MINHA AUTOBIOGRAFIA

MINHA AUTOBIOGRAFIA

Final dos anos 50,vive-se uma efervecência política , social e cultural no eixo Rio São Paulo. O governo de Jucelino Kubischek chegara ao fim, presidente este que prometera aos brasileiros transformar o Brasil de 50 anos em cinco anos. Em parte ele cumpriu, atraiu industrias automobilística com intuito de industrializar o país , além de outras industrias de eletrodomésticos.

No entanto, nos grande grotões como Barreiras na Bahia, permanecia os resquícios da Republica Velha,os mandatários , os coronéis com seus latifúndios intocáveis.

Minha mãe lutava com meus quatro irmãos , na lei da sobrevivência do sistema capitalista para uma pessoa analfabeta e de uma condição humilde, uma das opções na escala social da pobreza era lavar roupas para pessoas da cidade, e foi através dessa condição de trabalho que ela sustentava meus irmãos .

Estamos em 1958, minha mãe fora chamada para lavar roupa e para trabalhar como empregada doméstica em uma das grandes fazendas da cidade, fazenda “Triiunpho”. O dono da fazenda Francisco Ayres da Silva, também conhecido em Barreiras como Chicada . Como bom garanhão que era , não podia dispensar uma carne nova, assim nessa cópula, minha mãe ficou grávida deste ser que narra esta resumida história . Passado pouco meses, e não tendo como esconder sua gravidez, a Irmã do Sr. Francisco Ayres da Silva, Põe para fora da fazenda minha mãe .Dizem as más línguas que ela tinha ciúmes de próprio irmão , dessa forma não ficava mulher nenhuma na referida fazenda.

12 de março de 1958, sou mais um na estatística do país,mais um habitante de um Brasil cheio de contraste, mais um que nascia em condições adversas.

Quatro anos se passaram , e minha mãe continuava no mesmo ritmo de vida, as mesmas dificuldades, ou mais ainda, pois cuidava naquele momento de sua vida, uma criança era mais um entrave ou como diziam naquela época, mais uma cruz a ser carregada, onde teria que enfrentar outros percalços. “Meu pai” não quis saber da minha existência , eu era mais uma criança que tinha mãe com pai desconhecido.

Raiara mais um dia , uma nova manhã de batalha, onde a fome não espera, e se quem está na luta da sobrevivência se encontra em dificuldades para saciar seu organismo , então era mais que urgente meter a Mão na massa.

Um sol que prometia um calor causticante. Estava eu em estado febril naquele dia, e as condições de saúde para população era uma calamidade, quem não podia pagar um médico particular tinha que recorrer mesmo aos remédios caseiros. As roupas dos clientes tinha que ser lavadas, pois era através delas que minha mãe nos sustentavam. Era necessário colocar mais uma trouxa de roupa na cabeça e seguir a vida, no entanto, o dilema continuava, o que fazer para que alguém tomasse conta do seu caçulinha? Não encontrou, teve que levar-me em seus braços. Aqui deve-se fazer uma ressalva , meus quatro irmãos já não se encontravam em casa,já estavam criados,casados ou procurando algum tipo de melhoria de vida nos arredores ou fora de Barreiras. Eu fora fruto, digamos assim, não esperado.

O Rio Grande, principal rio que corta a cidade era uma espécie de lavanderia pública das lavadeiras de Barreiras. La estava eu sentado brincando na areia perto da água do rio, onde de vez em quando olhava minha mãe bater as peças de roupas na pedra da beira do rio. Estamos mais ou menos no horário entre 15 a 16 horas, quando o céu escureceu repentinamente, as nuvens preparam uma grande tromba dágua .

Os primeiros pingos dágua começam a cair, minha mãe desesperada pega-me em seus braços e corre em sentido da rua da cidade e pede pelo amor de Deus um guarda –chuva em uma das casas em que batera na porta, fora atendida em seu pedido, mas o pior já havia acontecido, caíra em mim gotas fortes da chuva . Quando chegara em casa já estava em estado convulsivo. Era a tão temida poliomielite se instalando em mim. Se uma criança dita normal já era difícil , tornou-se uma via crucis com uma criança acometida pela popular paralisia infantil. Lembro-me como se fosse hoje, na ânsia de me ajudar a curar a minha enfermidade , minha mãe ouvia vários conselhos ou melhor dizendo, consultas populares, e uma dessas consultas fui levado a um matadouro de bois , em chegando nesse local , minha mãe ficou a espera que um dos executores de gado matar um dos animais, e assim foi executado o animal, o homem abre com o facão a barriga do boi e pega-me em seus braços e mete-me nas suas vísceras . Sinto imediatamente um temperatura que não sei precisar quanto , mas hoje analisando o ocorrido, talvez a temperatura estivesse em torno de 30 a 35 graus positivos. Lembro-me que fiquei submerso até a cintura nas fezes do boi.Passado alguns minutos, fui coberto com um cobertor de lã para que não pegasse nenhuma friagem ou vento em meu corpo.

