que parcela de culpa tiveram por estes tristes acontecimentos? Aonde falharam com aqueles meninos e meninas, que deviam ter sido mais bem trabalhados para a posterior convivência com as dificuldades relativas ao “progresso”, para não mencionar “atraso”, que acometeu aquela cidade, quando de novo revolveram as montanhas e bons costumes da própria cidade, na busca do ouro, metal “precioso”, e “pernicioso”, também?

Se não deviam ter insistido e procurado convencer aquele Pai que se opôs ao Conselho da Igreja, da qual era membro, num gesto solidário ao Filho que cometia erros, de que poderiam ser reparados num aconselhamento, mesmo que o momento, não fosse o mais propício, devido implicações políticas que poderiam advir? A má compreensão reinante, de que a Igreja existe para punir, e não para ajudar seus membros, poderia ter sido mudada?

36 - KESIA PRESENTE DE DEUS :: Nesta cidade chegou com poucos dias de vida, pois nascera em Goiânia, a primogênita do casal, Késia, linda “rechonchuda”, obrigando o seu pai a colocar 1ª. Marcha nas subidas e descidas de Crixás, e que dali saiu aos 3 anos e 8 meses de idade.

Certo dia estava o pai descansando em casa na hora do almoço, de sapatos nos pés e tudo, quando uma pequena voz que conhecida, se fez ouvir:- “vou bunhar”, que queria dizer “vou tomar banho”! O pai salta da cama, corre para o Rio Vermelho, que estava há alguns metros da casa, e ali salta na água resgatando a menina com três anos de idade, que saltara no rio cheio, instantes antes, e que já se afogava. Era a ”desesperadinha” da Késia, que sempre nos convidava para “bunhar” naquele rio. Para nós nascera de novo, pois as corredeiras dali “não estavam pra peixes”. Mais tarde a filha retribuiria, salvando os óculos do pai, perdidos no mar em Guarapari.

37 - MICHUÁ, FILHA TAMBÉM :: Ali também, encontraram Michuá, que criaram desde três, até aos quatorze anos de idade. A indiazinha de São José do Bandeirante, Distrito de Crixás, nas barrancas do Rio Araguaia, chegou à casa da família, após ter perdido a mãe de sarampo na beira do rio, e que também estava à morte, bem assim alguns de seus irmãozinhos.

O Pai, Francisco, dos Carajás, logo faleceu num acidente no Rio Araguaia. Os indiozinhos sobreviveram após tratamento de saúde em Goiânia e agora pais de criação, tutores, quase sucumbiram anos depois, atrás da Michuá. Aos quatorze, já morando aqui em Brasília- DF, fugiu ali para o Rio de Janeiro, e após temporada sem saber do seu paradeiro, escreveu de Copacabana, famoso bairro daquela cidade. Fugiu de novo após ter ido buscá-la no Rio. Não foi mais possível à família tê-la consigo. Antes tentaram, quando ainda seus “tutores”, adotá-la, só que ela havia, com uma caneta esferográfica, trocado todas as datas de seus documentos. Foram providenciadas outras vias dos referidos documentos, só que nada mais deu certo. Foram muitos contratempos!

38 - AULAS DE HISTÓRIA NO GINÁSIO::
Quando ali chegou, foi convidado a dar aulas no Ginásio, lecionando História, OSPB, e Português eventualmente. De vez em quando encontra alguns dos seus alunos. Alguns hoje advogados e outros de diversas profissões. Aqui em Brasília está o seu amigo Alonso, seu aluno, menino bom, desde aqueles tempos.

39 - AULAS NO GRUPO ESCOLAR :: A esposa lecionava no “Grupo Escolar Prudêncio Ferreira” do Estado de Goiás, sempre trabalhando em meio expediente, mas ajudando muito na manutenção da casa, desde aquela época. E, sempre elogiando o bom nível de ensino, existente em Goiás. Ela, que já trabalhara no magistério em Minas Gerais. “Éramos felizes, e não sabíamos!”

