Se soubesse o que digo;
sabería eu do meu próprio conto, mas
sobrou um pouco de música, eram violinos e trombetas que gritavam lá no alto do horizonte.
Sobrevoei em tempos, toda a neve, sobrevivi o frio, não saí nunca da toca.
Lá fora esvoam máquinas cinzentas, cheias de ódio e bombas, matam tudo o que se mexe.
Ficamos na toca, no fundo das rochas.
Deixa tudo lá dentro, cuidado que as portas fecham, se perfuras a superficíe.
Se desmontam e montam burados, se perfura até 7 milhões de anos, e nada acontece.
Ainda a música.
Sobrou nada, neste momento, apenas tiros, Perfurações melancólicas.
Sabes o que são pensamentos? Quando descorrem no planeta preto?
Sabes o que perfura a mente, são também buracos que se colam, são idéias sem nexo, coisas do fundo, memórias, como óleo, pegando todos os poros.
Saí.
Alucinada sem perceber o que vem, porque a máquina parou derepente, foram lágrimas azuis, congeladas, indetermináveis, salgadas. Álguém se cortou...
Bem vi, o que se passou, ficaram todos sangrando, e ele, te matou.
Nasceram alguns depois de nós, e tudo volta ao mesmo, o frio, 6 meses de nada, sem nada, com nada, nada se ouve.
Pensando como sería se tudo sobrevivesse ao tempo, ao tempo em que os pássaros cantávam, e o vento sobrava e as folhas caíam ,na água...
Que conto°? De que falo?
Conto o que poderá ter existido no dia da minha morte, da morte de um poema que deixou de se escrever porque não tive essa sorte.
Existe existe, mesmo que não o vejas ou sintas, o son de uma orquesta, que ainda me delicía.
Levanto uma lanterna de luz amarela, percorro todos os montes, me guio e revivo a história dos meninos que brincam e formam bonecos em neve, dos pastores que se escondem, das vindimas, dos Lobos.
Montei-me então na outra máquina, voei com outros pensamentos, longínquos e deixei-me levar, por um outro violino que me dé porte.
Se soubesse o que digo não te escrevería, nem dizia, não te contava nenhum conto, me calaría.
[Percebes°]