A correria da infância

No condomínio onde eu morava um dia inteiro era pouco para tantas brincadeiras. Havia uma casinha de tecido onde servíamos o café da tarde em jogo de louça em miniatura com direito a suco e biscoitos de verdade.

Cuidávamos das bonecas como se elas fossem as crianças e as deixávamos de castigo sempre que achávamos necessário, corríamos pela quadra poliesportiva e tomávamos chupe-chupe à beira do campo de futebol.

Ao entardecer, fazíamos lamparinas colando velas acesas dentro de latas de chocolate em pó e saíamos a procurar alguma coisa que nem mesmos nós sabíamos o que era. E mesmo se soubéssemos, passava-se tanto tempo que acabávamos esquecendo daquilo que estávamos à procura.

Enfim, todos cansados voltavam para casa a fim de cessar os chamados das mães que clamavam por nós, berravam nossos nomes enquanto fazíamos de conta que não ouvíamos para não ter que cessar as brincadeiras.

Outra vez era hora de tomar banho, jantar e dormir pra poder esperar chegar o dia em que tudo recomeçaria. Aliás, sempre que nos dávamos conta já era hora de ir embora e esperar... Afff...

E, enquanto essa hora não chegava...

Lembro-me dos lençóis com estampas animadas, das cortinas fechadas, de muitas bonecas ao meu redor, do abajur aceso e de máscaras coloridas e brilhantes que me perseguiam sobrevoando todo lugar para onde eu corria.

Desesperada eu tentava me refugiar entre tantos carros que eu via. Mas nem assim era possível esconder-me... Para onde eu olhava, lá estavam aquelas figuras perturbadoras.

Recordo-me claramente da cama grande (comparada ao meu tamanho era realmente gigante) e acolhedora para onde eu me mudava em busca de conforto. Afinal, eu precisava acalentar meu coração. Lá eu ficaria segura... Era a minha única saída, fugir depressa de minha caminha sem deixar que o bicho papão puxasse meu pé pra debaixo dela, correr para o quarto de meus pais chegando lá em poucos passos e pular pra cama deles.

Quase sem fôlego, mas em segurança, lá eu estava à salvo e até hoje é assim. Mesmo que em pensamento, refugio-me dos pesadelos mais profundos no colo de meus pais. Não é fácil ser criança, mas não faço tanta questão de ser adulta o tempo todo...

JanaAlves
Enviado por JanaAlves em 20/02/2012
Reeditado em 21/02/2012
Código do texto: T3510388
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