Eu
Sou viciada em sonhos. Podia ser viciada em tabaco, vinho, sexo, trabalho, etc., mas não. Sou viciada em sonhos. Dormir é bom. Para quem tem insónias, dormir é o que há de melhor e para quem tem insónias, adormece mal, tem sono leve e é viciado em sonhos, dormir é um objectivo de vida. Quando for grande quero dormir e enquanto não for grande, quero também dormir. Quero dormir e ter um sonho qualquer, bom ou mau - para mim não há pesadelos. Não conheço paisagens mais belas do que as dos meus sonhos. De dia, acordada, suportando o dia, os outros, a fealdade, a mediocridade de tudo sou, por vezes, assaltada por uma qualquer imagem de um sonho que tive e é indescritível o que sinto, por vezes até tonturas. São as melhores partes do dia, aquelas em que os meus sonhos me visitam.
Ontem acordei com a cabeça cheia de imagens do meu sonho - o despertador tocou - estava tudo vivo e nítido. Deixei-me ficar e prolonguei tudo o mais que pude. Estava com um homem real. Não me importo de ir buscar pessoas reais, mas prefiro as que eu própria invento. Sonhei que estava com esse homem real a comprar bolos - que prosaico - para depois irmos para o mar, aquele mar que fica lá no fundo, encolhido numa ponta na Figueira da Foz. Esquinas, casas vagamente, um ângulo, o mar, o areal, entra-se no mar e encontra-se a areia, continua-se à procura do mar, que está por toda a parte, quer-se sentir a água fria, mas à medida que se entra no mar, sente-se cada vez mais a areia. Esta noite - 11 de Agosto de 1999, dia do eclipse - gostaria de ter um dos meus sonhos de comboios. Gostaria de ir à cidade X ou à cidade Y ou àquela outra cidade dos prédios vagos cheios de janelas alegres e brilhantes, uma cidade que se dilata, que está inundade de sol embora chova. É uma cidade que me faz sentir bem.