40 - SERVINDO A JUSTIÇA :: A infra-estrutura era precaríssima na cidade de alguns milhares de habitantes e nas estradas do município, nos anos setenta. Água de poço, iluminação com gerador a diesel, comunicação por rádio da Polícia que nunca funcionava, Bancos, só em Rubiataba, há dezenas de Kilometros. A cidade tinha um Juiz, mas não tinha Promotor, que era substituído por um “ad hoc”, que atuava nos processos criminais. Fui nomeado para este mister em alguns processos, onde fazia às vezes da “acusação”, ainda me lembro de algumas partes dos Processos: “Defesa prévia”, "Libelo crime acusatório”, “considerações finais”. Mas, certa feita fui designado pelo Meritíssimo Juiz, Dr. Dormelindo de Mello, para defender um homem lá dos “sertões, acusado de ter assassinado uma pessoa com uma foice, cabeça e corpo foram separados. Quis argumentar com respeito a meus escrúpulos em defender tal acusado. A acusação, sempre era "melhor” à minha condição de religioso. Então me repreendeu, dizendo que Jesus Cristo é “O Grande Advogado” de todos nós, os pecadores. Envergonhado, nada mais questionei, defendi aquele homem.

41 - COPA DE 74, A CASA QUASE CAIU! :: O Futebol é outro instrumento de integração nacional, quiçá universal, além da música que anteriormente já mencionei. Surgia por todos os cantos, campinhos de futebol, até em detrimento de plantações, lavouras que esperassem o arrefecimento do entusiasmo causado pelas vitórias da “Seleção Canarinho”. Não havia acompanhado as “Copas do Mundo” anteriores, a não ser a de 1962 que ganhamos com jogadores como Pelé, Garrincha, Zagallo e tantos outros. Acompanhamos pelo radio, sem saber se “jogavam para cima ou para baixo”, como dizia meu pai, quando passou a assistir os jogos pela TV: - “Agora vai melhorar, porque o time vai atacar para baixo”, sem a noção de que os campos de futebol são rigorosamente nivelados. Talvez o seu campinho, lá de Araguari não o fosse. A copa de 1970, ganha por Pelé, Clodoaldo, Tostão, Rivelino, Garrincha e outros heróis nacionais canarinhos, Zagallo como técnico, não assisti pela Tv. Mas a de 1974, em Crixás, assistimos em um único aparelho, num alto da cidade, na casa de um rapaz que nos concedeu este privilégio, mesmo a contra gosto. Quase derrubamos a sua casa, pois a multidão subia pelas paredes até ao telhado da mesma.

42 - GARRINCHA, SEUS ÚLTIMOS DIAS:: Muito mais tarde iria assistir a uma “histórica” partida de futebol na cidade de Planaltina - DF. Pela última vez, Garrincha, participaria de um jogo, com seus malabarismos, mesmo que por poucos minutos. Estava gravemente enfermo. A renda daquele evento, seria revertida para ajuda aquele lendário, folclórico jogador. Morreria poucos dias depois. Estavam comigo, Delma, minha cunhada e minha filhinha, Késia, em 1983.

 43 - LABORATORISTA, O COMEÇO :: Quando em começos 1970, esteve em Crixás, o Dr. Almir, médico da cidade mais próxima, Itapací, a tratar uma senhora com hemorragia, pude levar até onde estava, minha esposa que suspeitava estar grávida. - Sem um teste de gravidez não posso confirmar, mas há evidencias. Disse o médico. Então lhe perguntei se era difícil aprender a fazer tal “teste”. Até pouco antes se fazia pelo método de Gally-Maininni, que usava o sapo bufo, que recebia injeção da urina a ser testada e após certo tempo a urina do sapo era coletada para exame microscópico, se havia nela seus espermatozóides, confirmava a gravidez. Estávamos numa transição para o “Planotest”, usando soro que neutralizado pela gonadotrofina, confirmava a gravidez, não aglutinando com o Látex. O Dr. Almir, tipo “baiano”, que honrava as melhores tradições da Escola de Medicina de Salvador, me disse que seria fácil aprender lá no seu hospital. Não fui para o seu Hospital, mas tempos depois fiz alguns estágios na Osego, (Organização de Saúde do Estado de Goiás) e num Laboratório em Goiânia, aprendi bastante a parasitologia , revirando “Parasitologia Médica” de Samuel Pessoa, em um mês . Estive no Instituto de Patologia Tropical onde tive contato com Pesquisas de diversas doenças, Schistosomose e outras. Tive a ajuda de pessoas na Osego pelas quais serei sempre grato. Em Crixás montamos um pequeno Laboratório onde pesquisávamos verminoses nas pessoas com um índice de 95% de positividade. Ancilostomídeos, Ascaris lumbricoides, Strongyloides stercoralis, Hymenolepis nana , Giárdia lamblia, Schistosoma mansoni, este importado do Norte de Minas, em uma pessoa que de lá viera.

