NELSON WERNECK SODRÉ: História nova, história e marxismo no século XX
Rio, 05.05.94
Prezado Acir da Cruz Camargo,
saúde e paz. Acuso recebimento de sua carta de 02 de maio corrente, que passo a responder. Em primeiro lugar, meus agradecimentos pela sua lembrança do meu aniversário. Na verdade, velhos não comemoram aniversários, mas é sempre bom ser lembrado pelos amigos. Claro que, no âmbito da crise geral e da crise da cultura brasileira em particular, a da Universidade é natural. Nela, por isso mesmo, a História está sendo abandonada ou posta em segundo plano. E o marxismo, em consequência, como é próprio da época.
Como você, fiquei decepcionado com o depoimento do Pedro Figueira, na edição que o editor Giordano fez da História Nova. Creio que é um problema de esclerose e nada mais. As correntes pretensamente inovadoras, no campo da História e de seu ensino, correspondem à crise da época em que vivemos e à ofensiva da reação em todos os campos. Isso passa. Não deve preocupar os que se entregam ao estudo da História enquanto ciência e ao materialismo histórico, que a colocou nos devidos termos. Quem me iniciou no estudo da História foi o meu professor dessa matéria, no Colégio Militar do Rio de Janeiro, em 1926. Ele se chamava Isnard Dantas Barreto e foi um grande professor. A História do Brasil é uma parte da História abrangendo o tempo histórico e todo o espaço. Ela é uma ciência, sem a menor dúvida, aliás, a ciência das ciências, pois a todas é possível estudar pelo método histórico. Quando tirar retrato não me esquecerei de lhe enviar uma cópia.
Abraços do
Nelson Werneck Sodré
PS. - As suas cartas não me importunam. Ao contrário.