Álvaro Vieira Pinto: depoimento de seu irmão Ernani Vieira Pinto

Carta de Ernani Vieira Pinto sobre seu irmão Álvaro Vieira Pinto

Itacuruçá, 3.4.92

Caro Sr. Acir

Em resposta a sua carta de 26 de março último, tenho a informar que recebendo o pedido do Professor Jefferson, imediatamente mandei uma foto do Álvaro e esposa, na Yoguslávia, pois não temos nenhuma que esteja só, e junto um artigo publicado no “Jornal do Brasil”.

Quanto ao questionário pedido de ordem biográfica, posso informar:

data de nascimento: 11-11-909

data de casamento: 12.6.964

data de conclusão do curso secundário – naquele tempo, pelos anos de 1925 ou 26, para se concluir os estudos iniciais, eram chamados “cursos preparatórios” em que o aluno para ter um diploma, deveria fazer exame das seguintes matérias: português, inglez, francez, e latim, aritmética, álgebra, geometria, trigonometria, - história universal, história natural, físico-química, história do Brasil.

O aluno como em todos podiam fazer num ano qualquer quantidade dessas matérias, bastando requerer no dim do ano, que desejava prestar tais e tais exames, só que isto era feito perante uma banca examinadora de alto nível, só passando quem realmente soubesse.

Assim tendo o certificado de todas essas matérias, o aluno podia requer o ingresso numa faculdade.

Esses preparatórios Álvaro os fez no Colégio S. Inácio, dos padres jesuitas no Rio de Janeiro, onde estudamos.

Data de partida para Yugoslávia – outubro de 1964

Data de partida para Chile – 1986

Data de retorno ao Brasil – 8-9-68

Ano de conclusão do curso de Medicina – 1932

Ano do início da pesquisa sobre câncer – 1932

Quanto as obras não publicadas nada sei a respeito, nem possuo outros artigos sobre Álvaro.

Quanto a pessoas que podem informar, tem o Prof. Darcy Ribeiro e o Dr. Francisco, médico de uma Casa de Saúde S. Lucas, que vou se faço contato a respeito e lhe mandarei o resultado.

Na próxima semana devo falar com nossa sobrinha, Mariza Urban, jornalista, que pode talvez me informar alguma novidade, por estar mais em contato com a esposa de Álvaro.

Em conversa com minha irmã Laura, hoje com 81 anos, me esclareceu que quando terminou a última grande guerra, em 1946, Álvaro foi convidado pelo Governo da França, e foi ser professor em Paris, na Sorbone o que foi aceito, sendo assim o primeiro brasileiro, honrado com esse convite.

Quanto ao exílio na Yugoslávia, foi convidado para ser professor na Faculdade de Split, uma praia do Adriático.

No Chile foi professor no Colégio dos Padres Jesuitas, trabalhando na ONU como tradutor de línguas.

Agora, meu caro Sr. Acir, eu que passei a vida tomando depoimentos no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e agora aos 80 anos, vou prestar o meu:

…...... Disse que:

eram 4 irmãos, sendo 3 homens e uma mulher; que só restam Ernani e Laura, que Álvaro desd pequeno tinha paixão pelos estudos, tanto que com 15 anos de idade, fez um laboratório de química dentro do quarto nos fundos de nosso terreno no Rio, e lá fazia reações químicas, com fumaças, que amedrontavam a família toda; que nossa mãe Arminda foi atacada pelo terrível mal do câncer, e Álvaro passou um ano ao lado de sua cama e quando ela faleceu, ele passou a pesquisar a origem da doença; que lembr-me que ele dizia que o câncer não é transmissível, nem hereditário; que quanto a vida dele no exílio, pouco eu sabia, pois passávamos muitos meses sem nos corresponder, tal a vida das grandes cidades, onde as pessoas pouco se visitam, e tão diferente do interior que tenho grandes lembranças de Ponta Grossa, onde estive várias vezes, bem como em Castro, Jaguariahyva e Tibagi, este último uma autêntica cidade do cinema americano, onde era extraído ouro e diamantes, porém isto já se vão 65 anos: que de Ponta Grossa, nosso pae, Carlos, era comerciante de madeiras e tinha aí nessa cidade um sócio de nome Mário Guimarães; que Mário Guimário Guimarães tinha dois filhos de nome Theodoro e Fausto, os quais vieram para o Rio de Janeiro, e moraram em nossa casa vários anos até se formarem, sendo um em Direito e outro na carreira militar até o posto de General; que também veio um rapaz do nome Heraldo Gomes, cujo pai era tabelião em Ponta Grossa; que estas as lembranças de uma vida passada e que parece que foi hontem.

Agora meu caro Sr. Acir me despeço, aguardando uma visita a cidade de Itacuruçá, no Estado do Rio de Janeiro, situada a beira mar, destante 2 horas do Rio, e com um movimento diário de 300 a 400 turistas por dia e onde apesar da minha idade dou assistência no combate a criminalidade, que não tem fim, e é o meu gosto no fim da vida que se aproxima.

Um grande abraço ao Prof. Jefferson e certo de que se tiver alguma novidade lhe enviarei.

Do amigo,

Ernani