  44 - VERMINOSE MATA : : Presencia o fato lamentável da morte de uma criança de cinco anos por ancilostomose. Ficara sem sangue a coitadinha, morreu asfixiada, devido à carga verminótica que não suportou. Sua morte foi a salvação de seus irmãozinhos que foram tratados a tempo pelos médicos. Vê uma menina que vomitou um bolo de mais de uma centena de Ascaris lumbricoides.

  45 - FERVAM A ÁGUA! :: Não sabe se a situação melhorou por aqueles lugares, após estes mais de trinta anos. Há pouco no Hospital Regional da Asa Sul, se depara com a mesma cena, com a diferença de que a criança de oito meses de idade, foi tratada a tempo e salva pelos médicos, após diagnostico laboratorial de “ancilostomose”. A família da criança era de um estado nordestino onde este tipo de verminose é muitíssimo freqüente, devido a grande umidade do solo arenoso. Perguntamos a mãezinha sobre como tratava a água lá no interior e ela então nos disse que “coava” apenas. As Emissoras de Radio, e de Tv, concessionários que são do governo, e outros meios de comunicação, que façam uma campanha de saúde, veiculando em frações de minutos: “Fervam a água”. Não se tem conhecimento de que isto esteja sendo feito. Estamos já no século XXI e pessoas ainda morrem de verminose e de fome , por flagelos que deveriam ter ficado num passado bem distante. “é gente humilde, que vontade de chorar”. Enorme !

46 - MONTEIRO LOBATO :: Que falta faz aquele brasileiro do início do século passado, que com o seu personagem “Jeca Tatu”, conseguiu esclarecer milhões com o “Almanaque Fontoura”, sobre os males das verminoses. Não se sabe quem era mais feio, se o ”Jeca” ou Monteiro Lobato. Sabe-se que se tornou raridade homens como aquele. 

47 - HOSPITALIZADOS OU HOSPEDADOS? :: No pequeno hospital de Crixás, onde um político de uma cidade vizinha, no seu discurso na inauguração, agradece pela acolhida, e diz que foi muito bem “hospitalizado”, queria dizer hospedado, pudemos ajudar no diagnostico de Tuberculose, malária, gravidez, realizando exames laboratoriais como, Hemograma, Gran, Baar, Zihel, crase sanguínea, urinálise, parasitológico de fezes, Planotest, pesquisa de malária, sob a orientação dos médicos. A transfusão era feita com sangue coletado em frasco com solução de “violeta de genciana” que eliminava micro organismos transmissores de doenças como “Chagas” e outros, e que após tipado, era transfundido nos casos de “emergências”, em pacientes atingidos por “balas” de calibres diversos e por facas de todas as polegadas. Ainda  recorda do conflito dos fazendeiros com ciganos, onde varias pessoas de ambos os lados sofreram ferimentos a “bala,” e nós pudemos ajudar no socorro àquela gente que necessitava urgentemente de sangue. No caso da menina com ancilostomose, não houve tempo de salvá-la, apenas chegamos a coletar sangue de um voluntário. Quando cheguei à Brasília , riram do meu contador de células: Uma caixa de lâminas com cem caroços de feijão num compartimento maior, que seriam colocados em compartimentos menores, classificados.