Passam-se mais quatro anos, minha mãe estava muito entusiasmada com a construção da nossa casinha,pois havia comprado com muito sacrifício um terreno. Para dinamizar a construção de nossa casa ela empreendera uma viagem por dois povoados na época da cidade de Barreiras, Baianópolis e Tabuas,

Porém , para isso era necessário a carona de um conhecido seu. Saltara em Baianópolis para falar com sua Irmã ,aproveitara para almoçar,pois já era meio dia, mas como era de costume, alimentação das pessoas era por demais pesada. Mas como quem depende de carona não pode se dá o luxo de fazer o dono do carro esperar, até porque o seu conhecido estava com muita pressa . O sol estava causticante, a buzina do carro não parava de tocar. Minha mãe tinha problemas de hipertensão , na correria para chegar até o carro e não perder a carona, começa a sentir –se mal. A viagem que era uma busca de um sonho, terminou em pesadelo. Sofre um derrame ou AVC.Passou uma semana na cama na casa alugada em que morávamos. Confesso que não entendia ao ver minha mãe estendida naquela cama com os olhos fechados. Finda semana, minha mãe falece.

Estava com oito anos, órfão de pai e mãe , um pai que nunca existiu,e de uma mãe que fora uma guerreira, contudo, mesmo os guerreiros tem seu fim.

Agora a questão era, com quem eu ficaria ? No centro urbano da cidade de Barreiras morava minha Irmã Belanisia, que tinha quatro filhos, eu seria o quinto , mas as condições econômicas eram desfavoráveis , alem disso seu esposo não queria me aceitar, além dos problemas mencionados, eu era uma criança geniosa, revoltada com minha condição de vida, não só social, mas principalmente pela questão de saúde. Eu andava com duas muletas entre as axilas , situação que causava em tempos problemas de infecção nas mesmas.

Meu problema físico nunca fora impedimento para topar brigas e sair rolando entre os meninos no chão medindo força e fúria na ânsia de descontar as provocações. Não me lembro quantas brigas ganhei ou quantas perdi.

Como foi dito, nosso contexto social era adverso , de muita carência. Nossa merenda da tarde era farinha com açúcar , onde eu abocanhava com minhas mãos com bastante gula. Lembro-me ainda hoje, essa lembrança é muito difícil de colocar aqui por escrito, mas vou tentar com muito sacrifício lembrar alguns detalhes desse dia que selou por completo a minha presença na família de minha irmã .

Estava degustando minha farinha com açúcar , quando um dos meus sobrinhos, Jackson passa correndo na minha frente e de brincadeira leva uma das mãos no prato em estava comendo, no mesmo pique se enveredou alguns metros de distancia ,só sei que quando ele se virou , eu na minha ira descontrolável arremessei uma pedra que tinha um diâmetro da minha Mão fechada. Infelizmente arremesso foi certeiro bem na testa, só vi em seguida o sangue espirrar da testa do meu sobrinho. Minhas lembranças desse episodio tornam-se nebulosos , só sei que juntou a vizinhança para socorrer meu sobrinho, lembro-me que passaram pó de café para estancar o sangue o sangue. A partir desse momento minhas lembranças se apagam. Não sei como resolveram para que eu não ficasse mais com minha irmã. Muitos anos se passaram e fiquei com esta culpa na consciência,preocupado com as conseqüências daquele ato insano e selvagem da minha parte. Depois de passado muitos anos depois, eu já adulto que meu sobrinho não ficara com nenhuma seqüela ,apenas com uma pequena cicatriz na testa.

Minhas lembranças dá um corte abrupto.Me vejo viajando para Brasília com minha prima Cincinha, que achava que poderia reverter meu problema da poliomielite . Passei por vários hospitais da capital do país e as respostas eram sempre negativas. O quadro era irrevessivel .Não me lembro quantos dias passei no Distrito Federal, mas deu para conhecer a televisão preto e branco. Como esse aparelho era um artigo de luxo, como não tínhamos televisão, eu ia para janela das casas vizinhas no horário das 18 horas mais ou menos e Assistia as novelas que passavam nesse horário . Na oportunidade tive conhecimento da existência do cantor Roni Von , na época vendia-se copos em que tinha uma foto dele debaixo de um plástico,que quando se colocava água a foto dele ampliava,eu ficava encantado com tudo isso.

