ANTES QUE A MEMÓRIA VÁ (04 – A SEPARAÇÃO)
A relação conjugal dos meus pais não durou por muito tempo. Sem a base afetiva que é a principal estrutura de qualquer relacionamento entre homem e mulher que decidam se relacionar como marido e esposa, meus pais aos enfrentarem os primeiros problemas de relacionamento, e não foram pequenos nem raros, se separaram. O meu pai continuou em Areia Branca, morando próximo à minha avó, e minha mãe se mudou para Macau, uma outra cidade/ilha, também produtora de sal. Foi na companhia de sua mãe, a minha avó materna. Meu irmão, Rômulo, ficou com o meu pai em Areia Branca. Eu junto com Bianor fomos com minha mãe.
Essa separação não teve nenhum impacto em minha psicologia, acredito. Não tenho nenhuma lembrança desse fato que aconteceu depois da espinha de peixe, depois que meu pai me trouxe uma revista. Claro, se eles tivessem condições de permanecerem unidos e com harmonia ao longo do tempo, nossa vida poderia ter sido mais fácil. Mas nunca reclamei disso, também não vi nem minha mãe nem minha avó fazerem qualquer referência negativa a esse fato. Era como se fosse uma coisa tão natural... não deu certo, tem que separar mesmo!
Em Macau a sobrevivência era difícil. Minha mãe que era prendada em fazer santos de gesso e, principalmente, doces, bolos e outras delícias, logo estava produzindo com o auxílio de um forno à lenha seus diversos produtos que entregava nas mercearias da redondeza. Mesmo assim era difícil garantir a sobrevivência dos dois filhos que trouxera consigo, e tal como aconteceu com o Rômulo que ficou morando com a avó paterna, D. Matilde, ela permitiu que eu fosse morar com minha avó materna, D. Silvina. As duas avós tinham mais condições do que ela de garantir melhor vida para os seus filhos. Ficou apenas com o filho caçula, o Bianor.