Nonato Junior - Capítulo I - A infância
Da minha infância lembro-me o suficiente p´ra dizer que eu não era boa peça.
Era dengoso e tranquino.
Lembro-me uma vez, quando um certo primo me deu uma bisca com brincadeira, no mesmo instante abri o berrêro. Meu avô ouviu e veio correndo perguntando - O que houve? - So de mal chorei mais alto ainda, para ver o sofrimento de meu primo.
Minha turma sempre eram: Zé Duardo (Dudu), Lilica e Piragno. Nós nos apelidávamos de "A dupla dinâmica". Irônico, não?
Era com essa galera que vinham as aventuras. Quase todos os dias banhávamos escondidos no rio itapecuru, sem nossos pais saberem, claro! Pena que quando éramos pegos, a surra era certa.
Aproveitando o enfoque sobre a surra, meu avô por ser meio interiorano me surrava de maneiras variadas e ás vezes até mesmo extravagante, tipo assim: de corda, de cipó, de cabo de vassoura, de "mãozada" e de cinto, nem se fala. Eu já estava qüase entando no Guinness Book.
Uma certa feita eu levei umas lapadas de corda de nylon, estando eu de cabeça para baixo. Os pés juntos, seguros pela mão esquerda de meu avô. A direita você já sabe. Foi emocionante!
Os prejuízos que eu dava aos meus avós eram bastante vultosos. Existia uma casa coberta de palha atrás da casa de comércio e morada de todos. Todos as manhãs meu avô acordava todos com um "cascudo" no "mocotó" da perna e mandava todos fazerem alguma coisa. Tipo limpar o quintal, encher os potes, lavar as louças, fazer o café, lavar os banheiros, descarregar as mercadorias do comércio etc.. O certo é que todos os meus tios, primos e irmãos de criação que moravam na casa passavam por este ritual. Sim, mas voltando a casa de palha. Um certo dia fui comvocado para limpar o quintal. E eu, no meu entendimento, ajuntei o lixo do quintal dentro da casinha de sapê e ateei fogo naquele monte de lixo, com o intuito de não fazer fumaça para o restante do quintal e com isso incomodar meus pares.
O fogo foi tão forte e alto que pegou no teto da casa. Havia uma caixa dágua no padrão antigo de tijolo maciço. Uma espécie de tanque aéreo. Subi no mesmo com uma latinha de leite ninho vazia na mão para encher de água e jogar naquele fogaréu, após algumas tentativas vi que não surgia efeito. Então foi o jeito pegar um padaço de pau que estava por lá e, através da plataforma da "caixa" dágua pulei para a cobertura de palha que estava em chamas e com o meu cajado improvisado batia no fogo tentando apagar, mas era uma luta em vão.
Imaginem vocês que nessa altura do campeonato os vizinhos e curiosos da rua todos de olhos fitados naquela cena. Pensei em todas as surras que levei e só me restou tentar fugir para o esconderijo do rio. Tentei fugir pois o fogo já consumia tudo. É "vero" tentei mas minha tia, junto com minha bisavó agarraram-me até meu avô chegar do Tingidor.
Resumindo: apanhei do meu avô até ele cansar e fiquei de joelhos no milho o dia inteiro de braços abertos frente a uma parede de um velho banheiro. Sem falar que havia dezenas de velhinhas aposentadas do interior que diziam: tem que amarrar um mês no pé da cama, ou ainda, coloca numa prisão algemado com corrente.
Calma gente! Isso é só o começo.