Minha prima tinha uma pessoa que se dizia feiticeiro, não sei ela ficou com ele por muito tempo temendo alguma feitiçaria ou porque gostava mesmo dele.

Volto para Barreiras , e como não tinha ninguém para ficar comigo ,me encaminham para um dos povoados de Barreiras, Tabuas , nesse referido povoado morava minha irmã por parte de mãe ,chamada Marionita ,irmã esta que não a conhecia, ao contrario da outra Irmã Belanisia,esta tinha condições econômicas .Nao sei precisar a dimensão do seu lastro financeiro. Tinha uma ou duas fazendas com uma grande quantidade de gados .Não tinha filhos devido a problemas com seu organismo. Não sei também precisar por quanto tempo fiquei com ela, no entanto, só sei que foram tempos dificílimos.Marionita só tinha olhos para o seu marido, era uma verdadeira adoração , ele só tinha olhos para os bens materiais dela. Marionita herdara seus bens do seu pai. Minha mãe teve cinco filhos, todos de pais diferentes.Hoje entendo que ela não se sentia na obrigação de cuidar de meio irmão desconhecido.

Lembro-me que acordavam-me de madrugada quando eles iam moer cana para fazer rapadura. Eu não entendia por que me acordavam tão cedo para ficar sentindo frio de madrugada em torno das quatro horas da manhã e sem nenhuma proteção, apenas com uma camisa fina e um calção. Meu corpo tremia, e eu sentado observando eles trabalharem

Com tempo conheci algumas pessoas onde preferia ficar na do que na casa de minha irmã.Uma vez almoçando na casa de uma dessas pessoas me engasguei com uma espinha de peixe, foi um deus nos acuda para que aquela situação se revertesse.

Certa feita estava o corpo cheio de forúncolos infeccionados, diante do quadro lastimável em me encontrava ,algumas pessoas se condoeram com meu estado de saúde ,levando-os a comprarem e aplicarem as injeções de penicilina. Enfim, foram situações essas que me levaram ao desespero de querer fugir daquele lugar que nunca deveria ter ido.

Aqui paro para refletir que existe em todos nós ,talvez uns com mais outros com menos, ai é claro, são suposições filosóficas, uma lei do Universo regendo cada um de nós. Abordo essa questão pelo simples fato de não entender, algo que está fora do meu alcance, situações que me ocorreram e que hoje refletindo, foi uma dádiva de Deus.

Estava eu sem rumo, abandonado sem proteção, ainda não sei como conseguir sobreviver a sobreviver a tudo aquilo, penso, melhor dizendo, como minha Irma se jogou, se doou ao um amor, paixão ou seja lá ou que se denominou aquele sentimento que a dominou de forma tão arrassadoura , que não deu a mínima para o seu meio irmão.Estava eu em desespero ,não sabia mais o que fazer ,contudo , mais do que de repente surge uma alma nobre em minha vida, uma pessoa chamada Ari,este era o nome dele,tinha em torno de trinta a quarenta anos. Confesso de onde ele era, se eu sabia não me lembro mais. Ele disse-me, vou lhe tirar daqui, vou lhe levar para Barreiras. Só sei que sai desse povoado se Marionita saber.

É por isso, que acredito nas forças do Universo.Não tem outra explicação. Fui dentro de uma carroceria de caminhão na maior alegria, estava me libertando de um pesadelo que parecia não ter fim.

Ao chegar em Barreiras,ele ou alguém me deixou na casa de meu padrinho Pedro Dourado e Anita Dourado.Nao sei quanto tempo passei na casa deles, só sei que teve um momento que já me preparava na rua para trabalhar como engraxate, pois precisava sobreviver.A lei do Universo ou Divina intervieram mais uma vez, meu irmão por parte de pai, Hildegardo Ayres da Silva, soube através dos meus padrinhos que eu estava abandonado em Barreiras, ele imediatamente mandou uma passagem de avião de Barreiras para Salvador.Nesse ínterim segundo soube depois, que familiares da esposa de meu irmão , Junia Nogueira Brandão Ayres, estavam contrários a minha ida, porque para os mesmos, eu era um menino com onze anos de idade e já cheio de vícios ruins , e que poderia trazer problemas aos quatro filhos do casal.

Realmente a minha chegada foi dificílima para mim,foi uma readaptação por demais dolorosa.