48 - HOMENAGENS :: Pessoas especiais, serão mencionadas nesta narrativa: Começando por Honória Neves Dietz, a matriarca, filha de uma outra matriarca, Maria Francisca Neves, heróica mulher, de um tempo passado mais distante e mais difícil; Honória com sua casa sempre aberta a todos, mantinha em dia sua lista de pessoas doentes e necessitadas, mulher de fé inquebrantáve, sofreu muito por seus próprio problemas e também pelos de outrem; Joaquim Frederico Dietz, prefeito da cidade por vários mandatos, fazendeiro, comerciante, político de grande influência política; Sebastiana Ester Dietz de Oliveira, professora, escritora, poetisa. No seu livro “Terra Dos Kirirás E Poemas Mais...!”, conta versejando a História da sua Crixás. Antônio de olveira Rodrigues, fazendeiro, político, sempre bem humorado, dizia que uma boa festa teria que ter “bolo cortado com faca cega”, pois com tal ferramenta não se consegue cortar pequenos pedaços. ”Bom, munnnto!!!; Júlia e tia Malã, sempre o carinhosas com dirigentes da Igreja. Os bons amigos, Francisco Neves e Antônia, fazendeiros; Frutuoso Neves e Eliza, fazendeiros; Manoel Neves e Maria Naura, fazendeiros e comerciantes; Justo Maciel e Bernadete, fazendeiros;  Narciso e Sara, funcionários públicos; Vitelvina Ferreira e Ismael, do lar, funcionário público; João Frederico Dietz e Rosária, fazendeiros, comerciantes, funcionários públicos;  todas estas famílias, gente boa da  Igreja. André Machado, comerciante, político, presidia o Ginásio de Crixás, da “Campanha Nacional de Escolas da Comunidade”; Professora Delmira Xavier, pessoas dignas com quem trabalhou este autor; Dr. Jordiano Machado, médico da cidade onde nascera, Crixás, socorreu pequena Kezia que havia tomado “meticoçã”; os Feitosas, família de políticos deste lugar;

49 - SONRISAL FEZ MAL ! ::
Como esquecer da estória de um senhor daquela cidade, que comprara pela primeira vez um “sonrisal”, em Itapaci, e que na volta a Crixás, passando pelo riacho, colocou na boca o comprimido e tomou água. Diziam as más línguas de Crixás, que saía sonrisal pelos ouvidos, nariz, olhos etc.

50 - HISTÓRIA DE CRIXÁS, A HISTÓRIA DE ESTER ::
Relendo o Livro da Profª. Sebastiana Ester Dietz oliveira, onde lamenta a degradação, e morte do Rio Vermelho, antes caudaloso, opção de lazer, com seus balneários, "patrimônio” daquela gente. Assim também fizeram aos Rios da nossa infância, por todas as Regiões deste Brasil.


51 - BELCHIOR, CIDADÃO HONORÁRIO::
Chegou em Crixás, ainda, nos anos 50,  Belchior Ferreira de Camargos onde desenvolveu por tempos  a atividade de Evangelista da Igreja Presbiteriana do Brasil. Ali se casou com Rosa camargos, filha do luga. Exerce atividade política. Pôde, na ausência de médico, prestar primeiros socorros às pessoas, inclusive ao autor desta autobiografia

52 - CAIU A CASA, LITERALMENTE:: Recorda-se da vez em que a Igreja Presbiteriana em Crixás, abrigou a comunidade da Igreja Assembléia de Deus, local, cujo dirigente local era o Pastor “Lico”, em momento bem difícil. Era mês de Março, chovia muito, telha de barro, e paredes de adobe encharcadas, e o madeiramento pesado da construção, concorria para um desabamento. Foi exatamente o que aconteceu. A igreja estava realizando “Conferência Religiosas” com o seu Templo lotado quando o orador percebeu a abertura de uma fenda na parede da frente. Deu-se um aviso de perigo iminente, e após sair a última pessoa, tudo veio abaixo. Não ficando “pedra sobre pedra”. Foi “um milagre de Deus”, ninguém ter sido ferido mortalmente. Por vários meses aqueles irmãos se reuniram em nossa Igreja, e o amor fraternal cresceu entre nós. Aleluias! Glórias a Deus!

53 - BONS COLEGAS : : Recorda-se, ainda, dos Padres católicos e freiras com os quais mantínhamos relações cordiais, e cooperávamos para o bem-estar da cidade. Pe. Oscar, Pe. Abílio, irmã Leonor, médica do Hospital Municipal, irmã Clecy, diretora do Curso Normal. Das “Professoras gaúchas”, gente trabalhadora e muito divertida. De muitos outros, como a professora Iracema, socorreu esta família em momentos difíceis.

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