Lembro-me da minha primeira viagem e única de avião, eu perguntava a todo instante que horas o avião ia chegar em Salvador. Estava eu do lado da janela e só via nuvens, não entendia o que se passava em mim naquele momento,mas agora entendo que era uma angustia,não sabia e talvez procurava entender o que viria ocorrer-me , e era por demais desconhecido .

A principio não fui bem aceito pelas crianças, havia um clima de desconfiança entre eles. O tempo passou e uma nova vida apresentou para mim.Quando cheguei em Salvador em 1969, era mês de agosto ,em pleno domingo do dias dos pais.

Quando aqui cheguei, eu tinha problemas maiores de locomoção devido a minha paralisia infantil,assim tive que me submeter a quatro cirurgias para que eu pudesse andar sem o auxilio das muletas,pois antes elas me serviam de ponto de equilíbrio, mas para que isso acontecesse era preciso tirar a certidão de nascimento,pois eu só tinha o certificado de batismo.Meu irmão junto com minha cunhada resolveram fazer uma certidão me adotando como filho deles.Depois de tudo isso resolvido passei por quatro cirurgias, sendo tempos de mais sofrimentos para mim, pois foram oito meses de gesso da cintura para baixo deitado em uma cama.E que alivio eu sentir quando os mesmos (gesso) foram retirados

Mas a criança que ficou em mim não me abandona, era uma Manha de sol, minha mãe tinha saído para entregar uma roupa que lavara, eu sozinho em casa aproveitei e sair para rua, nisso passou um homem com uma pilha de dinheiro nas mãos enrolados com uma borrachinhas finas próprias para essa função. Essa cena que conto agora seria impensável nos dias de hoje. Ao ver tanto dinheiro nos braços daquela pessoa, não me contive, e dirigir-me ao home e disse-lhe: me dê uma esmola pelo Amor de Deus, ele é claro, me ignorou levando sua fortuna.

A nossa memória é seletiva , vê-me outro fleche bastante em minhas lembranças quando ainda tinha em torno de quatro para cinco anos, presenciei minha irmã apanhando do marido, confesso que não sei precisar aos olhos de uma criança uma cena de violência com sua Irma. Surge-me também fatos onde ela estar sentada na cama e ele deitado e com seu pé calçado com meias colocando o mesmo no seu nariz. Talvez inconscientemente começasse a conhecer a verdadeiramente o mundo que me aguardava,ou melhor dizendo,já estava por inteiro vivenciando o chamado mundo cão. Nelson Rodriques colocou a seguinte frase: se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros ninguém cumprimentaria ninguém ,eu refaço esta frase,se todos conhecessem o que se faz contra as mulheres entres quatro paredes não ninguém cumprimentaria essas pessoas e ficariam isoladas.

Passado os anos em Salvador, em 1972 , mais precisamente, passei por uma cirurgia na perna mais importante e mais seria ,onde os médicos aumentara alguns centímetros. Soube depois que só conseguir acordar da anestesia geral através de uma injeção, não sei tipo de substancia eles usaram. Sei que perdi muito sangue,pois tiveram que repor. É claro que não me recuperei do dano causado pela poliomielite ,ando com dificuldades,mas para o que era antes ,devo reconhecer que melhorei . Depois fiz mais três cirurgias ,contudo confesso, não sei se valeu meu sacrifício , mas como se diz quando somos crianças e adolescentes não nos governamos e não somos senhores de nossas vidas.

Os anos se passam,em casa com ajuda de minha cunhada e agora mãe também, e de meus novos irmãos ,aos poucos, vou reaprendendo a ler e escrever,havia tido quando criança alguma experiência na escola quando minha me colocara numa pequena escolinha ,na oficial, tinha o respaldo da prefeitura,não usava farda,desejo este me frustrou por muitos anos. Aos 17 anos de idade entrei no turno noturno no Colégio Luis Vianna Filho por intermédio do supletivo do primeiro grau,não tinha mais idade para freqüentar os turnos matutino ou vespertino.

Estou eu com 9 anos de idade,vejo as crianças iguais a mim indo com suas fardas colegiais ,fico desejo de estar entre elas , mas a vida para muitos é uma madrasta. Sei que muitos reclamavam de mim, não gostavam do que aquele menino xingava e as vezes jogava pedras em carros que passavam nas ruas, porém, o que mais movia aquela criança para esses atos era a revolta, uma rebeldia por se encontrar naquela situação. Aquela criança desejava possuir iguarias,brinquedos que não estava ao seu alcance .Contudo, mesmo diante da adversidade social ,um ensinamento que aprendi com minha mãe foi o caráter .o bom caráter ,algo que ela não abria Mão .Lembro-me que ela estava visitando uma amiga ,e , é claro levou-me junto, tinha eu uns sete anos de idade, aproveitando um vacilo da sua amiga que deixara a bolsa na mesa da sala, aproveitei o momento de distração delas e tirei certa quantia em dinheiro ,acho que para comprar doces. Não lembro como minha mãe e sua amiga perceberam, fui pego na rua pulando com minhas duas muletas todo alegre com aquele dinheiro que não me pertencia. Minha mãe puxou-me por um dos braços e levou-me para casa e tomei uma surra de cipó, surra essa que nunca mais esqueci. Confesso que mesmo com minha deficiência ,eu dava trabalho a minha mãe.

Aprendi desde cedo o quanto o ser humano tem de maldade dentro de si, minha mãe tinha um amigo que morava em Baianópolis , e ele estava nos visitando e hospedou em nossa casa alugada que acabávamos de mudar . A distração nossa naquela era ficar no batente da porta da rua quando chegava a noite onde ficávamos conversando .Ele era um negro de uma altura em torno de 1,45 , com uma idade de 50 anos mais ou menos.Convencionalmente pouco atrativo para a sociedade tão exigente pela estética , ainda mais em se tratando de um negro onde o racismo na nossa sociedade ainda é ocultado. Estávamos assim distraídos em nossas conversas e olhando o movimento da rua , quando vem correndo um rapaz correndo com uma idade de vinte e tantos anos , com uma altura em torno de 1,70 a 1,75 de cor branca, e na mesma velocidade ergue o braço e esbofeteia o rosto desse amigo.Foi um tremendo susto diante da violência em que esse ser humano fora vitima.

Pulo um pouco o tempo, estávamos eu e meu irmão Juvenal que quase não tínhamos oportunidade de conviver e com ele, não sei o que ele fazia para sobreviver.Contudo, em uma dessas oportunidades que estávamos eu,minha mãe e Juvenal e não me lembro se também minha Irmã Belanisia .Só sei que estava na hora do almoço, e só tínhamos um ovo com arroz,como eu era o caçula, deram-me a prioridade. Foram momentos difíceis em nossas vidas.Soube anos mais tarde que Juvenal era alcoólatra e morrera devido as conseqüências do álcool.

Anos se passaram eu conseguir tirar o supletivo do primeiro grau já com dezoito anos . Como na época não podia me matricular para o supletivo do segundo grau ,exigia-se que a pessoa tivesse 21 anos, dessa cursei o curso técnico de auxiliar de administração do segundo grau no mesmo colégio.

Em 1983 foi um ano inesquecível em minha vida, ano esse que prestei vestibular para UFBA (Universidade Federal da Bahia) e para UCSAL (Universidade Católica de Salvador), na primeira passei em Ciências Sociais e na segunda para Geografia . Optei pela primeira por ser pública, pois a Ucsal teria que ser paga.

Devo dizer que a Universidade deu-me régua e compasso já dizia Gilberto Gil em uma de suas músicas. Foi um verdadeiro encantamento, aprendizado e muita luta diante das minhas dificuldades do despreparo da aprendizagem na infância e na adolescência.

Em 1992 , finalmente um sonho realizado depois de muita luta, conseguir me formar.Em seguida no ano de 1993 conheci aquela que seria minha esposa em 1994. Tereza Cristina Santana di Ayres. Dando –me ela um casal de filhos que muito os amo.

Em 2000 prestei concurso publico para professor do estado da Bahia. Já são onze anos de trabalho como professor estadual, mas antes disso havia trabalhado em pequenas escolas particulares, e algumas de municípios como Dias D vila , Simões Filho e Entre Rios, município este que trabalhei pela prefeitura sete anos e oito meses.

Aqui estou , sei que poderia escrever muito mais sobre minha vida, no entanto, acho que por enquanto é o suficiente, na verdade, o que eu queria mesmo, era tirar algo que estava preso dentro de mim, a minha infância , infância essa que não tive oportunidade de aproveitar.

Na Universidade tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas que me ensinaram a me valorizar e entender que o mais importante é a nossa inteligência , e não um corpo com algum tipo de defeito. A escrita serve como uma terapia que não precisamos pagar , só precisamos do papel e caneta (no meu caso) para prestar atenção nas minhas lamurias, nas minhas incertezas diante de uma historia de vida que cada vez mais acredito que temos uma missão, uns com mais outros com menos para desempenhar papeis nesse teatro chamado vida. Com relação a mim , estou na ultima opção que me coube

Fico cada vez mais na incerteza da incerteza da tanta luta para chegarmos em que lugar?

inclemente
Enviado por inclemente em 24/02/2012
Código do texto: T3516487